segunda-feira, 13 de julho de 2015

TESTANDO O EU

Procure algo que você controla completamente
Essa coisa é o eu
O corpo, segundo sua vontade, você movimenta, fala, treina
Mas não controla seu envelhecimento, nascimento, sua forma, doenças, dores...
Ele não é um eu
Sua mente certamente você controla algo, pensamentos, lembranças, aprendizados...
Mas não controla todos os sentimentos, sensações, percepções, desejos...
Não lembra tudo que quer, nem aprende tudo que quer
Nem sequer controla todos os pensamentos, imaginações, emoções...
Nem consegue parar de pensar
Ela não é um eu
Sua consciência certamente você pode controlar
Estar consciente, dirigir a atenção, a hora de dormir...
Mas você não consegue estar consciente todo o tempo nem do mesmo modo
Nem do mesmo objeto, nem do que não está ao alcance dos sentidos
Nem consegue controlar todo o conteúdo da consciência
Não pode expulsar certas lembranças, imagens, sensações...
Não consegue ficar sempre acordado, nem ficar totalmente consciente quando está sonhando
Alguma hora sua consciência falha, você dorme, apaga, fica inconsciente
E a consciência sequer capta tudo a que você dirige a atenção
Ela não é um eu
Mas algo em você dirige tudo isso
Sim, sua vontade está quase sempre sob controle, ela expressa você mesmo
Mas nem todas as suas vontades são voluntarias e escolhidas, há condicionamentos
Há condições e limites à vontade, você não pode sempre ”vontadear” à vontade
Nem controlar toda a vontade, querer e desejo o tempo todo sobre qualquer coisa que queira
Nem por um tempo curto, nem sobre um mesmo objeto por um tempo longo
Não consegue sequer manter a vontade de estar concentrado em algo longo tempo
Ela não é um eu
Agora faça o mesmo teste com qualquer parte de si mesmo
Qualquer parte da mente ou do corpo ou subparte
Ou com a consciência ou partes da consciência ou da vontade ou das emoções
Até ver que não há um eu em lugar algum

Antes eu pensava que a vontade era um eu
Pois ela aparentemente está sempre sob controle
Mas muitas vezes ela quis algo prejudicial para mim
Muitas vezes ela quis coisas que eu não quereria
E muitas vezes não consegui pará-la
Muitas vezes ela não parava de me perturbar
Houveram muitas situações onde ela foi inconveniente
Ou mesmo contrária ao que eu queria
Então qual o verdadeiro querer?
E quem realmente quer em nós?
Ou somos escravos do nosso querer?
Não conseguimos parar nossa vontade por uma hora
Nem mantê-la quieta e concentrada em um objeto por uma hora
Nem meia hora, nem dez minutos,
Sente e tente, medite e verá
Se quisermos parar tudo por dez minutos
Pensamento, mente, vontade, desejos, emoções, sensações...

Antes ainda pensei ser a consciência o verdadeiro eu
Mas então vi que nunca havia olhado para a consciência
Mas apenas para seus objetos, seu conteúdo
E ela sempre visava algo, sempre havia algum objeto
E quando não havia objeto eu estava inconsciente
Mas que eu? Quem era eu aquele intervalo de tempo
Não havia coisa alguma, eu apagava num piscar de olhos
E quando acordava tinham passa dez, quinze, vinte minutos, meia hora
Mas depois meditando, limpando e limpando, afastando tudo
Desapegado de tudo, sem aversão, não querendo nada nem coisa alguma
A consciência voltou-se sobre si mesma
Vazia e brilhante, sem conteúdo
Apenas consciente de si mesma
Então pensei “esta consciência é o que sou (?)”
E esse pensamento e dúvida rompeu todo o processo
Então percebi essa consciência pura, vazia, clara não é um eu
Por mais prazerosa ou maravilhosa que seja
Ela não está sob meu controle, ela depende de causas e condições
E ela é vazia, pronta para receber qualquer objeto, pensamento, sensação
Portanto ela é igual para todos os seres
O que difere são apenas as experiências acumuladas
Sempre mudando, sempre fora do controle total
Então somos todos o mesmo, a mesma coisa, sempre
Qualquer consciência que venha a surgir difere apenas em suas experiência
Em sua perspectiva mutável e fugaz, surgindo e mergulhando num mar de esquecimento
Não há nenhum eu constante e imutável em nenhuma dessas experiências
Nem conseguimos parar de ter experiências,
Nem a inconsciência trás conforto ou benefício algum
Pelo contrário, ela tem um gosto de morte, de perda, de tempo perdido, de supressão...

Depois eu fui para muito longe no espaço
Nas bordas distantes, aparentemente vazias, do universo
E de longe eu o vi pulsando e volvendo, em torno de si mesmo
E quando eu estava voltando eu vi que não havia corpo
Meu corpo era todo o universo
Meus olho eram os de todos os seres
Não estou dizendo que essa experiência me mostrou a realidade
Mas pude entender que somos tudo o mesmo um
E ao mesmo tempo somos múltiplos
E ao mesmo tempo não somos
Sempre em eternas voltas e voltas
Partículas de sucessivos universos
Um depois do outro e simultaneamente pulsando
Uma partícula do todo
Aquela que olha para o todo
E não podemos parar isso

Temos que treinar muito se quisermos “parar tudo” por dez minutos, vinte, cinquenta...
Pensamentos, desejos, a mente, o corpo, vontades
Mas só quando “paramos” um tempo é que vemos a realidade
Que não há nada sob nosso controle
Não há um eu em coisa alguma
Vermos a verdadeira natureza de tudo
Então um dia veremos a verdadeira pureza intata
Aquilo que não depende de condições ou de visões
Aquilo que é o que é
Imexível
Verdadeira
Imutável

Incondicionada

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