segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Meditação da Atenção Plena e a Estrutura do Cérebro


publicado originalmente em acessoaoinsight.net
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Introdução

O tipo de pesquisa sobre os efeitos da meditação que tem despertado maior interesse na comunidade científica diz respeito aos efeitos duradouros na anatomia cerebral.

Os estudos têm documentado uma espécie de "silêncio" profundo que afeta o cérebro inteiro. Quando isso ocorre, os circuitos do lobo frontal e temporal - que controlam o tempo e criam a auto-consciência - aparentemente são desligados. A conexão mente-corpo se dissolve. Esses estudos nos mostram que o sistema límbico é responsável pela atribuição de valores emocionais a pessoas, lugares, tudo na nossa experiência de vida. Visto que o sistema límbico, entre outras coisas, regula o relaxamento e, no final das contas controla o sistema nervoso autônomo, a freqüência cardíaca, a pressão arterial e o metabolismo, ele produz ambos os efeitos emocionais e fisiológicos quando reagimos a um determinado objeto, pessoa ou lugar. É por isso que os cabelos "ficam em pé", a pele fica "arrepiada", o estômago "dá voltas" e o coração "bate mais rápido."

Como a meditação afeta o sistema límbico, o desenvolvimento dessa disciplina permite que a pessoa possa ter controle volitivo sobre essas respostas. A prática tem um efeito calmante que faz com que as pessoas relaxem e fiquem mais equilibradas sob o ponto de vista fisiológico. Isto, por sua vez, permite desenvolver um foco mais coerente, visto que há menos distração com o diálogo interior e com as emoções, além das respostas fisiológicas. E isso literalmente muda o cérebro.






A prática da meditação da atenção plena, (vipassana), durante oito semanas modifica a estrutura do cérebro.

A participação num programa de meditação da atenção plena com duração de oito semanas parece resultar em mudanças mensuráveis nas regiões do cérebro associadas com a memória, noção de identidade, empatia e estresse. Num estudo publicado na edição de 30 de Janeiro de 2001 na Psychiatry Research: Neuroimaging, uma equipe liderada por pesquisadores do Massachusetts General Hospital (MGH), descrevem os resultados do estudo feito, o primeiro a documentar modificações, devido à meditação, produzidas ao longo do tempo na massa cinzenta do cérebro.

"Embora a prática de meditação esteja associada com um sentimento de paz e relaxamento físico, os praticantes há muito tempo têm afirmado que a meditação também proporciona benefícios cognitivos e psicológicos que persistem ao longo do dia," diz Sara Lazar, PhD, do MGH Psychiatric Neuroimaging Research Program, a autora sênior do estudo. "Este estudo demonstra que mudanças na estrutura do cérebro podem dar suporte a algumas dessas melhorias que foram relatadas e que as pessoas não se sentem melhor simplesmente porque estão passando algum tempo relaxando."

Estudos anteriores feitos pela equipe da Dra. Lazar e outros observaram diferenças estruturais entre os cérebros de meditadores experientes e indivíduos sem histórico de meditação, verificando o espessamento do córtex cerebral nas áreas associadas com a atenção e a integração emocional. Mas essas investigações não puderam documentar que essas diferenças tenham na verdade sido produzidas pela meditação.

No presente estudo, imagens de Ressonância Magnética (RM) dos 16 participantes no estudo foram feitas duas semanas antes que eles tomassem parte durante 8 semanas no Programa para Redução de Estresse com base na Atenção Plena do Centro para Atenção Plena da Universidade de Massachusetts, (Mindfulness-Based Stress Reduction Program (MBSR) da University of Massachusetts Center for Mindfulness). Além das reuniões semanais que incluíam a prática da meditação da atenção plena - dirigir a atenção desprovida de julgamento para as sensações e estados mentais - os participantes receberam gravações de áudio para a prática guiada da meditação e foram solicitados a manter o registro de quanto tempo meditavam a cada dia. Também foram tomadas imagens de RM do cérebro de um grupo de controle de não meditadores durante o mesmo intervalo de tempo.

Os participantes no grupo dos meditadores relataram em média praticar a meditação durante 27 minutos por dia e as suas respostas a um teste sobre a atenção indicaram melhoras significativas comparadas com o resultado antes do estudo. A análise das imagens de RM, que focaram nas áreas em que diferenças associadas à meditação foram observadas em estudos anteriores, encontraram aumento na densidade da massa cinzenta no hipocampo, que é sabido ser importante para o aprendizado e memória e nas estruturas associadas com a noção de identidade, compaixão e introspecção. A redução no nível de estresse relatada pelos participantes foi correlacionada com a redução na densidade da massa cinzenta na amígdala, que é sabido desempenhar um importante papel na ansiedade e estresse. Embora nenhuma mudança tenha sido observada na estrutura associada à noção de identidade denominada insula, que havia sido identificada em estudos anteriores, os autores sugeriram que a prática da meditação por um período de tempo mais longo pode ser necessária para produzir mudanças nessa área. Nenhuma dessas alterações foi observada no grupo de controle, indicando que não foi uma mudança devido à mera passagem do tempo.

"É fascinante observar a plasticidade do cérebro e que praticando a meditação podemos desempenhar um papel ativo na transformação do cérebro e que podemos aumentar o nosso bem-estar e qualidade de vida," disse Britta Hölzel, PhD, uma das autoras do estudo e pesquisadora no MGH e na Giessen University na Alemanha. "Outros estudos em diferentes grupos de pacientes demonstraram que a meditação pode resultar em melhorias significativas numa variedade de sintomas e agora estamos investigando os mecanismos subjacentes no cérebro que facilitam essa mudança."

Amishi Jha, PhD, um cientista neurológico na Universidade de Miami que investiga os efeitos do treinamento da atenção plena em indivíduos em situações de estresse intensas, diz, "Esses resultados elucidam os mecanismos do treinamento baseado na atenção plena. Eles demonstram que não somente a experiência de estresse de uma pessoa pode ser reduzida com um programa de treinamento da atenção plena de oito semanas mas que essa mudança experimentada corresponde a mudanças estruturais na amígdala, uma descoberta que abre as portas para muitas outras oportunidades de investigação do potencial de MBSR para proteger contra distúrbios originados do estresse como por exemplo o distúrbio do estresse pós traumático (PTSD - Post-Traumatic Stress Disorder). Jha não foi um dos pesquisadores no estudo.

James Carmody, PhD, do Center for Mindfulness na University of Massachusetts Medical School, é um dos co-autores do estudo que teve o apoio do National Institutes of Health, da British Broadcasting Company, e do Mind and Life Institute.

Fonte e mais informações:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21071182






Experiência na meditação está associada ao aumento da espessura cortical.

Dando seguimento ao estudo pubicado em 2001, relatado acima, a Dra. Sara W. Lazar liderou um novo estudo em 2005, cujos resultados foram resumidos da seguinte forma:

Pesquisas anteriores indicam que a prática da meditação a longo prazo está associada à alteração dos padrões de eletroencefalograma em descanso, sugestivos de alterações duradouras na atividade cerebral. Nossa hipótese foi que a prática da meditação pode também estar associada a mudanças na estrutura física do cérebro. A ressonância magnética foi utilizada para avaliar a espessura cortical em 20 participantes com vasta experiência na meditação de Insight (Vipassana), que envolve a atenção focada nas experiências internas. As regiões do cérebro associadas com a atenção, interocepção e processamento sensorial eram mais espessas nos meditadores do que no grupo de controle, incluindo o córtex pré-frontal e a ínsula anterior direita. Entre os grupos as diferenças na espessura cortical pré-frontal foram mais pronunciadas nos participantes mais velhos, o que sugere que a meditação pode compensar o afinamento cortical relacionado com o envelhecimento. Finalmente, a espessura das duas regiões estavam correlacionadas com a experiência na meditação. Esses dados fornecem a primeira evidência estrutural para a plasticidade cortical dependente da experiência na prática da meditação.

Fonte e mais Informações:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1361002/






Em 2009, no Center for Functionally Integrative Neuroscience na Universidade de Aarhus da Dinamarca, Peter Vestergaard-Pulsen liderou uma equipe procurando explorar os efeitos da meditação a longo prazo na estrutura do cérebro. Eles relataram:

"Usando imagens de ressonância magnética, observou-se maior densidade de massa cinzenta em regiões do tronco cerebral inferior nos meditadores experientes em comparação com não meditadores dentro do mesmo grupo etário. Nossos resultados mostram que os praticantes de meditação experientes têm diferenças estruturais nas regiões do tronco cerebral envolvidas com o controle cardiorrespiratório. Isso pode justificar alguns dos efeitos e características cardiorrespiratórios parassimpáticos, bem como o impacto cognitivo, emocional e imunoreativo relatado em vários estudos de diferentes práticas de meditação."

Fonte e mais informações:
http://journals.lww.com/neuroreport/Abstract/2009/01280/Long_term_meditation_is_associated_with_increased.14.aspx






Também em 2009, uma equipe de pesquisa no Laboratory of Neuro Imaging, no Departamento de Neurologia da UCLA School of Medicine, relatou o seguinte:

"... A prática da meditação tem mostrado não somente ser benéfica para as funções cognitivas de ordem superior, mas também na alteração da atividade cerebral ... os meditadores mostraram um volume significativamente maior do hipocampo direito. Ambas as regiões órbito-frontal e hipocampo têm sido conectadas com a regulação emocional e controle das reações. Assim, volumes maiores nessas regiões podem explicar as habilidades e os hábitos singulares dos meditadores no cultivo de emoções positivas, na manutenção da estabilidade emocional, e no comportamento atento e consciente."

Fonte e mais informações:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053811909000044






Pesquisadores americanos descobriram mais evidências de que meditar fortalece o cérebro. Estudos anteriores feitos pela Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, já haviam sugerido que meditar durante anos torna o cérebro mais espesso e fortalece conexões entre células cerebrais.

As novas pesquisas feitas pela mesma equipe californiana revelaram ainda mais benefícios associados à prática. Os resultados foram publicados pela revista Frontiers in Human Neuroscience em 29 de Fevereiro de 2012.

A cientista Eileen Luders e seus colegas do Laboratory of Neuro Imaging da UCLA dizem ter encontrado indícios de que pessoas que meditam durante muitos anos têm quantidades maiores de dobras no córtex cerebral do que pessoas que não meditam. Isso poderia acelerar o processamento de informações.

A equipe também encontrou uma relação direta entre a quantidade de dobras e o número de anos durante os quais a pessoa meditou. Isso pode talvez ser mais uma prova da neuroplasticidade do cérebro - a habilidade do órgão de se alterar, ou se adaptar, em resposta a estímulos externos.

Córtex

O córtex é a camada externa do cérebro e tem papel fundamental na memória, atenção, pensamento e consciência. Os dobramentos corticais são o processo pelo qual a superfície do cérebro se altera para criar sulcos e dobras. Sua formação pode promover e melhorar os processos nervosos.

Presume-se, portanto, que quanto mais dobras se formam, maior a capacidade do cérebro de processar informações, tomar decisões e formar memórias. "Em vez de simplesmente comparar pessoas que meditam com as que não meditam, queríamos ver se havia uma relação entre a quantidade de prática da meditação e o grau de alteração do cérebro", disse Luders. "Quer dizer, associar o número de anos de meditação com a incidência das dobras".

Testes

Os pesquisadores fizeram exames de ressonância magnética em 50 praticantes de meditação - 28 homens e 22 mulheres. Esse grupo foi comparado a outro, de não praticantes, com idade e sexo equivalentes. Os praticantes haviam meditado em média 20 anos. Os tipos de meditação eram variados, entre eles a meditação Vipassana.

A equipe disse ter encontrado grandes diferenças na incidência das dobras em participantes que praticavam meditação. Para os pesquisadores, a revelação mais interessante foi a correlação positiva entre o número de anos de meditação e a quantidade de dobras, especialmente em uma estrutura do cérebro conhecida como ínsula.

Emoção e Cognição

Sabe-se que a ínsula está associada às emoções humanas. E que lesões nessa estrutura podem resultar em apatia, perda de libido e alterações na memória.

"Talvez (a descoberta) mais interessante tenha sido a relação positiva entre o número de anos de meditação e a quantidade de dobramentos insulares".

Embora ainda falta determinar as exatas implicações funcionais dos maiores dobramentos corticais, estas descobertas sugerem que a insula é uma estrutura chave no processo de meditação. Por exemplo, as variações na complexidade da ínsula podem influenciar o controle das bem conhecidas distrações no processo de meditação como por exemplo sonhar acordado, distrações e projetar-se ao passado ou ao futuro.

Além disso, dado que os meditadores são conhecidos como mestres em introspecção, atenção e controle emocional, a maior incidência das dobras na ínsula refletem a integração dos processos autonomicos, emocionais e cognitivos.

Luders adverte que fatores genéticos e ambientais podem ter contribuído para os efeitos observados. Ainda assim, "a relação positiva entre as dobras e o número de anos de prática dá suporte à ideia de que a meditação aumenta a incidência das dobras".

Fonte e mais Informações:
http://www.frontiersin.org/human_neuroscience/10.3389/fnhum.2012.00034/abstract