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Introdução
O tipo de pesquisa sobre os efeitos da meditação
que tem despertado maior interesse na comunidade científica diz respeito aos efeitos
duradouros na anatomia cerebral.
Os estudos têm documentado uma espécie de
"silêncio" profundo que afeta o cérebro inteiro. Quando isso ocorre,
os circuitos do lobo frontal e temporal - que controlam o tempo e criam a
auto-consciência - aparentemente são desligados. A conexão mente-corpo se
dissolve. Esses estudos nos mostram que o sistema límbico é responsável pela
atribuição de valores emocionais a pessoas, lugares, tudo na nossa experiência
de vida. Visto que o sistema límbico, entre outras coisas, regula o relaxamento
e, no final das contas controla o sistema nervoso autônomo, a freqüência
cardíaca, a pressão arterial e o metabolismo, ele produz ambos os efeitos
emocionais e fisiológicos quando reagimos a um determinado objeto, pessoa ou
lugar. É por isso que os cabelos "ficam em pé", a pele fica
"arrepiada", o estômago "dá voltas" e o coração "bate
mais rápido."
Como a meditação afeta o sistema límbico, o
desenvolvimento dessa disciplina permite que a pessoa possa ter controle
volitivo sobre essas respostas. A prática tem um efeito calmante que faz com
que as pessoas relaxem e fiquem mais equilibradas sob o ponto de vista
fisiológico. Isto, por sua vez, permite desenvolver um foco mais coerente,
visto que há menos distração com o diálogo interior e com as emoções, além das
respostas fisiológicas. E isso literalmente muda o cérebro.
A prática da meditação da atenção plena,
(vipassana), durante oito semanas modifica a estrutura do cérebro.
A participação num programa de meditação da atenção
plena com duração de oito semanas parece resultar em mudanças mensuráveis nas
regiões do cérebro associadas com a memória, noção de identidade, empatia e
estresse. Num estudo publicado na edição de 30 de Janeiro de 2001 na Psychiatry
Research: Neuroimaging, uma equipe liderada por pesquisadores do Massachusetts
General Hospital (MGH), descrevem os resultados do estudo feito, o primeiro a
documentar modificações, devido à meditação, produzidas ao longo do tempo na
massa cinzenta do cérebro.
"Embora a prática de meditação esteja
associada com um sentimento de paz e relaxamento físico, os praticantes há
muito tempo têm afirmado que a meditação também proporciona benefícios
cognitivos e psicológicos que persistem ao longo do dia," diz Sara Lazar,
PhD, do MGH Psychiatric Neuroimaging Research Program, a autora sênior do
estudo. "Este estudo demonstra que mudanças na estrutura do cérebro podem
dar suporte a algumas dessas melhorias que foram relatadas e que as pessoas não
se sentem melhor simplesmente porque estão passando algum tempo
relaxando."
Estudos anteriores feitos pela equipe da Dra. Lazar
e outros observaram diferenças estruturais entre os cérebros de meditadores
experientes e indivíduos sem histórico de meditação, verificando o espessamento
do córtex cerebral nas áreas associadas com a atenção e a integração emocional.
Mas essas investigações não puderam documentar que essas diferenças tenham na
verdade sido produzidas pela meditação.
No presente estudo, imagens de Ressonância
Magnética (RM) dos 16 participantes no estudo foram feitas duas semanas antes
que eles tomassem parte durante 8 semanas no Programa para Redução de Estresse
com base na Atenção Plena do Centro para Atenção Plena da Universidade de Massachusetts,
(Mindfulness-Based Stress Reduction Program (MBSR) da University of
Massachusetts Center for Mindfulness). Além das reuniões semanais que incluíam
a prática da meditação da atenção plena - dirigir a atenção desprovida de
julgamento para as sensações e estados mentais - os participantes receberam
gravações de áudio para a prática guiada da meditação e foram solicitados a
manter o registro de quanto tempo meditavam a cada dia. Também foram tomadas
imagens de RM do cérebro de um grupo de controle de não meditadores durante o
mesmo intervalo de tempo.
Os participantes no grupo dos meditadores relataram
em média praticar a meditação durante 27 minutos por dia e as suas respostas a
um teste sobre a atenção indicaram melhoras significativas comparadas com o
resultado antes do estudo. A análise das imagens de RM, que focaram nas áreas
em que diferenças associadas à meditação foram observadas em estudos
anteriores, encontraram aumento na densidade da massa cinzenta no hipocampo,
que é sabido ser importante para o aprendizado e memória e nas estruturas
associadas com a noção de identidade, compaixão e introspecção. A redução no
nível de estresse relatada pelos participantes foi correlacionada com a redução
na densidade da massa cinzenta na amígdala, que é sabido desempenhar um
importante papel na ansiedade e estresse. Embora nenhuma mudança tenha sido
observada na estrutura associada à noção de identidade denominada insula, que
havia sido identificada em estudos anteriores, os autores sugeriram que a prática
da meditação por um período de tempo mais longo pode ser necessária para
produzir mudanças nessa área. Nenhuma dessas alterações foi observada no grupo
de controle, indicando que não foi uma mudança devido à mera passagem do tempo.
"É fascinante observar a plasticidade do
cérebro e que praticando a meditação podemos desempenhar um papel ativo na
transformação do cérebro e que podemos aumentar o nosso bem-estar e qualidade
de vida," disse Britta Hölzel, PhD, uma das autoras do estudo e
pesquisadora no MGH e na Giessen University na Alemanha. "Outros estudos
em diferentes grupos de pacientes demonstraram que a meditação pode resultar em
melhorias significativas numa variedade de sintomas e agora estamos
investigando os mecanismos subjacentes no cérebro que facilitam essa
mudança."
Amishi Jha, PhD, um cientista neurológico na
Universidade de Miami que investiga os efeitos do treinamento da atenção plena
em indivíduos em situações de estresse intensas, diz, "Esses resultados
elucidam os mecanismos do treinamento baseado na atenção plena. Eles demonstram
que não somente a experiência de estresse de uma pessoa pode ser reduzida com
um programa de treinamento da atenção plena de oito semanas mas que essa
mudança experimentada corresponde a mudanças estruturais na amígdala, uma
descoberta que abre as portas para muitas outras oportunidades de investigação
do potencial de MBSR para proteger contra distúrbios originados do estresse
como por exemplo o distúrbio do estresse pós traumático (PTSD - Post-Traumatic
Stress Disorder). Jha não foi um dos pesquisadores no estudo.
James Carmody, PhD, do Center for Mindfulness na
University of Massachusetts Medical School, é um dos co-autores do estudo que
teve o apoio do National Institutes of Health, da British Broadcasting Company,
e do Mind and Life Institute.
Fonte e mais informações:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21071182
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21071182
Experiência na meditação está associada ao aumento
da espessura cortical.
Dando seguimento ao estudo pubicado em 2001, relatado
acima, a Dra. Sara W. Lazar liderou um novo estudo em 2005, cujos resultados
foram resumidos da seguinte forma:
Pesquisas anteriores indicam que a prática da
meditação a longo prazo está associada à alteração dos padrões de
eletroencefalograma em descanso, sugestivos de alterações duradouras na
atividade cerebral. Nossa hipótese foi que a prática da meditação pode também
estar associada a mudanças na estrutura física do cérebro. A ressonância
magnética foi utilizada para avaliar a espessura cortical em 20 participantes
com vasta experiência na meditação de Insight (Vipassana), que envolve a
atenção focada nas experiências internas. As regiões do cérebro associadas com
a atenção, interocepção e processamento sensorial eram mais espessas nos
meditadores do que no grupo de controle, incluindo o córtex pré-frontal e a
ínsula anterior direita. Entre os grupos as diferenças na espessura cortical
pré-frontal foram mais pronunciadas nos participantes mais velhos, o que sugere
que a meditação pode compensar o afinamento cortical relacionado com o
envelhecimento. Finalmente, a espessura das duas regiões estavam
correlacionadas com a experiência na meditação. Esses dados fornecem a primeira
evidência estrutural para a plasticidade cortical dependente da experiência na
prática da meditação.
Fonte e mais Informações:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1361002/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1361002/
Em 2009, no Center for Functionally Integrative
Neuroscience na Universidade de Aarhus da Dinamarca, Peter Vestergaard-Pulsen
liderou uma equipe procurando explorar os efeitos da meditação a longo prazo na
estrutura do cérebro. Eles relataram:
"Usando imagens de ressonância magnética,
observou-se maior densidade de massa cinzenta em regiões do tronco cerebral
inferior nos meditadores experientes em comparação com não meditadores dentro
do mesmo grupo etário. Nossos resultados mostram que os praticantes de
meditação experientes têm diferenças estruturais nas regiões do tronco cerebral
envolvidas com o controle cardiorrespiratório. Isso pode justificar alguns dos
efeitos e características cardiorrespiratórios parassimpáticos, bem como o
impacto cognitivo, emocional e imunoreativo relatado em vários estudos de
diferentes práticas de meditação."
Fonte e mais informações:
http://journals.lww.com/neuroreport/Abstract/2009/01280/Long_term_meditation_is_associated_with_increased.14.aspx
http://journals.lww.com/neuroreport/Abstract/2009/01280/Long_term_meditation_is_associated_with_increased.14.aspx
Também em 2009, uma equipe de pesquisa no
Laboratory of Neuro Imaging, no Departamento de Neurologia da UCLA School of
Medicine, relatou o seguinte:
"... A prática da meditação tem mostrado não
somente ser benéfica para as funções cognitivas de ordem superior, mas também
na alteração da atividade cerebral ... os meditadores mostraram um volume
significativamente maior do hipocampo direito. Ambas as regiões órbito-frontal
e hipocampo têm sido conectadas com a regulação emocional e controle das
reações. Assim, volumes maiores nessas regiões podem explicar as habilidades e
os hábitos singulares dos meditadores no cultivo de emoções positivas, na
manutenção da estabilidade emocional, e no comportamento atento e
consciente."
Fonte e mais informações:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053811909000044
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053811909000044
Pesquisadores americanos descobriram mais
evidências de que meditar fortalece o cérebro. Estudos anteriores feitos pela
Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, já haviam sugerido que
meditar durante anos torna o cérebro mais espesso e fortalece conexões entre
células cerebrais.
As novas pesquisas feitas pela mesma equipe
californiana revelaram ainda mais benefícios associados à prática. Os
resultados foram publicados pela revista Frontiers in Human Neuroscience em 29
de Fevereiro de 2012.
A cientista Eileen Luders e seus colegas do
Laboratory of Neuro Imaging da UCLA dizem ter encontrado indícios de que pessoas
que meditam durante muitos anos têm quantidades maiores de dobras no córtex
cerebral do que pessoas que não meditam. Isso poderia acelerar o processamento
de informações.
A equipe também encontrou uma relação direta entre
a quantidade de dobras e o número de anos durante os quais a pessoa meditou.
Isso pode talvez ser mais uma prova da neuroplasticidade do cérebro - a
habilidade do órgão de se alterar, ou se adaptar, em resposta a estímulos
externos.
Córtex
O córtex é a camada externa do cérebro e tem papel
fundamental na memória, atenção, pensamento e consciência. Os dobramentos
corticais são o processo pelo qual a superfície do cérebro se altera para criar
sulcos e dobras. Sua formação pode promover e melhorar os processos nervosos.
Presume-se, portanto, que quanto mais dobras se
formam, maior a capacidade do cérebro de processar informações, tomar decisões
e formar memórias. "Em vez de simplesmente comparar pessoas que meditam
com as que não meditam, queríamos ver se havia uma relação entre a quantidade
de prática da meditação e o grau de alteração do cérebro", disse Luders.
"Quer dizer, associar o número de anos de meditação com a incidência das
dobras".
Testes
Os pesquisadores fizeram exames de ressonância
magnética em 50 praticantes de meditação - 28 homens e 22 mulheres. Esse grupo
foi comparado a outro, de não praticantes, com idade e sexo equivalentes. Os
praticantes haviam meditado em média 20 anos. Os tipos de meditação eram
variados, entre eles a meditação Vipassana.
A equipe disse ter encontrado grandes diferenças na
incidência das dobras em participantes que praticavam meditação. Para os
pesquisadores, a revelação mais interessante foi a correlação positiva entre o
número de anos de meditação e a quantidade de dobras, especialmente em uma
estrutura do cérebro conhecida como ínsula.
Emoção e Cognição
Sabe-se que a ínsula está associada às emoções
humanas. E que lesões nessa estrutura podem resultar em apatia, perda de libido
e alterações na memória.
"Talvez (a descoberta) mais interessante tenha
sido a relação positiva entre o número de anos de meditação e a quantidade de
dobramentos insulares".
Embora ainda falta determinar as exatas implicações
funcionais dos maiores dobramentos corticais, estas descobertas sugerem que a
insula é uma estrutura chave no processo de meditação. Por exemplo, as
variações na complexidade da ínsula podem influenciar o controle das bem
conhecidas distrações no processo de meditação como por exemplo sonhar
acordado, distrações e projetar-se ao passado ou ao futuro.
Além disso, dado que os meditadores são conhecidos
como mestres em introspecção, atenção e controle emocional, a maior incidência
das dobras na ínsula refletem a integração dos processos autonomicos,
emocionais e cognitivos.
Luders adverte que fatores genéticos e ambientais
podem ter contribuído para os efeitos observados. Ainda assim, "a relação
positiva entre as dobras e o número de anos de prática dá suporte à ideia de
que a meditação aumenta a incidência das dobras".
Fonte e mais Informações:
http://www.frontiersin.org/human_neuroscience/10.3389/fnhum.2012.00034/abstract
http://www.frontiersin.org/human_neuroscience/10.3389/fnhum.2012.00034/abstract