quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

AVISO

Em breve este blog será extinto. Quero pedir a todos que seguem e ou que gostam desse blog que passem a seguir o amigosdobudismoemsergipe.blogspot.com.br que será o local nosso onde continuaremos nossas publicações. Espero lá contar a vocês o motivo disso...

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

do livro ainda sendo escrito

contentamento
contentamento pode ter vários significados
de que tudo no mundo está como realmente deve estar
então há um contentamento
e que o contente está como realmente deve estar
há o egoísmo
que algo particular em si mesmo ou no mundo ao seu redor o contenta
há o contentamente egocêntrico das coisas externas ou internas ou ambas
que descobriu-se o seu lugar no mundo e o seu papel e está bem feito
há o contentamento funcional ou utilitarista
que as coisas estão sempre melhorando mesmo e tudo terminará bem no final
há o contentamento comodista esperançoso
que o contente está lutando pelo seu lugar ou por um mundo melhor
há o contentamento do caracol ou da formiginha
que tudo está bem mesmo em meio ao kaos
e eu nem saberia dizer que tipo de contentamento seria este
enfim há vários tipos de contentamento e mais várias ainda as motivções
contentamento é apenas uma estupidez

mas há um contentamento verdadeiro
aquele que não depende de causa
aqule que não se baseia em um por quê
aquele que é livre de uma coisa ou situação ou pessoa
aquele que não depende de absolutamente coisa alguma
aqule que simplesmente é porque é contentamento
há o contentamento
onde ele está?
contentamento é apenas contentamento
e isto é contentamento





sem mais
mês algum
eu era
ué, e não?!
ia aos trancos
ai, como doeu!
há um lugar ao contrário
ah! uma esperança!








agora não é o mestre

um mestre zen nunca está contente
um mestre zen nunca está absorto
um mestre zen nunca está meditando
é absurdo

um mestre zen é absurdo
procure um mestre e nesse instante já estará perdido
só existe um mestre de verdade e só pode existir um mestre
não podem existir dois mestres
não podem existir dois budas

e você está perdido agora
mas agora está aqui
agora o encontrou
e agora não lhe diz o que tem que fazer
mas você encontrou o agora?






bastãozadas circulares

existe o mal
em sua mente existe o mal
tirar o mal da mente é fugir do mal
não dianta tirar o mal do mundo
se ele continuar na sua mente

é preciso destruir o mal
é preciso destruir a mente
é preciso destruir o mundo
é preciso destruir você

então o verdadeiro bem aparece
a verdadeira mente transparece
o mundo verdadeiro acontece
e o verdadeiro eu comparece
quando isto é realizado aquilo é destruído





CKRISTOAN

Cristo estava longe
subindo a ladeira
lá bem longe
na montanha azul

então eu corri e vi
Cristo virar sorrir
então não resisti
e desapareci

então caminhei com ele
e subindo a montanha
seus pés eram os meus
e seus passos eram os meus
então estava sorrindo no topo






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surfando kammas

POR QUE EU VOU RETER?
NÃO PODEREI PRODUZIR MUITO MAIS?
VOU DAR DE PRESENTE
MAIS UM INSTANTE FUGAZ
DE LEITURA PERTINENTE

SÃO OS SIGNIFICADOS
NOTE QUE LEU SIGNOS AO CERTO
E ENTENDEU IMAGENS E IDEIAS
NADA DISSO É CONCRETO
NEM NADA FEITO DE MATÉRIAS

NÃO HÁ O QUE SEGURAR
AS MATÉRIAS ESTÃO SE DESFAZENDO
AS IDEIAS MESMAS TAMBÉM FUGAZES
O TODO SE DISSOLVENDO
E UM VENDO UM FLUXO SEM BASES

QUAL É A SALVAÇÃO NESSE RIO CAUDALOSO?
QUE SE SAIBA A ONDA QUE É MAR E QUE SURFE NELA






sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Zen é uma Religião?

YAMADA Ryôun
Extraido do "Opening Comments" of Kyôshô (Sanbô-Zen's official magazine) 347, 2011 
Traduzido do japonês por CUSUMANO com assistência de  SATO Migaku e do inglês por Tony Gonzaga
O Zen não é uma religião. Esta é uma posição que mantive de forma contínua. Dizer que o Zen não é uma religião é dizer que o Caminho do Buda [butsudo] não é uma religião. No entanto, os conceitos religiosos invariavelmente estão entrelaçados com palavras como o Zen ou o Caminho de Buda. A maioria das pessoas não tem nenhum problema com a afirmação de que o Zen não é uma religião, mas acho que há muitos que têm algum problema com a afirmação de que o Buda não é uma religião. Por que o zen não é uma religião? Por que o Caminho do Buddha não é uma religião? Ao esclarecer essas questões ao mesmo tempo, eu gostaria de considerar a questão de por que os conceitos religiosos estão entrelaçados com os termos Zen e Caminho do Buda. Para apresentar essa discussão, devemos começar com a questão do que é uma religião. Mas é dito que as definições de religião são tantas quanto há especialistas nesse campo. Aqui, para os meus propósitos, utilizarei a definição dada no Kojien (um dos doutrinários padrão para a língua japonesa no Japão), que parece ser representativa. De acordo com o Kojien: "Religião significa atividades e fé em um deus ou algum tipo de ser sagrado, que é diferenciado de outros seres mundanos. E também se refere às estruturas relacionadas." Em outras palavras, fundamental para estabelecer a religião é reconhecer um ser que transcende o poder da natureza e dos seres humanos. E a partir disso pode-se dizer que a religião envolve fé nesse ser transcendente e atividades baseadas nessa fé.
Mas então, o que é Zen? Como sempre digo, o Zen é experimentar o verdadeiro eu e o esforço para personalizar esse verdadeiro eu que foi encontrado. Em termos simples, o Zen é a busca e o esclarecimento do verdadeiro eu. Não é exagero dizer que isso é o Zen na sua totalidade. O objetivo do Zen é, em última análise, o eu e nada mais exceto o eu. Deve ficar claro, então, que a religião, que começa pelo reconhecimento de um ser transcendente que transcende o eu e o Zen são entidades totalmente diferentes.
Mas e quanto ao Caminho de Buddha? Como escrevi na edição anterior, Buda e o caminho do Buda são formas de nomear o verdadeiro eu que foi descoberto. O verdadeiro eu que foi encontrado é realmente um com tudo o que é. O eu e todo o universo são originalmente um ser. Para diferenciar esse eu verdadeiro que foi encontrado do anterior, as palavras Buddha e Caminho do Buddha são usadas. Por todos os meios, quero que cada um de vocês não se esqueça de que Buda é outro nome para você mesmo.
Se alguém quer chegar ao ponto de distinguir Buda eCaminho de  Buda, pode-se dizer que Buda se refere ao verdadeiro eu e Caminho de Buda se refere às funções desse verdadeiro eu. No entanto, cada uma dessas expressões é nada além de uma descrição do verdadeiro eu. 
Mas por que os termos "Zen", "Buda", "Caminho do Buda" estão associados ao pensamento comum com a religião ou uma parte da religião? Eu acho que é porque o eu verdadeiro que foi encontrado, o eu real, está bem distante do eu ilusório que foi visto como o self até então. O fato de que todo o universo, tudo o que é e o eu são exatamente um e o mesmo, é algo muito distante do que alguém pensou sobre o self até então. Pois, aqueles que não encontraram o verdadeiro eu - essa é a maior parte de toda a humanidade - não podem conceber essa experiência de outra maneira senão a do self como uma espécie de ser completamente transcendente. E assim isso entraria no reino da religião.
E a principal razão pela qual o Caminho do Buda está sendo confundido com a religião é que aqueles que deveriam ser responsáveis ​​pela divulgação do verdadeiro Caminho do Buda - que são os monges dos templos e a grande maioria dos responsáveis ​​pelos templos - olham Buda como um ser transcendente e pregam aos outros para ter fé no Buda.
Em conclusão, o que separa aqueles que consideram o Zen ou o Caminho do Buda como uma religião, ou como algo livre de religião, é a presença, ou ausência, de uma clara descoberta experimental do verdadeiro eu. Pode-se dizer que ser livre de religião significa passar da fé à busca e descoberta da verdade da existência e ao processo em que o Zen e as ciências naturais se aproximam cada vez mais. Nesse sentido, a missão do Sanbô-Zen é des-religiosar o Zen.
As palavras de Koun Roshi expressam isso perfeitamente. "Os cristãos que fazem Zazen podem se tornar melhores cristãos. Os muçulmanos podem se tornar melhores muçulmanos".


Aviso

Em breve este blog será extinto. Quero pedir a todos que seguem e ou que gostam desse blog que passem a seguir o amigosdobudismoemsergipe.blogspot.com.br que será o local nosso onde continuaremos nossas publicações. 
Espero lá contar a vocês o motivo disso que será na verdade a unificação dos dois inclusive com a re-publicação dos artigos deste que estão corretos e devem nos interessar.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A origem das duas Principais Escolas de Chan

A origem das duas Principais Escolas de Chan
O Sexto Patriarca Chan, Hui Neng, notando que um monge certo jovem gastava todo seu tempo livre sentado sozinho na sala de meditação, se aproximou dele e perguntou porque ele estava tão zeloso em sua prática. 
- Porque eu quero me tornar um Buda. Respondeu o monge. 
- Você pode fazer um espelho polindo uma pedra, mais cedo do que você pode fazer um Buda sentado em uma almofada. Disse Hui Neng.

Durante os anos de guerra entre províncias e da tirania do império Qin o Taoísmo continuou a florescer nas montanhas idílicas do Sul da China. As exigências espirituais da religião, no entanto, dificilmente poderiam ser satisfeitas pelas multidões que não vinham buscando a salvação eterna, mas sim um o refúgio contra as coisas mundanas. Como acontece normalmente com adeptos com fé não consolidada, procuraram atalhos. "Circular sêmen na corrente sanguínea" não é uma prática que se aprende entre terças-feiras sucessivas, nem entre os meses de terças-feiras sucessivas. A busca de soluções para problemas amorosos, produtos afrodisíacos, elixires de longevidade, e agentes químicos para desenvolver o Feto Imortal tornaram-se, na mente popular, uma grande obsessão. Assim fórmulas químicas logo começaram a substituir as frases voluptuosas de Lao Zi e Zhuang Zi e todo mundo queria se tornar um Imortal de forma instantânea.

Para ter controle sobre esta situação "caótica" o Imperador poderia facilmente ter seguido os Taoístas nas montanhas e acabado com eles. Mas ele não o fez. Em vez disso ele trouxe muitos adeptos para a sua corte e forneceu-lhes com as últimas tecnologias para o desenvolvimento do "Elixir Divino". Não querendo perder seu tempo com tolos ou neófitos, ele testou os adeptos. De acordo com a peculiar história, cada candidato era obrigado a inserir seu pênis em um copo de vinho e depois de levar a bebida até em sua bexiga. Assim os homens foram separados dos garotos.

Que os mestres realmente submeteram-se à este teste e como permaneceram tentando inventar o "Elixir Sagrado" da imortalidade, nos diz algo sobre os rumos que o Taoísmo estava tomando na época.

A metalurgia e a química taoísta, entretanto, haviam progredido o suficiente para produzir tais surpreendentes resultados "mágicos" o suficientes para induzir otimismo selvagem naqueles que queriam a imortalidade. Sem qualquer compreensão das leis da natureza, as pessoas realmente acreditavam que era possível uma efusão, e até mesto uma fonte da juventude. O Imperador havia tolerado o Taoísmo somente porque ele pretendia utilizá-lo para atingir a imortalidade.

Ele chegou a um fim curioso. Ele tinha um sonho no qual ele lutava contra um makara - uma criatura anfíbia associada ao Chakra Svadhisthana. O sonho o inspirou a participar do assassinato de uma baleia ou algum animal marinho de grande porte. Por razões que ninguém entendia, ele imediatamente ficou doente e morreu em poucas semanas após este sonho.

Uma rebelião camponesa rapidamente derrubou o que restava da dinastia Qin, e uma nova família assumiria o Império, os Han, (206 a.C. - 220 d.C.). A vida chinesa voltou ao normal, e na atmosfera mais relaxada, a pressão foi retirada dos ashrams taoístas. Assim, a vida monástica taoísta retornou à sua maneira pura.

Foi então, durante o império Han, que o budismo fez a sua entrada na China. Trilhou pelo norte, através da Rota da Seda transasiática e ao sul através das portas do mar, particularmente em Guangzhou (Cantão). A nova doutrina espiritual encontrou duas recepções totalmente diferentes.

Nas cidades do norte como todo o "poder e conhecimento", a classe dominante Confucionista, tendo reafirmado seu domínio político após a derrubada da dinastia Qin, rejeitou com altivez patrícia as várias escrituras budistas que foram lentamente sendo divulgadas. Eles consideraram os novos ensinamentos nada mais do que uma coleção de bárbaras superstições e de caráter antitético dentro de suas crenças sofisticadas.

No sul, onde as pessoas já eram bárbaras, as escrituras foram saudadas como uma variação agradável sobre temas da filosofia taoísta.

O Confucionismo do norte pregava as virtudes da identidade coletiva, da necessidade de o indivíduo de subordinar seus interesses aos da sua família e do clã. Um homem servia aos membros passados e presentes de sua família que, por sua vez, serviam a ele. Haviam responsabilidades e compensações coletivas. Em tal sistema as noções budistas da autossuficiência eram decididamente subversivas. Segundo o Confucionismo, nem mesmo o Filho do Céu funcionava como um indivíduo.

Partindo de qualquer ponto de vista Confucionista, a nova religião era censurável. Intelectuais, cujos estudos eram financiados pela família, consideravam o modelo do Buddha alarmante. O pensamento de que um nobre educado iria abandonar seu direito de primogenitura a fim de peregrinar -- como um mendigo! -- buscando a salvação de forma independente era pior do que desprezível. Além disso, reencarnação e karma foram taxadas claramente como blasfêmias bizarras. Os espíritos ancestrais de um homem passavam por uma prestação de contas. Não havia a possibilidade de um espírito não reclamado vagar a espera para habitar novos corpos, e, graças a espíritos muito elevados, ninguém necessitava da miséria adicional ou da realização de favores que uma retribuição cármica oferecesse. Magistrados tremiam com a perspectiva de que o castigo de um homem pudesse receber o aguardasse em uma vida além desta. Eles zombavam da sugestão de que qualquer sofrimento que imposto a um réu é dado somente pelas suas ações sem a necessidade de um julgamento de outro mundo. Os senhores da guerra não encontraram qualquer mérito no código da não-violência, e proprietários de terras, cujas fortunas dependiam do suor dos servos, não apreciaram a visão de milhares de mendigos em êxtase vagando por suas propriedades. Todas essas reações eram previsíveis: para qualquer classe superior, uma sociedade sem classes tem pouco a recomendá-la.

No interior, nas cidades populosas do norte, onde os invernos era longos e intensos, aqueles que controlavam os celeiros controlavam os destinos tanto dos homens como dos deuses. O buddhismo não poderia ir muito longe por tanto tempo, pois a classe dominante se voltou contra ele.

Mas no sul rural, a comida era abundante durante todo o ano e os mercados não eram monopolizados. Salvação através do esforço individual, o não-sectarismo e divórcio já eram legitimados pelo taoismo. Embora a falta de recursos para a compra de armas e uma necessidade de ser autossuficientes levaram a criação das artes marciais taoístas / indianas, uma natureza não-violenta era ainda uma característica indispensável do homem do Tao, e reencarnação dificilmente poderia representar uma ameaça para qualquer homem que acreditava que poderia obter a imortalidade na vida presente. A mendicância não foi considerada como uma atividade apropriada, mas como os Taoístas não eram, por definição, aristocratas confucionistas, eram muito acostumados a trabalhar. Para praticar a humildade não precisavam mendigar. Além disso, no pouco povoado sul, a remota distância dos monastérios taoístas resolvia o problema; não havia muitas pessoas ao redor para quem pedir esmolas.

Mas, quando a dinastia Han caiu em 220 d.C. e os bárbaros do norte invadiram e tomaram o poder, a velha guarda de Confúcio se tornou um inimigo do novo estado. O sucesso espetacular do buddhismo nas terras de onde tinha emigrado não passou despercebido pela nova elite. O Buddhismo ortodoxo achara acolhimento imediato na corte imperial. Todos saudaram as toneladas de escrituras que estavam sendo transportados nos lombos de camelos, cavalos e peregrinos.

O Buddhismo havia entrado no norte da China através de uma rota comercial. Em paralelo com este comércio havia crescido continuamente e se fortalecido uma classe de comerciantes e artesãos urbanos que operava fora do sistema feudal e das sutilezas e privilégios do Confucionismo. Uma vez que os servos não formam mercados, propositadamente para que não deixem de servir, os comerciantes ficaram felizes em apoiar qualquer instituição que promovesse a liberdade social, aumentando assim o volume de clientes, e defenderam também maior tolerância nas penalidades para transgressões.

Quando as dinastias não Chinesas do norte converteram-se ao budismo trouxeram consigo este agrupamento de comerciantes ansiosos e um pequeno exército de teólogos budistas e, para a felicidade destes, rapidamente descobriu-se na diversidade e inconsistência destas montanhas de escrituras importadas, um tesouro, um buraco de glória, uma matriz para a argumentação.

Várias escrituras surgiram como favoritos entre o clero norte: o Vinaya (normas que regem a vida monástica), que os abonava de serviços prestados ao império como impostos e serviço militar além da lei civil; o Sutra de Lótus, uma exposição da verdade Mahayana e o Lankavatara, sutra da doutrina da consciência. Mas tradução das escrituras canônicas não foi fácil. A língua estrangeira era mais filosoficamente sutil do que a língua nativa. Intérpretes locais desesperados tentaram aprisionar as levezas de nuance do sânscrito nas jaulas da prática chinesa. Suas representações eram muitas vezes deturpadas, desagradáveis e difíceis de compreender.

Estudiosos do Sul, por outro lado, tiveram algumas facilidades. Através de conversas informais sobre yoga, os conceitos metafísicos indianos já estavam incorporadas metafísica do Taoísmo.

Estudiosos do Norte, aderindo às tradições herdadas de cultura confucionista com uma atmosfera fria e cheia de formalidades, entravam em suas bibliotecas teorizando e questionando por horas a fio. Monges do Sul, independentemente se pobres ou não, não utilizavam o tempo em discussões. Eles buscaram a salvação através da atenção centrada no trabalho (Karma Yoga), através da meditação disciplinada ou através de renúncia, o método indiano de se retirar para "a floresta".

Além disso, o budismo do Norte nasceu entre política e em meio à grande população. Quando os governantes se converteram, as massas se converteram. Organização era necessária para gerenciar números, e o Budismo ortodoxo melhor funcionava como um veículo coletivo para a salvação ou pelo menos como meio para clérigos e leigos para controlar a multidão. O Budismo do Norte, então, viu a salvação em estudos das escrituras e no mérito adquirido pelo bom trabalho prestado aos templos, santuários, estátuas e tal. O Budismo do Sul foi e continuou sendo um veículo para uma viagem espiritual mais relaxada e solitária.

Logo depois de ter abraçado a nova religião, a classe dominante do Norte tinha novos motivos para lamentar ter esbanjando tanto afeto sobre ela. De acordo com as regras budistas, os mosteiros eram livres de impostos e os monges estavam isentos de qualquer atividade que pudesse, mesmo que remotamente, ser considerada como trabalho. Além disso, a angariação de fundos não era visto como trabalho e, em consideração à repulsa dos nativos por mendigos, sugeriu-se a solicitação gentil de doações em dinheiro ao invés de mendicância de alimentos. O dinheiro que poderia ter sido gasto em atividades seculares foi vertido em cofres budistas. Os monges, ao que parece, ofereceram muito em troca pelas as doações que receberam. Além de ser elogiados publicamente por sua generosidade, os homens que queriam reencarnar em boa situação poderiam comprar seu caminho para esse objetivo através de realização de atos meritórios, ou seja, dar terra e dinheiro para as sanghas budistas. O poder de compra do clero em geral superou o das autoridades civis. Portanto, sem ter que contribuir com a sua moeda para os custos do governo ou seus corpos para a defesa nacional, a sangha tornou-se uma pomposa comunidade de homens e mulheres corpulentos, literalmente, já que a maioria na época não eram vegetarianos. Dentro de algumas centenas anos, milhares de mosteiros budistas, recheados com dezenas de milhares de monges e monjas, que cobriam centenas de milhares de acres, apareceram em toda a China. No tempo que Bodhidharma chegou à China, o país podia se gabar, ou se desesperar, pelos seus cerca de 30 mil mosteiros habitados por aproximadamente dois milhões monges e monjas.

Como mosteiros e santuários competiram uns com os outros na opulência, fortunas em metais foram investidas em estátuas e objetos religiosos. Os templos possuíam dimensões palacianas e os sacerdotes e sacerdotisas que os habitavam eram e vestidos de maneira a fazer com que se sentissem em casa em tal ambiente luxuoso. Uma vez que sujar as mãos era proibido, precisavam de alguém para fazer os trabalhos. Mesmo uma alma simples poderia supor que a escravidão viola os preceitos budistas, mas milhares de escravos para os templos foram adquiridos ou recebidos como doações.

Para o desgosto dos comerciantes, mosteiros budistas se tornaram centros de serviços bancários, montepios, marketing e adivinhação. Para desespero dos reis e ministros de tesouraria, mais e mais riquezas, embora sob seus narizes, estava fora de seu alcance. E assim, sempre que mosteiros budistas se tornavam gananciosos ou eram obviamente construídos e administrados por famílias ricas para fins que não tinha nada a ver com a religião, os limites da tolerância oficial eram cruzados. Periodicamente terras e propriedades budistas eram confiscadas e consequentemente o contingente da Sangha diminuiu consideravelmente. Por fim, os sacerdotes que restaram foram forçados a tolerar acomodações mais simples sob condições espartanas. O menu sacerdotal foi drasticamente revisto: pratos de carne, simples ou extravagantes, foram permanentemente retirado do cardápio.

Enquanto centros monásticos eram ocasionalmente perseguidos, nas vilas o budismo prosperava. Seitas locais fizeram o que as seitas locais têm de fazer para sobreviver: eles adotaram deidades, cerimônias próprias e trocaram a veracidade das escrituras pelos pronunciamentos de adivinhos e os encantamentos de magos e curandeiros. Os templos eram o foco de cultura das aldeias, e as pessoas não costumavam vir a ele a fim de trabalhar, física ou mentalmente, para a realização da sabedoria. A maioria vinha pelas fofocas, risadas, curas, simpatias, comidas, excitação, e para obter o seu futuro previsto. A maioria veio, em suma, para se divertir.

Além da crítica de centros monásticos oficiais, no norte do Budismo também encontrou a oposição do seu rival em crescimento, o Taoísmo.

A Dinastia Han, que sucedeu a dinastia Qin, deliberadamente se recusou a renovar o seu flerte com o Taoísmo, que havia feito com que o Taoísmo ficasse livre da "Velha Guarda" quando a dinastia Han foi derrubada pela invasão dos bárbaros do norte, em 220 dC.

Com o confucionismo efetivamente marginalizado, budistas e taoístas prosperaram. Havia devotos de três tipos: os espiritualistas, que buscavam o isolamento monástico; os acadêmicos que preferiam as diversões mais sofisticadas da vida urbana e os fiéis das aldeias que se encantavam com a magia, superstições e os benefícios duvidosos da ciência médica e adivinhação.

Uma vez que apenas os filósofos taoístas tinha sido capazes de obter qualquer tipo de domínio sobre a nova metafísica budista, traduções dos sutras eram cada vez mais expressas nas terminologias taoístas, um fato que os intelectuais budistas do norte acharam degradante. Em vez de completar o processo de mistura e desenvolver um híbrido chinês (como fez o Chan do Sul), buscaram purificar a linhagem budista, instituindo um projeto maciço de reescrita. O Budismo ortodoxo não descansou enquanto não construíram um cânone novo, que não havia sido "contaminado" pelo Taoísmo. Infelizmente, o seu desejo de pureza não se estendia às escrituras tântricas budistas, e estas últimas obras imediatamente se tornaram de domínio popular.

A afronta aos filósofos taoístas dificilmente poderia abafar as críticas taoístas à extravagância budista. Taoístas adicionaram, com prazer, as suas vozes ao coro de autoridades civis que clamavam para uma ação contra a falta de disciplina budista.

Em meio à esta massa confusa de teorias e práticas surge uma nova variante: uma síntese budista / taoísta chamada Chan.

Por volta do ano 519 d.C., o príncipe ariano Bodhidharma estava tão desgostoso com a anarquia das escrituras que ele decidiu deixar a Índia (ou Irã, ninguém está realmente certo) para navegar rumo à China para ensinar um novo regime espiritual que estava abeçoadamente "fora do escrituras".

Um sacerdote com habilidades formidáveis para atingir estados profundos de samadhi, mas sem muita disposição ao diálogo, Bodhidharma chegou em Guangzhou (Cantão) como o cavaleiro branco de Lohengrin1: os chineses descrevem-no como sendo transportado por um cisne. Em Guangzhou, onde desembarcou, ou des-cisnou, há nos monastérios murais comemorando sua chegada. Dada a sua barba de ouro-castanho encaracolado e olhos cor de água, assim os chineses deram-lhe a alcunha de "O bárbaro de olhos azuis".

Como diz a lenda, Bodhidharma foi para o norte e se apresentou ao imperador Wu da dinastia Liang, que, sendo um budista dedicado, tinha promovido a causa de sua religião através da construção de muitos templos e mosteiros. O registro de seu diálogo breve se tornaria o núcleo da crença Chan.

Wu: -Eu tenho realizado muitas boas obras. Quanto mérito tem que ganhei para o meu ingresso no Nirvana?
Bodhidharma: -Nenhum.
Wu: -Qual, então, como um budista, deveria ter sido o meu objetivo?
Bodhidharma:- Para estar vazio de si mesmo.
Wu: -Quem você pensa que é?
Bodhidharma: -Eu não tenho ideia.
Neste diálogo surpreendente, aprendemos que não há tal coisa como ação meritória ou não-meritória (o bem e o mal são ficções no mundo do fantasma do ego), que o não-Ego é o objetivo da prática budista, e que a natureza de Buda não pode ser apreendida intelectualmente. Para ser iluminado em Chan deve-se experimentar a iluminação.

Por nove anos, Bodhidharma ficou no Monastério Shao Lin, silenciosamente absorvido no universo que se desenrolava na superfície plana de uma parede branca.

Embora ele pudesse ver o infinito em um grão de cálcio, ele não podia ver a inveja e o ressentimento que ele estava causando no Trono Imperial e nos assentos do poder budista. Quem aprovaria um sacerdote que não gosta de debater os sutras? Ou um aristocrata que vivia mais humildemente do que um camponês? Isto era subversão, pura e simples! Sem intelectualidade e um pouco de luxo, o que há de religioso nisto? O bárbaro que estudava uma parede deveria ser vigiado.

Bodhidharma persistiu na tentativa de ensinar sem palavras. Um estudioso chamado Huiko aproximou-se dele várias vezes, pedindo instruções. Mas o Bárbaro de Olhos Azuis o ignorava, até que, em um esforço para demonstrar sua sinceridade e para chamar a atenção do professor, Huiko cortou seu próprio braço, assim o diz a lenda. Ele queria ver o que Bodhidharma viu na parede branca, e, finalmente, ele conseguiu. Com a sua visão da realidade aperfeiçoada, Huiko passou a viver entre os pobres. Sua visão da ilusão não foi tão bem aceita. Sacerdotes e burocratas com ciúmes já estavam planejando sua execução.

Quando Bodhidharma deixou a China e Huiko herdou o manto "patriarcal", o estudioso humilde foi responsabilizado por todos os excessos do budismo tântrico.

História Chan está compreensivelmente confusa neste período triste. O manto de Bodhidharma passou sucessivamente das mãos de Huiko para as mãos de três homens sobre os quais pouco se sabe. Usando seus nomes de estilo antigo romanizado, eles são Seng Ts'an, Tao Hsin, e Hung Jen.

O Terceiro Patriarca Seng Ts'an, diz-se, sofria de lepra. Quando Huiko foi preso e morto, Seng Ts'an passou a viver nas montanhas, mesmo leproso não podia se arriscar cair nas mãos dos reformadores.

Seng Ts'an foi sucedido por Tao Hsin que é mais lembrado como o homem que realmente iniciou o movimento monástico Chan. Com ele os monges deixaram de ser nômades e passaram a ser autossuficientes. Entre a meditação e o trabalho monástico ganhavam a iluminação e evitavam a perseguição. O Quarto Patriarca Tao Hsin foi sucedido por Hung Jen, que não dava atenção ao Sutra de Lótus e o Sutra Lankavatara e dedicava-se ao Prajna Paramita Sutra, o Sutra do Diamante. Hung Jen, inadvertidamente, fez do Chan o que ele é hoje.

Hung Jen tinha se tornado Quinto Patriarca Chan e assim como a Dinastia Tang foi inaugurando Idade de Ouro da China. Foi durante este período do século 7 que três personagens em especial, iriam definir o rumo que o budismo iria seguir na China: Hui Neng, o Sexto Patriarca de acordo com o Chan do Sul; Shen Xiu, Sexto Patriarca de acordo o Chan do Norte, e a temível imperatriz Wu da dinastia Tang.

Para os devotos, Wu estava em uma classe a parte (que mulher!). A Imperatriz, governando nos anos de 690 a 705 d. C., poderia reivindicar para si o título de "Defensora Mais Fervorosa do Budismo". Na verdade, ela ofereceu-se não só como um exemplo de piedade, mas como uma reencarnação real de Guan Yin. O Budismo Ortodoxo do Norte não sobreviveria à Sua Graça.

[1] Ópera alemã do Século XIX em que um cavaleio surje em um barco puxado por cisnes.

O Sétimo Mundo do Buddhismo Chan 
Capítulo 4: A orgiem das duas Principais Escolas de Chan, Página 1 de 2
 http://xuyun.zatma.org/Portuguese/Dharma/Literature/7thWorld/c4p1.html

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A Posição Fundamental do Sanbô-Zen

Por YAMADA Kôun Roshi - Traduzido do inglês por Tony Gonzaga
A posição fundamental do Sanbô-Zen é permanecer no ponto de origem do budismo através do Portal do Dharma de Dôgen Zenji.
O "ponto de origem do budismo" significa Shakyamuni, especialmente sua própria experiência de iluminação. Após um longo período de treinamento ascético, Shakyamuni estava confiante de que a verdadeira iluminação não era um produto do ascetismo; então, ele se nutriu através de refeições adequadas e depois sentou-se debaixo de uma árvore, que mais tarde se tornou conhecida como a árvore Bodhi. Em 8 de dezembro, ao vislumbrar a estrela da manhã cintilante, ele de repente alcançou uma grande e completa iluminação. Esta experiência de grande realização de Shakyamuni é o ponto de origem do Caminho Budista.
O objetivo da nossa prática é seguir os passos de Shakyamuni através da prática de zazen correta e realizar nossa verdadeira natureza, que é infinita e absoluta; além disso, pretendemos erradicar nosso apego à iluminação como tal e continuar fazendo inúmeros esforços para que nosso verdadeiro eu se manifeste em nossa personalidade e em nossa vida diária. Isto é o que se entende por "o portão do Dharma de Dôgen Zenji".
Através desta prática real, podemos alcançar a verdadeira e máxima paz mental e chegar a promover espontaneamente uma profunda aspiração-de-bodhisattva de compartilhar essa alegria com todos os outros seres, enquanto constantemente envolvidos nas grandes atividades de purificação deste mundo e de todo esse universo. No Caminho do Zen, transmitido através dos Budas e antepassados ​​no passado, o modo de atualizar esse grande objetivo é tradicionalmente estabelecido em uma maneira concreta e distinta - isso é zazen. O objetivo final do Sanbô-Zen é contribuir com a realização de uma paz verdadeira e eterna entre todas as pessoas através desta prática real do zazen.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

zen cristão e cristão zen

ZEN CRISTÃO

todos os caminhos são iguais, dizem
todos levam ao mesmo lugar
não é verdade
onde duas paralelas se encontram no infinito?
só no nosso ponto de vista limitado
na verdade duas paralelas nunca se encontram
não seriam paralelas se isto ocorresse
todos os caminhos são iguais, é verdade
como paralelas que nunca se encontram
todos os caminhos são iguais
mas só um salva

todos os caminhos convergem ao mesmo centro, dizem
como os raios de uma roda apontam todos para o eixo
é verdade, mas observe que nem um raio toca o eixo
ao final, cada um se insere num ponto diferente
só há um caminho para o eixo: o próprio eixo
os raios jamais levarão ao eixo
quando a roda gira tudo que está nos raios se fasta do centro e cai

todos os caminhos paralelos só podem ser atravessados numa diagonal
ou numa perpendicular que conduza ao único caminho certo
todos os caminhos convergentes são uma perda de tempo
porque a força do giro da roda está na verdade afastando você do centro
como procurar o eixo através do raio? o eixo é o eixo, se chega ao eixo pelo eixo




CRISTÃO ZEN

os raios convergentes nunca tocam o eixo
só há um caminho para o eixo: o próprio eixo
só se chega à verdade através da vedade
só se chega à verdade pela verdade
só se chega a Deus por Deus




[SER OBJETIVO]

ser alguma coisa é o nobre objetivo apontado
ser alguém é tido como grande objetivo
ser é na verdade escravidão
o ser escravisa tanto ou mais até que o ter
quem suporta largar o que é?
quem quer largar o que se tornou?
depois de tanto esforço, depois de tanto estudo
depois de tanto sofrimento, depois de tanta luta
quem vai despresar o si mesmo e negá-lo depois de tanto sacrifício?
perdeu seu tempo, perdeu sua vida, a cadeia do ser o prendeu
melhor não ser, melhor ser nada, melhor nada cultivar
melhor seria apenas assistir
o jogo do ter e do ser em que nosso corpo e mente ficaram enredados
não há mal em ter, nem há mal em ser, mas há mal em agarrar
há mal em ansiar, há mal em ser dominado por
ora buscando um, ora buscando outro
o ser perdeu a si mesmo
quando se quis agrarrar
ser isto ou aquilo é negar isto e aquilo
se tornar uma coisa é negar ser outras tantas
não tem saída, nem escolhas
muitas opções são apresentadas
e você se prende a algumas delas
não a outras, você só tem as escolhas que lhe são oferecidas
não há liberdade não tem saída
a não ser não ser
largar isso essa obseção de ser
ser é lixo
não ser é não agarrar
é não estar preso
negar o si mesmo é salvar a si mesmo
perder a si mesmo é ganhar a vida eterna
ser é nada
não ser é liberdade





[NÃO SER OBJETIVO]

NÃO há nada a ser vindo
NÃO há nada a ser tornado
NÃO há nada a ser esquecido
NÃO há nada a ser buscado
NÃO há nada a ser banido
NÃO há nada a ser provado
NÃO há nada a ser alcançado
NÃO há nada a ser
NÃO há nada
Só há tudo
Só há o que há




ENTÃO

eu quis escapar
eu quis ser alguma coisa
eu quis alguma coisa já
ué, não é para escapar?
ué, não é para ser?
então eu quis

mas acontece que o ser é tão pesado quanto o ter
acontece o que rótulo nesse caso só atrapalha o conteúdo
acontece que ser só atrapalha tudo
são assim as coisas que acontecem
mas elas são como acontecem

eu aconteci
mas eu larguei o fardo
ué, não era pra largar?
eu desisti
são assim os seres que acontecem
acontece que sou livre