segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Mahayana, seu surgimento e seus sutras

Por Dhammarakkhitta
Muito me impressiona esta situação de desinformação e entendimento errôneo criada por aqueles que vestem um Mahayana moderno culturalizado (Tibetano, Chinês, Vietnamita ou Japonês) aqui no Ocidente e que torcem nariz para suttas e vinaya dos Theravada, e por vezes metem-se a propagar o entendimento incorreto de que a proposta principal de savakayana guardada no Theravada seria um caminho inferior, oposto aos postulados Mahayanas, contextualizado como sinônimo do que foi chamado de hinayana nos seus sutras exclusivos, redigidos em uma época de auto-afirmação como religião na Índia dos primeiros séculos da Era Cristã.

Sobre esta situação de desinformação, meu humilde entendimento é que antes de mais nada, deveriam àqueles que simpatizam com este caminho, este Budismo do Norte, ressalto, tão legítimo quanto o Budismo do Sul, esforçar-se para compreender o surgimento do Mahayana tal como temos hoje, em suas evoluções e involuções, e seu paralelo com o Theravada de hoje, e o contexto sócio-político em que ele surge, e então poder-se com a sinceridade e embasamento histórico suficiente, adotá-lo por completo.

Primeiramente, o Mahayana que existe hoje, não pode ser lido como algo oposto, superior ou inferior ao Theravada em proposta de fim do sofrimento, muito menos no Caminho de fruição deste despertar. A oposição e superioridade que guarda à um dito hinayana, refere-se e à uma terminologia primeiramente usada no Sutra da Lotus e outros Sutras Mahayanas relacionados a estes, redigidos entre o Segundo Concílio, 300-400AC, e a consolidação das escolas de pensamento Mahayana, até hoje existentes para fazer referência às escolas doutrinárias que não conversavam com o movimento Mahasanghika do em seus entendimentos doutrinários, mas específicamente em teorias filosóficas/abordagens fenomenológicas, defendidas por duas escolas que em doutrina estão já extintas: os Sarvastivadins e Sautrantikas.

Feito este esforço, este estudo, esta reflexão, o Mahayana pode sim ser então entendido, contextualizado, como uma nova proposta de budismo, surgida a partir de uma releitura do Caminho, proclamado por eles o Bodhisatva-yana, que toma por base as perfeições da mente, paramis, (destacando- a sabedoria), evidenciadas nos textos míticos dos Jatakas (histórias das 500 vidas anteriores o Buda, presente diga-se de passagem em todos os Cânones remanescentes, Theravada e Mahayana’s) e elaboradas por aqueles que adicionaram ao Cânone preservado no Norte, sutras e comentários em que o caminho do Boddhisattva é formulado, e o Buda e seus discípulos, mitificados, análisados abaixo de acordo com a data aproximada em que surgem nos registros históricos.

Tal processo deu-se por volta dos séc. I-IV AD, em um contexto sócio-político, em que o Budismo Indiano “de estado” - herdado pelas repúblicas/reinos que compunham Jambudvipa, nome ancestral da Índia, unificada no séc. II AC sob o reino de Ashoka, e remanescente da unificação em Vinaya da Sangha ocorrida cinco séculos antes pelo mesmo - estava em declínio e enfrentava crescente “competição” com a reformulação ortodoxa brâmanista que minou as raízes do Budismo na Índia e resultou por fim, através dos séculos e posteriores invasões e fragmentações de Jambudvipa, na extinção do Budismo por lá e instituição do Hinduísmo tal como temos hoje (com as denominações Shaivistas, Shaktistas, Vaishnavistas, and Smartistas).

Essa formulação do Budismo como religião, em um momento de declínio e constantes ameaças e influências externas, precisou fazer uso de uma nova roupagem que oferecesse maior abrangência ao público leigo, atendesse melhor a massa, fizesse mais sentido para àqueles que não poderiam adotar por completo a vida santa, monástica, e beneficiar-se da proposta simples e direta de constante e intensa dedicação à tríade suporte do Caminho, concentração-virtude-sabedoria.

Essa construção do Budismo então deu-se através i) da herança de uma afirmação enfática filosófica/fenomenológica referente aos Lokutaravadins – umas das antigas escolas do Budismo Indiano – da vacuidade intríseca da personalidade e das coisas; e da transcendência do Buda (lokuttara), que resultou posteriormente na abordagem dos três corpos, Trikaya, consolidada no séc. IV AD com a redação do Lankavatara Sutra, mais abaixo mencionado.

Vale ressaltar que este período da história asiática, séc I AC – IV AD foi marcado por forte interação e ondas de influências culturais, que ligavam os povos do que hoje chamamos de China, Índia, Iran, Afeganistão, Ásia Central, Mediterrãneo.

Ou seja, os missionários budistas de Ashoka, dois séculos Antes de Cristo, andaram por esta rota levando consigo o Vinaya e os Suttas, e nestes locais, houve segundo evidências históricas uma intensa interpolinização cultural – mitos, formulações doutrinais, sistemas de pensamento, modelos de conversão foram intensamente incorporados, compartilhados e reformulados – e isto explica em parte a leva de suttas míticos adicionados durante a consolidação do Mahayana, a partir do Budismo do Norte, nos quase cinco séculos de incubação e isolamento do Budismo do Sul, levado para o Sri Lanka por monges missionários da ordem Sthavira, que tinha a simpatia e principal patrocínio de Ashoka.

Desta forma, o Mahayana que temos hoje, e que não pode ser de fato unificado, é um conjunto de desenvolvimentos doutrinários e culturais que seguem mais ou menos a seguinte linha histórica:


1) Sec. I AC – IV AD, O surgir do Mahayana, ou Boddhisattva-yana, o período de redação de sutras


Uma abordagem principalmente pupular entre a comunidade laica, com viés mitológico do ponto de vista devocional do Budismo surge na Índia, a partir da i) crescente popularidade e propagação de textos míticos como os Jatakas - que enquadravam o Buddha Gautama em uma jornada espiritual de 500 existências, como um Boddhisattva, um Budha-a-ser, que culmina na Plena Iluminação (SamyaksamBuddh) deste, representando a perfeição na Sabedoria e manifestação máxima da Compaixão; e sutras que falam de um Buda, cuja manifestação física, no corpo, fala e gestos teriam qualidades semi-divinas – presentes também no Cânone Theravada tal qual hoje preservado; e ii) da consolidação de um budismo folclórico e crescentemente ritualizado, consequente do proselitismo oficiais de elites, reinos e impérios, como o de Ashoka, que construiu e consolidou em diversos povos e culturas diferentes monumentos (estupas, pilares, etc) com seus símbolos e gravuras da história de um Buddha ex-príncipe que renuncia à um reino de riquezas para a vida religiosa de generosidade e pregação do Dharma, a graça da Plena Budeidade.


A partir desta abordagem surgem grupos leigos e monásticos, separados daquela (Sthaviras) que foi para o Sri Lanka e lá ficou isolado de um mundo de fortes intercâmbios e interpolinizações culturais como o da Ásia Central, e que sustentavam esta leitura devocional e mítica, que tiveram seus postulados religiosos do que hoje entende-se como Boddhisattva-yana consolidados em Sutras como:


O Pratyutpanna Samadhi Sutra , ou Sutra sobre o Samadhi da presença de todos os Buddhas, surgido/redigido no I séc. AC no norte da Índia/Kashemir, que contém a primeira menção registrada de Amitabha Buddha e a noção da prática da recitação do seu nome por boddhisatvas (leigos ou monásticos), Nianfo em chinês, como fonte de méritos e consonância com o caminho do Boddhisattva.


Os Sukhāvatīvyūha Sūtra, Surangama Sutra, Amitabha Sutra e Sutra da Contemplação, surgem nos séc. I-III AD, dando as bases do que hoje é o Budismo Terra Pura, introduzindo a mitologia de Sukhavati, um reino místico ou terra pura localizado na direção Oeste e postulando treze práticas contemplativas de vizualização desta escola, também atualmente presentes e difundidas também no Budismo Tibetano:


i)contemplação do sol poente,
ii)da imensidão de grandes corpos d’água,
iii)do terreno puro de Sukhavati,
iv)das árvores de Sukhavati,
v) dos lagos de Sukhavati,
vi) dos vários objetos de Sukhavati,
vii) o trono de lótus do Buddha Amitabha,
viii)da imagem do Buddha Amitabha,
ix)do próprio Buddha Amitabha,
x) do Boddhisattva Avalokitshvara (Kuan Yin em chinês e Tchenrezi em tibetano), representado no disco solar,
xi) do Boddhisattva Mahāsthāmaprāpta (chamado tambémVajrapani), representado no disco lunar,
xii)da assembléia de aspirantes a adentrar Sukhavati,
xiii) da tríade de Sukhavati – Buddha Amitabha, Boddhisattva Vajrapani e Boddhisattva Avalokteshvara.


O PrajnaParamita Sutra, ou Sutra da Perfeição da Sabedoria, surgido/redigido e aprimorado ao longo dos séculos I e III AD, também no norte da Índia/Kashemir , que contém a seguinte postulação doutrinária: a) um discípulo budista deve tornar-se um bodhisattva (Buddha-a-ser), ou seja, objetivar o perfeito-conhecimento resultante da perfeição da sabedoria para o bem de todos os seres, e simultaneamente prega que b) sob a vacuidade de todas as coisas e qualquer personalidade/individualidade, não há, em última instância, análise, algo como um bodhisattva, perfeito conhecimento, seja como um “ser”, como uma perfeição da sabedoria ou como qualquer estado alcançado.
Vale aqui destacar que a idéia central por trás destas aparentemente contraditórias postulações do Prajnaparamita Sutra seria a do completo desatar, fora de conceitos, da existência, com paralelo ao entendimento de Nirvana guardado na doutrina Theravadin, mas que ultrapassa-o em formulação ao defender que não pode-se afirmar, nem mesmo em termos de verdade relativa, haver algo como o surgir e desaparecer de fenômenos condicionados, pois estes não teriam qualquer natureza inerente, e surgiriam basicamente das projeções da mente individualizada em um estado de auto-afirmação, existência, desnecessário e ilusório.
Este sutra constitui então a base do que construiu-se doutrinária e culturamente como o Mahayana tal como encontramos hoje, oferecendo um caminho para a iluminação que vai além os caminhos sravakayana ou pratykabuddha-yana, colocando a iluminação como já essencialmente presente e o caminho do boddhisatva alicerçado pela perfeição da sabedoria e que culmina no estado mais elevado de manifestação da compaixão, que é o estado de SamyakSambuddha, que ensina o Dharma para todos os seres de um mundo. Este mesmo sutra deu origem, em reedições posteriores ao que hoje conhecemos como Sutra do Coração e Diamante.
. Surge também o Saddharma Pundarīka Sūtra, o famoso Sutra do Lotus (sim, o Myōhō Renge Kyō de Nitiren!), no mesmo Império de Kushan, que é introduzido ao conjunto de Sutras da extinta escola Sarvastivada no Concílio reclamado por eles como sendo o quarto. Tal sutra, em resumo traz:


a) instruções extensas sobre o uso dos meios hábeis (upaya) em suas muitas parábolas;
b) a idéia de um Buda como uma entidade eterna que atingiu o despertar, nirvana, éons atrás e que faz o voto de permanecer na roda do nascer e morrer para o benefício de todos os seres, ressurgindo de tempos em tempos, revelando-se como o pai de todos os seres trazendo a estes o Dharma;
c) a consequente postulação de que, sendo esta entidade Eterna, o(s) Buda(s) são em natureza última imortais, e permanecem em contato com os Budas que continuam a surgir mesmo após serem “Parinirvanizados” ao fim de suas existências físicas;
d) o entendimento de que a vacuidade (sunyata) não seria a última visão a ser alcançada pelo aspirante de Boddhisatva (Buddha-a-ser), isto pois, a Sabedoria Búdica seria um gracioso tesouro que transcederia a mera visão de todas as coisas como vazias.
e) todo o seu texto fala diversas vezes que este sutra traz um ensinamento superior a todos os demais e anteriores à sua redação (ou surgimento no 4º Concílio de Kushan) mas nunca o define, assim, interpreta-se que a “plena Budeidade” dá-se através das verdades implícitas neste sutras, em suas diversas parábolas e na sistematização da ordem cosmológica exposta neste – um Universo Infinito de Budas Eternos, que voltam ao mundo quando querem, detentores de um tesouro gracioso de sabedoria búdica que trascende a vacuidade dos sutras mahayanas anteriores, e está acima de toda e qualquer formulação do Dharma anteriormente presente.
Este sutra foi redigido em conjunto com outros dois sutras, na introdução o Sutra dos Inumeráveis Significados, que em resumo traz uma exortação à observação da vacuidade em todas as coisas e leis naturais, e à conduta meritória, de acordo com o que prega o sutra, a verdade universal do Buddha, como meio de se acumular méritos que muda o mundo e a vida de quem o faz; e na conclusão o Sutra da Meditação sobre a Virtude Universal do Boddhisattva, que em resumo, traz uma proposta parecida com aquela do Sutra sobre o Samadhi da presença de todos os Buddhas (que fala sobre a recitação do nome de Amitabha), defendendo a repetição do sutra de Lotus, resultará no alcançar da Plena-Budeidade defendida no texto principal do Sutra de Lótus, enraizada em uma fé tríplice: i) fé na causalidade, principalmente no potencial causal de transformação de tudo pela conduta apresentada de forma suprema pelo Sutra de Lótus; ii) fé em que todos os caminhos direcionam para a mesma Budeidade, sendo o caminho do Sutra de Lotus é o mais elevado; iii) fé em um Buddha Original Eterno, grandioso, que é a força-vital sem fim do Universo, da qual somos parte e na qual temos origem.


O Vimalakirti Sutra, ou Sermão ao leigo Vimalakirti, pode ser localizado neste mesmo período e apresenta um entendimento do ensinamento Mahayana oposto a um Hinayana em um contexto de explicação da não-dualidade (advaita). Este sutra de forma única coloca os Arahants dos Sutras, Veneráveis Sariputra, Mogallana e Mahakassapa Theros como ouvintes, aprendizes de um mestre leigo e seguidor do boddhisatva-yana, Licchavi Vimalakirti, que ao ser solicitado pelo Boddhisattva Príncipe Manjushri a elucidar o ensinamento da penetração no princípio da não-dualidade fica em silêncio, sendo em seguida aplaudido pelo primeiro e pelo próprio Buddha. Este mesmo Boddhisatva Licchavi Vimalakirti viaja através de infinitos universos até o universo Sarvagandhasugandha onde encontra um Buddha chamado Sugandhakuta, que não ensina com sons ou idioma qualquer, mas sim através de perfumes, emanados de árvores-perfumadas, sob cada qual senta um boddhisatva, que ao alcançarem os narizes dos seres resulta-lhes um estado de concentração chamado de “origem de todas as virtudes dos boddhisatvas”. Lá ele pede ao Buddha Sugandhakuta sua mágica refeição perfumada para que alcance neste nosso universo, chamado Saha, a Plena-Iluminação de um SamyakSamBuddha.
À parte da construção mítica, o sutra tem fundamental importância por apresentar uma enumeração de dez práticas virtuosas dos bodhisattvas:


i) generosidade;
ii) moralidade;
iii) tolerância;
iv) esforço;
v) concentração;
vi) verdadeira sabedoria;
vii) apresentar àqueles que sofrem oito adversidades – miséria, imoralidade, ódio, preguiça, inquietação, falsa sabedoria, comportamento de uma mente obtusa – como superá-las;
viii) ensinar a estes mesmos o mahayana;
ix) vencer àqueles que não tenham desenvolvido os meios-raíz da virtude através dos meios-raiz da virtude;
x) e ajudar os seres sem interrupção através dos quatro meios de unificação.
Vimalakirti apresenta também as oito qualidades de um Boddhisatva, sistematizadas nas resoluções a serem guardadas por este:
i) 'Eu devo beneficiar a todos os seres, sem buscar nem mesmo o mais ínfimo benefício próprio'
ii) 'Eu devo tomar para mim todas as misérias/deméritos de todos os seres e dar-lhes em troca toda as raízes de virtude acumuladas por mim'
iii) 'Eu não devo guardar ressentimento por qualquer ser senciente'
iv) 'Devo regozijar-me em todos os boddhisattvas como se fossem eles o Mestre'
v) 'Não devo negligenciar nenhum ensinamento, tendo ou não ouvindo-o antes'
vi) 'Devo controlar a minha mente, sem desprezar os ganhos dos outros, e sem orgulhar-me dos meus próprios ganhos'
vii) 'Devo examinar minhas próprias faltas e não culpar outros por suas próprias faltas'
viii) 'Devo aprazer-me em estar conscientemente atento e verdadeiramente adotar todas as virtudes'


Em um trecho bastante ilustrativo, o sutra afirma que em certos planos-búdicos, terras sagradas, a Budeidade é alcançada através dos bodhisattvas (como o universo o nosso universo, Saha), de luzes, de árvores da iluminação, da beleza física/estética e marcas de um Tathagatha, de mantos religiosos, da bondade, da água, de jardins criados, de palácios erguidos, de mansões construídas, de encarnações mágicas, do espaço vazio, de luzes no céu. Uma alegoria que poderia ser compreendida como validação de diversas formas de devoção ao Budismo presente na época (e até hoje), como válidas, pelo menos em algum dos infinitos planos-búdicos. Em outro texto o sutra apresenta figuras da mitologia mahayana como Buddha Akshobhya, do universo Abhirati, um plano búdico de maravilhas esplêndidas.
Em resumo, o boddhisattva-yana é exaltado, neste sutra, como o mais belo dos caminhos - mesmo entre os diferentes caminhos dos diferentes, infinitos e infinitamente maravilhos planos-búdicos existentes. O savakayana dos Arahants e pratyekabuddha-yana são inferiorizados como caminho de detentores de falsa sabedoria, aos quais o Mahayana deve ser ensinado. E nas linhas de conclusão, o bodhisattva Maitreya em pessoa garante que quem acreditar nos ensinamentos deste sutra penetrará nestes e será sustentado por sua benção sobrenatural.


O Avatamsaka Sutra, Sutra da Guirlanda de Flores, também surge nesta época, descrevendo um universo de infinitos reinos que contém mútuamente uns aos outros, uma alegoria fantástica da postulação da interdependência de todos os fenômenos – a folha da árvore contém o solo e a água do rio, etc.
Neste sutra, tambémsão apresentados os dez estágios (bhumis) de progresso de um boddhisattva até a Plena Budeidade:


i) estágio da determinação inicial,
ii) estágio do preparo do terreno,
iii) estágio da ação prática,
iv) estágio do nobre nascimento,
v) estágio da plenitude da habilidade nos meios,
vi) estágio do correto estado da mente,
vii) estágio do não-retorno,
viii) estágio da natureza jovial,
ix) estágio do prícipe do ensinamento,
x) estágio da coroação heróica.
Notem que o Dez Quadros do Pastoreio do Boi é uma elaboração até hoje ensinada no Zen, feita a partir destes dez estágios do progresso do boddhisattva, esta elaboração foi popularizada também no ocidente também por Chogyam Trungpa.


O Samdhinirmocana Sūtra, ou Sutra do Fluxo Contínuo da Emancipação, redigido entre o séc. III e IV AD, é um texto fundamental da escola filosófica Yogacara, ou Consciência-Apenas. Neste sutra há uma série de diálogos entre o Buddha e Boddhisattvas que buscam de forma completa e explícita expôr o ensinamento sobre a verdade última, que daria fim às incompatibilidades das postulações presentes em sutras anteriores, com a postulação dos Três Giros da Roda do Dharma, sendo o primeiro a enunciação do Savakayana (preservado no Theravada), o segundo a doutrina da vacuidade (herdada pelos Mahayana dos Lokuttaravadins) e o terceiro a doutrina deste mesmo sutra, que explica a verdade relativa dos fenômenos como projeções de uma consciência estratificada cujo alicerce conceitual é a existência uma consciência repósitária eterna, alaya-viññana, e aspecto prático é uma meditação de direto observar de tal estratificação que permite o direto conhecimento desta consciência infinita e a suprema sabedoria resultante disto.
O sutra também apresenta uma postulação de três características de todos os fenômenos, a partir desta consciência estratificada: i) conceitualização simples, através da identificação provisória em nomes necessária à comunicação; ii) originação co-dependente, através da qual todo e qualquer fenômeno é mútuamente e co-dependentemente existente, condicionado, ou seja cada um dos doze elos de originação co-dependente relacionam-se entre si, não sendo limitados ao encadeamento postulado pelos sutras anteriores; e iii) característica perfeita da realidade, a talidade, a direta e perfeita existência tal o é de todas as coisas.


.O Lankavatara Sutra, ou Sutra do Sri Lanka, foi fundamental ao desenvolvimento do que na China foi chamado de Ch’an; no Japão, Zen; no Vietnam, Tien; e na Koreia, Son. Este Sutra relata o encontro do Buddha com o bodhisatva Mahamati e apresenta também a postulação de uma estratificação da consciência individual em níveis, que tem como base, ligação com o cosmos, um porão, ou consciência-base, alaya-viññana, conforme as seguinte níveis, faculdades:


.   sentido da visão
.   sentido da audição
.   sentido do paladar
.   sentido do olfato
.   sentido do corpo/tato
. centro do sentidos (mano-viññana), que apreende os eventos psíquicos e sintetiza as experiências dos sentidos acima
. centro de individualização, do egoísmo (manas), profundamente enraizada e objeto de apego ao qual a personalidade construída agarra-se à concepção egoísta da realidade de um mundo externo; onde todas as idéias egoístas, opiniões, arrogâncias, auto-amor, ilusões são “fermentadas”, proliferam, origem de toda a delusão
. centro de estocagem da “ideação”, repositório eterno do qual pode ser extraída a substância de qualquer imagem ou idéia possíveis, um paralelo com maiores implicações espirituais práticas do que a teoria contemporãnea do inconsciente coletivo de Jung.


Este sutra também apresenta a doutrina básica Mahayana de Trikaya, dos três corpos ou dimensões da Budeidade: i) Nirmanakaya, manifestação material, acessível aos não-iluminados; ii) Samboghakaya, manifestação celestial, simbólica e arquétipica da Budeidade, acessível àqueles boddhisattvas devidamente desenvolvidos espiritualmente; e iii) Dharmakaya, dimensão transcendental, além de nomes e formas, acessível somente àquele boddhisattva que atinge a Plena Budeidade. Tal doutrina do Trikaya, é explorada também nos sutras, Samādhirāja Sūtra, que analisa a dimensão transcendental da Budeidade, Dharmakaya; e no Suramgamasamadhi Sutra, que analisa o Buddha como desfrutando do mais elevado estágio de progresso de um boddhisattva, tendo alcançado a Plena Budeidade, manifestando-se simultãneamente no nosso universo, e em todos os infinitos sistemas cósmicos, sendo capaz de realizar 100 milagres ou super poderes – projetar 84.000 réplicas idênticas de si próprio, igualmente reais, emitir raios de luz em todas as direções, em todos universos, etc.
Tal estratificação da consciência, juntamente com a afirmação de uma Natureza Búdica transcedental com seus três corpos ou dimensões, constitui um sincretismo entre a postulação do Samdhinirmocana Sūtra e do Tathagathagarbha Sutra mais analizado abaixo.


O Samantabhadra Sutra, ou Sutra sobre o Boddhisattva Samantabhadra, personagem mencionado em outros sutras como o Avatasaka Sutra e Saddharma Puṇḍarīka Sūtra. Em linhas gerais, o sutra postula que a sabedoria existe para ser colocada em prática, benéfica somente quando beneficia à todos os seres. Em suma, uma exortação ao princípio do voto de boddhisattva, que busca a perfeição da sabedoria para o benefício de todos os seres. Neste mesmo sutra estão listados os dez votos de Samantabhadra:


i) Prestar homenagens e respeito à todos os Buddhas
ii) Elogiar a todos os Buddhas
iii) Ser generoso e abundante nas oferendas
iv) Arrepender-se de má ações e livrar-se do mau karma
v) Regozijar-se nos méritos e virtudes dos outros
vi) Pedir aos Buddhas que continuem ensinando o Dharma
vii) Pedir aos Buddhas que continuem presentes no mundo
viii) Seguir a todo momento os ensinamentos do Buddhas
ix) Acomodar e beneficiar a todos os seres
x) Transferir todos e quaisquer méritos e virtudes à todos os seres.


Os sutras sobre o Tathagatagarbha, o Tathagatagarbha Sutra, Srimala Sutra Mahaparinirvana Sutra em sua versão Mahayana, trazem a postulação direta de uma Natureza Búdica, presente em todos os seres como um potêncial destes liberarem-se. Estes sutras apresentam uma leitura positiva da vacuidade (sunyata), que beira ao monismo da tradição Brâmane, e afirma uma Budeidade atemporal, real, composta de pura virtude, já presente em todos os seres e a ser manifesta através da purificação espiritual das impurezas que à obscurece. Tal postulação é claramente defendida nestes sutras como a doutrina última e definitiva (nitartha), superior a todas as demais.

O Lankavatara Sutra, analisado anteriormente pode ser entendido como uma formulação sincrética do Tathagatagarbha e da consciência-repositória eterna, permitindo a leitura de que o substrato de toda a realidade, em seu aspecto último seria tal como um espelho luminoso, infinito e perfeitamente límpido, existente no substrato último de todos dos seres.
Lembremos que, o local onde tais sutras foram redigidos/surgiram era na época, norte da Índia e planaltos da Ásia Central, uma zona de intenso intercâmbio cultural entre povos e suas culturas, desde o Mediterrãneo até a China.
Estes sutras são em grande parte o alicerce do que hoje chamamos Mahayana, e estavam na mão do Venerável Lokaksema, responsável pela primeira leva, e de outros peregrinos que, a partir de Gandhari (atual Kashemir), promoveram o Budismo do Norte que existia e se consolidava sob patrocínio de elites como a do império de Kushan, que ocupava uma faixa ampla de terras do que hoje é Afeganistão, Pakistão e Norte da Índia, para a China no II séc. AD;
Todos os tratados filosóficos de autores como Nagarjuna, Vasubhandu, Chandrakirti, Shantideva, Asanga, etc, tiveram por base, em grande parte, tais sutras, em suas mais diversas versões e estágios de redação.
Concluo então este texto inicial deste post que chamo de “Mahayana, seu surgimento e seus sutras” com um convite aberto para quaisquer correção necessária seja apontada, e apresento as seguintes perguntas para os leitores deste blog:
1) Você, que se diz Mahayana, já tinha conhecimento desta lineridade histórica e lido sobre todos estes principais sutras e seus conteúdos?
2) Seus mestres, quando lhe ensinaram sobre o caminho do Boddhisattva, o Mahayana, fizeram alguma contextualização histórica do surgimento desta proposta espiritual em seus momentos históricos e sutras fundamentais? Qual a importância que você vê nesta compreensão?
3) Como podemos explicar o contraste entre os sutras preservados nos Agamas Chineses, com fortes parelelos com os sutras preservados no Sutta Pitaka do Cânone Theravadin, e estes sutras que constituem de fato o alicerce do que é hoje o Mahayana?
4) Mais específicamente, como você percebe o contraste na redação dos sutras mahayanas que menciono acima, ricos em mitologias e explícita hierarquização do Boddhisattva-yana como superior às demais vias para o fim do sofrimento – savakayana e pratyekabuddha-yana?


Links/Fontes:
Postado há 17th June 2009 por Dhammarakkhitta


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Os Votos dos Budas Da Medicina

1- Buda da Medicina Rei Glorioso de Excelente Sinais.
De renome glorioso, de recursos gloriosos, de cor dourada, no mudra de dar proteção.
Votos:
Para o benefício daqueles atormentados por doenças e epidemias, pressionados por assassinos, por mortos-vivos e por temores de todos os tipos.
Para aqueles atingidos por cegueira, surdez, loucura, doenças de pele e todas as doenças infecciosas.
Para os iludidos pelo ódio, desejo e ignorância, que tenham cometidos os cinco atos hediondos e aqueles que abandonaram o dharma.
Para aqueles que caíram na pobreza, sem comida, bebida, roupas, dinheiro, grão, roupa de cama, incenso e todas as necessidades diárias da vida.
Para aqueles abatidos, jogados na prisão e atormentados por uma série de armas.
Para os atormentados pelo calor, lançados entre leões, tigres, ursos e cobras temendo por suas vidas.
Para aqueles envolvidos nos temores da guerra, lutas e conflitos.
Para aqueles perdidos no mar, jogados nas ondas do oceano, soltando gritos de desesperos.
2- Buda da Medicina Rei do Som Melodioso, Irradiação Brilhante de Habilidades, Adornado com Jóias, Lua e Lótus.
Mestre do som melodioso, de cor amarela, no mudra de conceder o supremo refúgio.
Votos:
Para o benefício daqueles cujo amor aos negócios e comércio levou-os a distração, longe da bodhichitta.
Para os atormentados pelo frio, calor, fome e sede.
Para as mulheres cujos corpos estão atormentados pela dores da concepção e para aqueles que sofrem ao nascer.
Para aqueles atormentados pela morte, inimigos e isolamentos.
Para os pais, familiares e amigos perdidos na tristeza e em depressão profunda.
Para aqueles vagando na escuridão, perseguidos por demônios.
Para aqueles de pouca inteligência, confusos e atraídos por coisas fúteis.
Para aqueles que, no fim do eon, quando o mundo estiver ardendo em chamas, estiverem sozinhos e sem proteção.
3- Buda da Medicina Excelente Ouro Imaculado, Joia que Realiza Todos os Votos.
Do melhor e mais puro ouro, da cor das águas douradas do Jambu, no mudra de ensinar o dharma.
Votos:
Para aqueles que  morreram e para aqueles que  estão destinados a sofrer muitas doenças, uma vida curta, pra serem mortos por venenos, água, armas de fogo e doenças.
Para aqueles que roubam e estão destinados a viverem na pobreza, atormentados pela fome, sede e falta de roupas.
Para aqueles que lutam e matam  uns aos outros com espírito de ódio.
Para os cegos pelo ódio, desejo e ignorância, que são desprovidos de moral e vivem uma vida no mal.
4-Buda da Medicina Glória Suprema  Livre de Dor e Sofrimento.
Da glória que é a libertação da dor e sofrimento, da cor vermelho-pálido, no mudra do equilíbrio meditativo.
Votos: 
Para o benefício daqueles em luto, sofrimento, tristeza e aflições.

Para aqueles que  renasceram ou irão renascer na escuridão dos grandes infernos.
Para aqueles que roubaram e renasceram em famílias pobres, desprovidos de roupas, comidas, bebidas, roupas de cama, atormentados pelo calor, frio, fome e sede.
Para aqueles que são perseguidos por demônios, espíritos e fantasmas que lhes roubam a saúde.
5- Buda da Medicina Oceano Melodioso do Dharma Proclamado.   
Proclamador do dharma, oceano de som melodioso, na cor rosa, no mudra de ensinar o dharma.
Votos:
Para os nascidos em família de visões  errôneas, sem fé nas Três Joias.
Para aqueles que não ouviram o som do Dharma, do Buda e da Sangha, nascidos em terras distantes, sob influência de ensinamentos equivocados.
Para aqueles desprovidos de roupas, enfeites, guirlandas, incensos, unguentos, remédios e que vivem uma vida desvirtuada.
Para aqueles que, pela força do amadurecimento do karma, discutem, brigam e prejudicam uns aos outros com armas.
6-Buda da Medicina Aprazível Rei da Compreensão Clara, Suprema Sabedoria de um Oceano de Dharma.
Supremo em conhecimento, da cor coral, no mudra de conceder o supremo refúgio.
Votos:
Para aqueles que trabalham nos campos e nos negócios que discutem e brigam.
Para aqueles que não tomaram o caminho das dez virtudes e irão renascer nos infernos.
Para aqueles sob a opressão de outros, castigados, amarrados e espancados, jogados em prisões e condenados a morte.
Para aqueles que terão vida curta por cometerem muitos erros.
7-Buda da Medicina Rei da Luz do Lápis Lazúli.
Guru da medicina, na cor azul escuro, no mudra de conceder o supremo refúgio. Adornado com as cento e doze marcas e sinais de um ser  iluminado.
Votos:
Para aqueles em caminhos errados e em trajetos menores.
Para aqueles com órgãos deformados, sentidos prejudicados, com pele ruim e manchadas, membros deformados, corcundas, cegos surdos, mudos, loucos e atingidos por todos os tipos de doenças.
Para aqueles atormentados pelas doenças sem refúgio ou guia, sem as devidas necessidades médicas, sem amigos e familiares.
Para aqueles que, acometidos por fome e sede cometem muitos erros na busca por sustento.
Para aqueles em roupas, vivendo o dia a dia na pobreza, doentes e sem medicamentos.
8- Buda Shakyamuni.
O poderoso príncipe do clã Sakya, da cor do ouro, no mudra de pressionar a terra, que deu o mantra e o sutra do Buda da Medicina e prometeu que aqueles que suplicassem aos sete tathagatas Gurus da Medicina e recitassem o mantra 8000 vezes seriam libertos de todos os obscurecimentos formados pelas ações passadas, não seriam atingidos por doenças, iriam desfrutar de uma vida longa, sem morte prematura, livres do males de inimigos, processos,  brigas e separações e não iriam cair nas mãos dos opressores e que todos os desejos se tornariam realidade
Traduzido por Gavin Kilty, 2001.
Traduzido do Inglês pelo Google.
Adaptado a língua portuguesa por Marcia Daniels, 2012.
     CENTRO DE MEDITAÇÕES KADAMPA BRASIL

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A LEI QUE REDIME

Este é um trecho em verso do Sutra do Lotus. É uma tradução portuguesa de Burton Watson. Esse trecho revela a Lei única, a revelação que é capaz de despertar os bodhisattvas. Se bodhisattvas ouvirem este sutra eles imediatamente estarão livres de todas as dúvidas. Todas as pessoas que ouvirem essa Lei e lhe prestar uma homenagem que seja, à Lei, ao Buda e a todos os Budas, entrarão no caminho e algum dia atingirão o estado de Buda.
As pessoas que se contentam com apenas entrar no caminho, esmaecer ou eliminar as primeiras impurezas, ou mesmo aquelas que se contentam com o Nirvana, em apenas desfrutar Nirvana sem atingir o estado de Buda; e as pessoas que não acreditam que elas mesmas têm a semente de Buda e a completa capacidade e possibilidade de se tornarem Buda, tais pessoas precisam conhecer esta Lei, que está exposta nesses versos.
O Buda expõe aqui algo que para alguns pode ser muito difícil de entender ou mesmo aceitar, mas que para outros soará como um estalo, como um sino, que demarca o fim de toda dúvida, como se fosse uma lembrança perdida que agora é encontrada; como se estivesse andado num lugar escuro e na penumbra e agora pudesse ver e reconhecer os objetos que antes apenas tateava. Este é o poder das palavras do Buda. É o poder da verdade, incorruptível e imortal.


Existem monges e monjas
que se comportam com suprema arrogância,
leigos cheios de auto estima,
leigas falhas de fé.
Entre os quatro tipos de crentes, os iguais a estes
são cinco mil.
Não vêm os seus erros,
são descuidados e negligentes no que respeita aos preceitos,
apegados aos seus defeitos e sem vontade de mudar.
Mas estas pessoas de diminuta sabedoria já se foram embora;
o joio desta assembleia
retirou-se perante a autoridade do Buda.
Estas pessoas eram pobres de mérito e virtude,
incapazes de receber esta Lei.
Esta assembleia está agora livre de ramos e folhas,
composta apenas pelo que é firme e seguro.
Shariputra, ouve cuidadosamente
como esta Lei foi obtida pelos Budas
e como eles a ensinam em prol dos seres viventes
através do poder de incontáveis meios hábeis.
Os pensamentos que estão na mente dos seres viventes,
os diferentes caminhos por eles seguidos,
os variados desejos e naturezas,
as boas e más acções por eles praticadas em suas prévias existências -
de tudo isto o Buda toma conhecimento
e então emprega causalidades, metáforas e parábolas,
palavras que incorporam o poder dos meios hábeis,
de forma a agradar e alegrar a todos.
Por vezes ensina sutras,
versos, histórias das vidas passadas de discípulos,
histórias de vidas passadas do Buda, de coisas sem precedentes.
Noutras alturas ensina atendendo a causas e condições,
usa metáforas e parábolas, passagens de poesia
ou discursos.
Para aqueles de escassas capacidades
que se deleitam na pequena Lei,
que avidamente se apegam ao nascimento e à morte,
e apesar dos inumeráveis Budas,
não praticam a profunda e maravilhosa Lei
mas estão perplexos e confusos por uma miríade de problemas -
para esses ensina o nirvana.
Crio estes meios hábeis
e assim faço-os entrar na sabedoria de Buda.
Até agora nunca vos disse
que vós certamente ireis atingir a via de Buda.
A razão de nunca ter ensinado dessa forma
foi não ter ainda chegado o momento para isso.
Mas agora é o tempo certo
em que devo ensinar decididamente o Grande Veículo.
Uso estes nove expedientes,
adaptando-os aos seres viventes enquanto ensino,
sendo o meu objectivo conduzi-los ao Grande Veículo,
e é por isso que ensino este sutra.
Estes são filhos de Buda cujas mentes são puras,
que são serenas e de apuradas capacidades,
que sob os auspícios de inumeráveis Budas
praticaram a profunda e maravilhosa via.
Para estes filhos de Buda  transmito este sutra do Grande Veículo.
E prevejo que estas pessoas
numa futura existência atingirão a via de Buda.
Porque no mais íntimo deles mesmos pensam no Buda
e praticam e mantêm os preceitos,
estão certos de alcançar o estado de Buda
e ouvindo isto, os seus corpos são inundados de grande alegria.
O Buda conhece as suas mentes e práticas
e por isso lhes ensina o Grande Veículo.
Quando os ouvintes e os bodhisattvas
ouvem esta Lei que eu ensino,
assim que ouvem um só verso
todos sem qualquer dúvida ficam certos de atingir o estado de Buda.
Nas terras de Buda das dez direcções
só existe a  Lei do veículo único,
não há dois, não há três,
excepto quando o Buda assim ensina como um meio hábil,
empregando nomes e termos provisórios
unicamente para conduzir e guiar os seres viventes
e ensinar-lhes a sabedoria de Buda.
Os Budas aparecem no mundo
apenas por esta razão, que é verdadeira;
as outras duas não o são.
Nunca usam um veículo inferior
para salvar os seres viventes e levá-los na travessia.
O próprio Buda reside neste Grande Veículo
e adornado com o poder da meditação e da sabedoria
que acompanha a Lei por ele obtida,
ele usa-o para salvar os seres viventes.
Ele próprio é testemunha da via insuperável,
o Grande Veículo, a Lei na qual todas as coisas são iguais.
Se  usasse um veículo inferior
para converter ainda que fosse uma só pessoa,
seria culpado de agressão e ganância,
mas tal coisa seria impossível.
Se uma pessoa acreditar e tomar refúgio no Buda,
o Tathagata nunca a engana,
nem alguma vez mostrará ganância ou ciúme.
Porque exterminou o mal de entre os fenómenos.
Por isso através das dez direcções
apenas o Buda é desprovido de medo.
Adorno o meu corpo com as características especiais
e faço brilhar a minha luz sobre o mundo.
Sou honrado por inumeráveis multidões
e para elas  ensino a insígnia da realidade das coisas.
Shariputra, deves saber
que no início  fiz um voto,
esperando tornar todas as pessoas
iguais a mim, sem qualquer distinção entre nós,
e o que  há muito esperava
foi agora consumado.
Converti todos os seres viventes
e fi-los entrar na via de Buda.
Se, quando encontro seres viventes,
lhes ensinasse apenas a via de Buda
os que não possuem sabedoria ficariam baralhados
e na sua confusão seriam incapazes de aceitar os meus ensinamentos.
Sei que esses seres viventes nunca no passado cultivaram boas raízes
mas antes se apegaram obstinadamente aos cinco desejos,
e a sua loucura e ânsia deram origem à aflição.
Os desejos são a causa pela qual caem nos três maus caminhos,
permanecendo no ciclo dos seis reinos de existência
e padecendo toda a sorte de sofrimentos e dores.
Existência após existência eles crescem
do ventre ao cemitério.
Pessoas de escassa virtude e pequeno mérito,
são perturbados e assolados por inúmeros sofrimentos.
Extraviam-se pela densa floresta das visões erróneas,
discutindo o que existe ou o que não existe
e no final apegando-se a essas visões,
abraçando todas as sessenta e duas.
Estão constantemente comprometidos com falsas e vãs doutrinas,
agarrados firmemente a elas, incapazes de as pôr de lado.
Arrogantes e ufanos de auto estima,
aduladores e invejosos, de mente insincera,
durante mil, dez mil, um milhão de kalpas
não ouvirão o nome de Buda,
nem ouvirão a correcta Lei -
essas pessoas são difíceis de salvar.
Por estas razões, Shariputra,
estabeleci, para o seu bem, meios hábeis,
ensinando a via que põe um fim a todo o sofrimento
e mostrando-lhes o nirvana.
Mas, embora  lhes exponha o nirvana,
essa não é a verdadeira extinção.
Todos os fenómenos, desde o mais remoto,
trazem sempre consigo as marcas
da extinção tranquila.
Uma vez consumadas estas práticas, os filhos de Buda,
numa existência futura, estarão aptos a tornar-se Budas.
Empreguei o poder dos meios hábeis
para expor e demonstrar esta doutrina dos três veículos,
mas os Honrados Pelo Mundo
sempre ensinam a via do único veículo.
Agora, perante esta grande assembleia,
devo esclarecer todas as dúvidas e perplexidades.
Não existe discrepância nas palavras dos Budas,
há apenas um veículo, não dois.
Por inumeráveis kalpas no passado,
incontáveis Budas que agora estão extintos,
cem, mil, dez mil, milhões em número incalculável -
esses Honrados Pelo Mundo,
usando diferentes tipos de causas, metáforas e parábolas
e o poder de incontáveis meios hábeis,
expuseram as características dos ensinamentos.
Todos estes Honrados Pelo Mundo
expuseram a doutrina do veículo único,
convertendo incontáveis seres viventes
e fazendo-os entrar na via de Buda.
Todos estes grandes Senhores da Sabedoria,
conhecendo os desejos mais profundos
dos seres celestiais e humanos e dos outros seres viventes
de todos os universos,
empregaram ainda outros meios hábeis
para ajudar a iluminar a suprema verdade.
Se existem seres viventes
que encontraram estes Budas do passado,
e se escutaram a sua Lei, ofereceram esmolas,
mantiveram os preceitos, mostrando tolerância,
sendo assíduos, praticando meditação e sabedoria, e nesse sentido,
cultivaram vários tipos de mérito e virtude,
pessoas como estas
atingiram todas a via de Buda.
Após estes Budas se terem extinto,
se existirem pessoas de mente boa e serena,
então esse tipo de seres viventes
atingiram todos a via de Buda.
Depois dos Budas se terem extinguido,
se fizerem oferendas às relíquias,
erigindo dez mil ou um milhão de variedades de torres votivas,
usando ouro, prata, cristal,
madrepérola e ágata,
coral, lápis-lazúli, pérolas,
para as purificar e adornar extensamente,
ou se construírem templos mortuários de pedra,
ou de sândalo ou aloés,
hovénia ou outros tipos de madeira,
ou de tijolo, terracota ou argila,
se no meio dos vastos campos
amontoarem terra para fazer um templo mortuário para os Budas,
ou mesmo se crianças a brincar
juntarem areia para fazer uma torre votiva,
então, pessoas como estas
atingiram todas a via de Buda.
Se existirem pessoas que em prol dos Budas
criem e construam imagens,
esculpindo-as com os trinta e dois sinais distintivos,
então todos terão atingido a via de Buda.
Ou se fizerem as imagens com os sete tesouros,
ou com cobre, estanho, chumbo, bronze,
madeira, barro ou resina,
para representar e adornar imagens de Buda,
pessoas como essas alcançaram todas a via de Buda.
Se eles empregarem pigmentos para pintar imagens de Buda,
conferindo-lhes os cem sinais sagrados,
feitas por si ou encomendadas a outros,
então terão todos alcançado a via de Buda.
Mesmo se crianças a brincar
usarem folhagem ou galhos,
ou mesmo com a unha
riscarem imagens de Buda,
pessoas como essas
pouco a pouco irão acumulando mérito
e tornar-se-ão inteiramente dotadas de uma mente compassiva;
todos eles alcançaram a via de Buda.
Simplesmente pela conversão dos bodhisattvas
elas trazem a salvação e o alívio a inumeráveis multidões.
E se alguém, na presença dessas torres votivas,
essas imagens de jóias ou figuras pintadas,
com uma mente reverente fizer ofertas
de flores, incenso, faixas ou dosséis,
ou se contratarem músicos para tocar,
 batendo tambores, soprando trompas ou conchas,
 tocando flautas, alaúdes ou harpas,
tangendo guitarras, címbalos e gongos,
e se essas variadas e maravilhosas notas
forem entendidas como oferendas;
ou se alguém com uma mente radiante
cantar uma canção em louvor à virtude de Buda,
mesmo que apenas uma curta nota,
todos os que assim procedem alcançaram a via de Buda.
Se alguém com uma mente confusa e distraída,
pegar nem que seja numa flor
e a oferecer a uma imagem,
um dia acabará por ver inumeráveis Budas.
Ou se uma pessoa fizer uma vénia
ou se prestar obediência,
ou simplesmente juntar as palmas das mãos,
ou apenas levantar uma só mão,
ou conceder não mais do que um ligeiro aceno de cabeça,
e se isto for oferecido a uma imagem,
então a seu tempo ele chegará a ver incontáveis Budas.
E se ele mesmo alcançar a via insuperável
e espalhar a salvação por incontáveis multidões,
ele entrará no nirvana não residual
tal como um fogo se extingue quando se esgota o combustível.
Se pessoas com mentes confusas e distraídas
entrarem em torres votivas
e uma vez exclamarem, “Homenagem aos Budas!”
então terão alcançado a via de Buda.
Se dos Budas passados,
quando ainda estavam no mundo ou uma vez extintos,
eles ouvirem nem que seja o nome da Lei,
então todos terão alcançado a via de Buda.
Os Honrados Pelo Mundo do futuro,
cujo número será incalculável,
esses Tathagatas
também empregarão meios hábeis para ensinar a Lei,
e todos estes Tathagatas,
através de incontáveis meios hábeis
salvarão e trarão alívio aos seres viventes,
de modo a que estes entrem na sabedoria de Buda
que é livre de imperfeições.
Se houver quem ouça a Lei,
então nem um deixará de atingir a Iluminação.
O voto original dos Budas
foi de que a via de Buda, por eles mesmos praticada,
seja partilhada universalmente entre os seres viventes
de modo a que também eles possam alcançá-la da mesma forma.
Os Budas de eras futuras,
ainda que ensinem centenas, milhares, milhões,
incontáveis doutrinas,
na verdade fazem-no em prol do veículo único.
Os Budas, mais honrados de entre os humanos,
sabem que os fenómenos não têm natureza constante e permanente,
que a semente da Iluminação brota da causalidade,
e por essa razão eles ensinam o veículo único.
Mas que estes fenómenos são parte de uma Lei perpétua
e as características do mundo são sempre manifestas -
isto eles ficaram a conhecer no lugar da iluminação
e como líderes e mestres eles utilizam meios hábeis.
Os Budas actuais das dez direcções,
a quem os seres celestiais e humanos fazem oferendas,
que em número são como as areias do Ganges,
apareceram no mundo
de modo a trazer a paz e o conforto aos seres viventes,
e também eles ensinam a Lei desta forma.
Compreendem a verdade original da extinção tranquila
e por isso usam o poder dos meios hábeis
e embora indiquem vários caminhos diferentes,
na verdade fazem-no em prol do veículo de Buda.
Eles entendem as acções dos seres viventes,
os pensamentos que jazem no fundo das suas mentes,
as acções cometidas no passado,
os desejos, a natureza, o poder dos seus esforços,
se as suas capacidades são apuradas ou fracas,
e assim empregam várias causas e condições,
metáforas, parábolas e outras palavras e frases,
adoptando quaisquer meios hábeis que sejam adequados ao seu ensinamento.
Agora também sou assim;
por forma a trazer paz e conforto aos seres viventes
emprego várias doutrinas diferentes
para disseminar a via de Buda.
Através do poder da minha sabedoria
sei a natureza e os desejos dos seres viventes
e com meios hábeis exponho estas doutrinas,
fazendo com que todos os seres viventes alcancem contentamento e alegria.
Shariputra, deves compreender
que vejo as coisas através do olho de Buda,
vejo os seres viventes nos seis reinos,
quão pobres e angustiados são, sem mérito ou sabedoria,
como entram na perigosa estrada do nascimento e da morte,
os seus sofrimentos continuando sem cessar,
quão profundamente apegados estão aos cinco desejos,
como um iaque enamorado da sua cauda,
cegando-se com a ganância e a presunção,
a sua visão deteriorada até nada conseguirem ver.
Eles não procuram o Buda, com o seu grande poder,
ou a Lei que pode pôr fim aos seus sofrimentos,
mas embrenham-se em noções erróneas,
esperando libertar-se do sofrimento com mais sofrimento.
Pelo bem destes seres viventes gero uma mente de grande compaixão.
Quando no início ocupei o lugar da iluminação,
pelo espaço de três vezes sete dias ponderei este assunto,
fitando a árvore aí existente e andando à sua volta.
A sabedoria que obtive, pensei,
é subtil, maravilhosa e suprema,
mas os seres viventes estão embotados pela ignorância,
dependentes do prazer e cegos pela estupidez.
Com pessoas como estas,
que posso dizer, como posso salvá-las?
Nessa ocasião os reis Brama,
em conjunto com o rei celestial Shakra,
os Quatro Reis Celestiais que guardam o mundo
e o rei celestial Grande Liberdade,
na companhia de outros seres celestiais
e das suas centenas de seguidores,
juntaram reverentemente as palmas das mãos e prosternaram-se,
rogando-me que fizesse girar a roda da Lei.
De imediato pensei para comigo
que se meramente louvasse o veículo de Buda,
os seres viventes, atolados no seu sofrimento,
seriam incapazes de acreditar nesta Lei.
Assim, por rejeitarem a Lei e não crerem nela,
cairiam nos três maus caminhos.
Seria melhor que não ensinasse a Lei
mas antes entrasse rapidamente no nirvana.
Então os meus pensamentos viraram-se para os Budas do passado
e para o poder dos meios hábeis por eles empregues,
e pensei que a via que tinha então alcançado
devia igualmente ser ensinada como três veículos.
Quando assim pensei,
todos os Budas das dez direcções me apareceram
e com sons Brahma confortaram-me e instruíram-me.
“Muito bem, Shakyamuni!” disseram eles.
“Supremo líder e mestre,
alcançaste a Lei insuperável.
Mas seguindo o exemplo de todos os outros Budas,
empregarás o poder dos meios hábeis.
Nós também obtivemos a mais maravilhosa, a suprema Lei,
mas em prol dos seres viventes
fazemos distinções e ensinamos os três veículos.
Pessoas de pequena sabedoria deleitam-se numa pequena Lei,
incapazes de acreditar que eles mesmos se podem tornar Budas.
Por isso empregamos meios hábeis,
fazendo distinções e expondo vários objectivos,
Mas ainda que ensinemos os três veículos,
fazemo-lo por forma a instruir os bodhisattvas.”
Shariputra, deves entender isto,
quando ouvi estes santos leões
e a sua profunda, pura, subtil, maravilhosa voz,
rejubilei e a chorar disse “ Homenagem aos Budas!”
Então pensei para comigo,
vim a este impuro e malévolo mundo
e de acordo com o que estes Budas ensinaram,
devo agir segundo o seu exemplo.
Após ter tido estes pensamentos
segui de imediato para Varanasi.
As marcas da extinção tranquila de todos os fenómenos
não podem ser expressas por palavras,
por isso usei o poder dos meios hábeis
para ensinar os cinco ascetas.
A isto chamei “girar a roda da Lei”,
também utilizei os sons “nirvana”,
“arhat”, “Dharma” e “Sangha” -
vários termos para indicar distinções.
“Desde há infinitos kalpas no passado
 tenho elogiado e ensinado a Lei do nirvana,
pondo fim ao longo sofrimento do nascimento e da morte.”
Assim  costumo ensinar.
Shariputra, deves saber isto,
quando olhei para os filhos de Buda,
vi incalculáveis milhares, dezenas de milhar, milhões
que decidiram seguir a via de Buda,
todos com uma mente respeitosa e reverente,
todos vindo ao encontro do lugar do Buda,
pessoas que no passado ouviram outros Budas
e ouviram a Lei ensinada segundo meios hábeis.
De imediato pensei
que a razão do aparecimento do Tathagata
é ele poder expor a sabedoria de Buda.
Agora é precisamente o momento para isso.
Shariputra, deves compreender
que pessoas de fracas capacidades e pequena sabedoria,
apegadas às aparências, orgulhosas e arrogantes,
são incapazes de acreditar nesta Lei.
Agora , alegre e destemido,
ponho de lado francamente os meios hábeis,
e exponho unicamente a Via insuperável.
Quando os bodhisattvas ouvirem esta Lei,
serão libertados de todas os emaranhados da dúvida.
As doze centenas de Arhats,
também eles atingirão a Iluminação.
Seguindo o modelo que os Budas
dos três tempos
empregam para expor a Lei,
 farei agora da mesma forma,
ensinando a Lei que é isenta de distinções.
Os tempos em que os Budas aparecem no mundo
são muito espaçados entre si
e difíceis de encontrar.
Mesmo quando aparecem no mundo
é-lhes difícil expor a Lei.
Através de incalculáveis, inumeráveis kalpas
é raro esta Lei ser ouvida
e alguém capaz de a ouvir é igualmente raro.
É como a flor da udumbara
que deleita o mundo, adorada por todos,
olhada como rara por seres celestiais e humanos,
e que aparece apenas uma vez em muitas eras.
Se uma pessoa ouve esta Lei,
se deleita com ela e a louva,
mesmo que profira apenas uma palavra,
faz com isso oferendas a todos os Budas dos três tempos.
Mas uma pessoa assim é rara de encontrar,
mais do que a flor da udumbara.
Não deveis ter dúvidas,
sendo o rei das doutrinas,
faço esta proclamação a toda a grande assembleia.
Emprego apenas a via do veículo único
para converter e instruir os bodhisattvas,
não tenho discípulos ouvintes.
Tu, Shariputra,
e todos os ouvintes e bodhisattvas,
devem compreender que esta maravilhosa Lei
é o segredo essencial dos Budas.
Neste mundo maligno das cinco impurezas
esses que apenas se apegam aos desejos
deleitando-se com eles,
seres viventes como esses,
no final nunca procurarão a via de Buda.
Quando pessoas malévolas de eras futuras
ouvirem o Buda expor o veículo único,
ficarão confusas, sem o acreditar ou aceitar,
rejeitarão a Lei e cairão nos maus caminhos.
Mas quando existirem pessoas modestas e puras,
determinadas a procurar a via de Buda,
então, para o bem deles,
devo louvar a via do veículo único.
Shariputra, deves entender isto,
assim é a Lei dos Budas.
Empregando dez mil, um milhão de meios hábeis,
eles ensinam a Lei de acordo com o que é apropriado.
Os que não são versados neste assunto
não podem compreender inteiramente.
Mas tu e os outros já sabem
como os Budas, os mestres do mundo, empregam meios hábeis
de acordo com o que é apropriado.
Não tereis mais dúvidas ou perplexidades
mas, com as mentes plenas de alegria,
sabereis que vós mesmos haveis de atingir o estado de Buda.