Procure algo
que você controla completamente
Essa coisa é
o eu
O corpo,
segundo sua vontade, você movimenta, fala, treina
Mas não
controla seu envelhecimento, nascimento, sua forma, doenças, dores...
Ele não é um
eu
Sua mente
certamente você controla algo, pensamentos, lembranças, aprendizados...
Mas não
controla todos os sentimentos, sensações, percepções, desejos...
Não lembra
tudo que quer, nem aprende tudo que quer
Nem sequer
controla todos os pensamentos, imaginações, emoções...
Nem consegue
parar de pensar
Ela não é um
eu
Sua
consciência certamente você pode controlar
Estar
consciente, dirigir a atenção, a hora de dormir...
Mas você não
consegue estar consciente todo o tempo nem do mesmo modo
Nem do mesmo
objeto, nem do que não está ao alcance dos sentidos
Nem consegue
controlar todo o conteúdo da consciência
Não pode
expulsar certas lembranças, imagens, sensações...
Não consegue
ficar sempre acordado, nem ficar totalmente consciente quando está sonhando
Alguma hora
sua consciência falha, você dorme, apaga, fica inconsciente
E a consciência
sequer capta tudo a que você dirige a atenção
Ela não é um
eu
Mas algo em
você dirige tudo isso
Sim, sua
vontade está quase sempre sob controle, ela expressa você mesmo
Mas nem
todas as suas vontades são voluntarias e escolhidas, há condicionamentos
Há condições
e limites à vontade, você não pode sempre ”vontadear” à vontade
Nem
controlar toda a vontade, querer e desejo o tempo todo sobre qualquer coisa que
queira
Nem por um
tempo curto, nem sobre um mesmo objeto por um tempo longo
Não consegue
sequer manter a vontade de estar concentrado em algo longo tempo
Ela não é um
eu
Agora faça o
mesmo teste com qualquer parte de si mesmo
Qualquer
parte da mente ou do corpo ou subparte
Ou com a
consciência ou partes da consciência ou da vontade ou das emoções
Até ver que
não há um eu em lugar algum
Antes eu
pensava que a vontade era um eu
Pois ela
aparentemente está sempre sob controle
Mas muitas
vezes ela quis algo prejudicial para mim
Muitas vezes
ela quis coisas que eu não quereria
E muitas
vezes não consegui pará-la
Muitas vezes
ela não parava de me perturbar
Houveram
muitas situações onde ela foi inconveniente
Ou mesmo
contrária ao que eu queria
Então qual o
verdadeiro querer?
E quem
realmente quer em nós?
Ou somos
escravos do nosso querer?
Não
conseguimos parar nossa vontade por uma hora
Nem mantê-la
quieta e concentrada em um objeto por uma hora
Nem meia
hora, nem dez minutos,
Sente e
tente, medite e verá
Se quisermos
parar tudo por dez minutos
Pensamento, mente,
vontade, desejos, emoções, sensações...
Antes ainda
pensei ser a consciência o verdadeiro eu
Mas então vi
que nunca havia olhado para a consciência
Mas apenas
para seus objetos, seu conteúdo
E ela sempre
visava algo, sempre havia algum objeto
E quando não
havia objeto eu estava inconsciente
Mas que eu?
Quem era eu aquele intervalo de tempo
Não havia
coisa alguma, eu apagava num piscar de olhos
E quando
acordava tinham passa dez, quinze, vinte minutos, meia hora
Mas depois
meditando, limpando e limpando, afastando tudo
Desapegado
de tudo, sem aversão, não querendo nada nem coisa alguma
A
consciência voltou-se sobre si mesma
Vazia e
brilhante, sem conteúdo
Apenas
consciente de si mesma
Então pensei
“esta consciência é o que sou (?)”
E esse
pensamento e dúvida rompeu todo o processo
Então
percebi essa consciência pura, vazia, clara não é um eu
Por mais
prazerosa ou maravilhosa que seja
Ela não está
sob meu controle, ela depende de causas e condições
E ela é
vazia, pronta para receber qualquer objeto, pensamento, sensação
Portanto ela
é igual para todos os seres
O que difere
são apenas as experiências acumuladas
Sempre
mudando, sempre fora do controle total
Então somos
todos o mesmo, a mesma coisa, sempre
Qualquer
consciência que venha a surgir difere apenas em suas experiência
Em sua
perspectiva mutável e fugaz, surgindo e mergulhando num mar de esquecimento
Não há
nenhum eu constante e imutável em nenhuma dessas experiências
Nem
conseguimos parar de ter experiências,
Nem a
inconsciência trás conforto ou benefício algum
Pelo
contrário, ela tem um gosto de morte, de perda, de tempo perdido, de
supressão...
Depois eu
fui para muito longe no espaço
Nas bordas
distantes, aparentemente vazias, do universo
E de longe
eu o vi pulsando e volvendo, em torno de si mesmo
E quando eu
estava voltando eu vi que não havia corpo
Meu corpo
era todo o universo
Meus olho
eram os de todos os seres
Não estou
dizendo que essa experiência me mostrou a realidade
Mas pude
entender que somos tudo o mesmo um
E ao mesmo
tempo somos múltiplos
E ao mesmo
tempo não somos
Sempre em
eternas voltas e voltas
Partículas de
sucessivos universos
Um depois do
outro e simultaneamente pulsando
Uma
partícula do todo
Aquela que
olha para o todo
E não podemos
parar isso
Temos que
treinar muito se
quisermos “parar tudo” por dez minutos, vinte, cinquenta...
Pensamentos, desejos, a mente, o corpo, vontades
Mas só quando “paramos” um tempo é que vemos a realidade
Que não há nada sob nosso controle
Não há um eu em coisa alguma
Vermos a verdadeira natureza de tudo
Então um dia veremos a verdadeira pureza intata
Aquilo que não depende de condições ou de visões
Aquilo que é o que é
Imexível
Verdadeira
Imutável
Incondicionada