Este é um trecho em verso do Sutra do Lotus. É uma tradução portuguesa
de Burton Watson. Esse trecho revela a Lei única, a revelação que é capaz de
despertar os bodhisattvas. Se bodhisattvas ouvirem este sutra eles
imediatamente estarão livres de todas as dúvidas. Todas as pessoas que ouvirem
essa Lei e lhe prestar uma homenagem que seja, à Lei, ao Buda e a todos os
Budas, entrarão no caminho e algum dia atingirão o estado de Buda.
As pessoas que se contentam com apenas entrar no caminho, esmaecer ou
eliminar as primeiras impurezas, ou mesmo aquelas que se contentam com o
Nirvana, em apenas desfrutar Nirvana sem atingir o estado de Buda; e as pessoas
que não acreditam que elas mesmas têm a semente de Buda e a completa capacidade
e possibilidade de se tornarem Buda, tais pessoas precisam conhecer esta Lei,
que está exposta nesses versos.
O Buda expõe aqui algo que para alguns pode ser muito difícil de
entender ou mesmo aceitar, mas que para outros soará como um estalo, como um
sino, que demarca o fim de toda dúvida, como se fosse uma lembrança perdida que
agora é encontrada; como se estivesse andado num lugar escuro e na penumbra e
agora pudesse ver e reconhecer os objetos que antes apenas tateava. Este é o
poder das palavras do Buda. É o poder da verdade, incorruptível e imortal.
Existem monges e
monjas
que se comportam
com suprema arrogância,
leigos cheios de
auto estima,
leigas falhas de
fé.
Entre os quatro
tipos de crentes, os iguais a estes
são cinco mil.
Não vêm os seus
erros,
são descuidados e
negligentes no que respeita aos preceitos,
apegados aos seus
defeitos e sem vontade de mudar.
Mas estas pessoas
de diminuta sabedoria já se foram embora;
o joio desta
assembleia
retirou-se perante
a autoridade do Buda.
Estas pessoas eram
pobres de mérito e virtude,
incapazes de
receber esta Lei.
Esta assembleia
está agora livre de ramos e folhas,
composta apenas
pelo que é firme e seguro.
Shariputra, ouve
cuidadosamente
como esta Lei foi
obtida pelos Budas
e como eles a
ensinam em prol dos seres viventes
através do poder de
incontáveis meios hábeis.
Os pensamentos que
estão na mente dos seres viventes,
os diferentes
caminhos por eles seguidos,
os variados desejos
e naturezas,
as boas e más
acções por eles praticadas em suas prévias existências -
de tudo isto o Buda
toma conhecimento
e então emprega
causalidades, metáforas e parábolas,
palavras que
incorporam o poder dos meios hábeis,
de forma a agradar
e alegrar a todos.
Por vezes ensina
sutras,
versos, histórias
das vidas passadas de discípulos,
histórias de vidas
passadas do Buda, de coisas sem precedentes.
Noutras alturas
ensina atendendo a causas e condições,
usa metáforas e
parábolas, passagens de poesia
ou discursos.
Para aqueles de
escassas capacidades
que se deleitam na
pequena Lei,
que avidamente se
apegam ao nascimento e à morte,
e apesar dos inumeráveis Budas,
não praticam a profunda e maravilhosa
Lei
mas estão perplexos e confusos por
uma miríade de problemas -
para esses ensina o nirvana.
Crio estes meios hábeis
e assim faço-os entrar na sabedoria
de Buda.
Até agora nunca vos disse
que vós certamente ireis atingir a
via de Buda.
A razão de nunca ter ensinado dessa
forma
foi não ter ainda chegado o momento
para isso.
Mas agora é o tempo certo
em que devo ensinar decididamente o
Grande Veículo.
Uso estes nove expedientes,
adaptando-os aos seres viventes enquanto ensino,
sendo o meu objectivo conduzi-los ao Grande Veículo,
e é por isso que ensino este sutra.
Estes são filhos de Buda cujas mentes
são puras,
que são serenas e de apuradas
capacidades,
que sob os auspícios de inumeráveis
Budas
praticaram a profunda e maravilhosa
via.
Para estes filhos de
Buda transmito este sutra do Grande Veículo.
E prevejo que estas pessoas
numa futura existência atingirão a
via de Buda.
Porque no mais íntimo deles mesmos
pensam no Buda
e praticam e mantêm os preceitos,
estão certos de alcançar o estado de
Buda
e ouvindo isto, os seus corpos são
inundados de grande alegria.
O Buda conhece as suas mentes e
práticas
e por isso lhes ensina o Grande
Veículo.
Quando os ouvintes e os bodhisattvas
ouvem esta Lei que eu ensino,
assim que ouvem um só verso
todos sem qualquer dúvida ficam
certos de atingir o estado de Buda.
Nas terras de Buda das dez direcções
só existe a Lei do veículo
único,
não há dois, não há três,
excepto quando o Buda assim ensina
como um meio hábil,
empregando nomes e termos provisórios
unicamente para conduzir e guiar os
seres viventes
e ensinar-lhes a sabedoria de Buda.
Os Budas aparecem no mundo
apenas por esta razão, que é
verdadeira;
as outras duas não o são.
Nunca usam um veículo inferior
para salvar os seres viventes e
levá-los na travessia.
O próprio Buda reside neste Grande
Veículo
e adornado com o poder da meditação e
da sabedoria
que acompanha a Lei por ele obtida,
ele usa-o para salvar os seres
viventes.
Ele próprio é testemunha da via
insuperável,
o Grande Veículo, a Lei na qual todas
as coisas são iguais.
Se usasse um veículo
inferior
para converter ainda que fosse uma só
pessoa,
seria culpado de agressão e ganância,
mas tal coisa seria impossível.
Se uma pessoa acreditar e tomar
refúgio no Buda,
o Tathagata nunca a engana,
nem alguma vez mostrará ganância ou
ciúme.
Porque exterminou o mal de entre os
fenómenos.
Por isso através das dez direcções
apenas o Buda é desprovido de medo.
Adorno o meu corpo com as
características especiais
e faço brilhar a minha luz sobre o
mundo.
Sou honrado por inumeráveis multidões
e para elas ensino a
insígnia da realidade das coisas.
Shariputra, deves saber
que no início fiz um voto,
esperando tornar todas as pessoas
iguais a mim, sem qualquer distinção
entre nós,
e o que há muito esperava
foi agora consumado.
Converti todos os seres viventes
e fi-los entrar na via de Buda.
Se, quando encontro seres viventes,
lhes ensinasse apenas a via de Buda
os que não possuem sabedoria ficariam
baralhados
e na sua confusão seriam incapazes de
aceitar os meus ensinamentos.
Sei que esses seres viventes nunca no
passado cultivaram boas raízes
mas antes se apegaram obstinadamente
aos cinco desejos,
e a sua loucura e ânsia deram origem
à aflição.
Os desejos são a
causa pela qual caem nos três maus caminhos,
permanecendo no
ciclo dos seis reinos de existência
e padecendo toda a sorte de
sofrimentos e dores.
Existência após existência eles
crescem
do ventre ao cemitério.
Pessoas de escassa virtude e pequeno
mérito,
são perturbados e assolados por
inúmeros sofrimentos.
Extraviam-se pela densa floresta das
visões erróneas,
discutindo o que existe ou o que não
existe
e no final apegando-se a essas
visões,
abraçando todas as sessenta e duas.
Estão constantemente comprometidos
com falsas e vãs doutrinas,
agarrados firmemente a elas,
incapazes de as pôr de lado.
Arrogantes e ufanos de auto estima,
aduladores e invejosos, de mente
insincera,
durante mil, dez mil, um milhão de
kalpas
não ouvirão o nome de Buda,
nem ouvirão a correcta Lei -
essas pessoas são difíceis de salvar.
Por estas razões, Shariputra,
estabeleci, para o seu bem, meios
hábeis,
ensinando a via que põe um fim a todo
o sofrimento
e mostrando-lhes o nirvana.
Mas, embora lhes exponha o
nirvana,
essa não é a verdadeira extinção.
Todos os fenómenos, desde o mais
remoto,
trazem sempre consigo as marcas
da extinção tranquila.
Uma vez consumadas estas práticas, os
filhos de Buda,
numa existência futura, estarão aptos
a tornar-se Budas.
Empreguei o poder dos meios hábeis
para expor e demonstrar esta doutrina
dos três veículos,
mas os Honrados Pelo Mundo
sempre ensinam a via do único
veículo.
Agora, perante esta grande
assembleia,
devo esclarecer todas as dúvidas e
perplexidades.
Não existe discrepância nas palavras
dos Budas,
há apenas um veículo, não dois.
Por inumeráveis kalpas no passado,
incontáveis Budas que agora estão
extintos,
cem, mil, dez mil, milhões em número
incalculável -
esses Honrados Pelo Mundo,
usando diferentes tipos de causas,
metáforas e parábolas
e o poder de incontáveis meios
hábeis,
expuseram as características dos
ensinamentos.
Todos estes Honrados Pelo Mundo
expuseram a doutrina do veículo
único,
convertendo incontáveis seres
viventes
e fazendo-os entrar na via de Buda.
Todos estes grandes Senhores da
Sabedoria,
conhecendo os desejos mais profundos
dos seres celestiais e humanos e dos
outros seres viventes
de todos os universos,
empregaram ainda outros meios hábeis
para ajudar a iluminar a suprema
verdade.
Se existem seres viventes
que encontraram estes Budas do
passado,
e se escutaram a sua Lei, ofereceram
esmolas,
mantiveram os preceitos, mostrando
tolerância,
sendo assíduos, praticando meditação
e sabedoria, e nesse sentido,
cultivaram vários tipos de mérito e
virtude,
pessoas como estas
atingiram todas a via de Buda.
Após estes Budas se terem extinto,
se existirem pessoas de mente boa e
serena,
então esse tipo de seres viventes
atingiram todos a via de Buda.
Depois dos Budas se terem extinguido,
se fizerem oferendas às relíquias,
erigindo dez mil ou um milhão de
variedades de torres votivas,
usando ouro, prata, cristal,
madrepérola e ágata,
coral, lápis-lazúli, pérolas,
para as purificar e adornar
extensamente,
ou se construírem templos mortuários
de pedra,
ou de sândalo ou aloés,
hovénia ou outros tipos de madeira,
ou de tijolo, terracota ou argila,
se no meio dos vastos campos
amontoarem terra para fazer um templo
mortuário para os Budas,
ou mesmo se crianças a brincar
juntarem areia para fazer uma torre
votiva,
então, pessoas como estas
atingiram todas a via de Buda.
Se existirem pessoas que em prol dos
Budas
criem e construam imagens,
esculpindo-as com os trinta e dois
sinais distintivos,
então todos terão atingido a via de
Buda.
Ou se fizerem as imagens com os sete
tesouros,
ou com cobre, estanho, chumbo,
bronze,
madeira, barro ou resina,
para representar e adornar imagens de
Buda,
pessoas como essas alcançaram todas a
via de Buda.
Se eles empregarem pigmentos para
pintar imagens de Buda,
conferindo-lhes os cem sinais
sagrados,
feitas por si ou encomendadas a
outros,
então terão todos alcançado a via de
Buda.
Mesmo se crianças a brincar
usarem folhagem ou galhos,
ou mesmo com a unha
riscarem imagens de Buda,
pessoas como essas
pouco a pouco irão acumulando mérito
e tornar-se-ão inteiramente dotadas
de uma mente compassiva;
todos eles alcançaram a via de Buda.
Simplesmente pela conversão dos
bodhisattvas
elas trazem a salvação e o alívio a
inumeráveis multidões.
E se alguém, na presença dessas
torres votivas,
essas imagens de jóias ou figuras
pintadas,
com uma mente reverente fizer ofertas
de flores, incenso, faixas ou
dosséis,
ou se contratarem músicos para tocar,
batendo tambores, soprando
trompas ou conchas,
tocando flautas, alaúdes ou
harpas,
tangendo guitarras, címbalos e
gongos,
e se essas variadas e maravilhosas
notas
forem entendidas como oferendas;
ou se alguém com uma mente radiante
cantar uma canção em louvor à virtude
de Buda,
mesmo que apenas uma curta nota,
todos os que assim procedem
alcançaram a via de Buda.
Se alguém com uma mente confusa e
distraída,
pegar nem que seja numa flor
e a oferecer a uma imagem,
um dia acabará por ver inumeráveis
Budas.
Ou se uma pessoa fizer uma vénia
ou se prestar obediência,
ou simplesmente juntar as palmas das
mãos,
ou apenas levantar uma só mão,
ou conceder não mais do que um
ligeiro aceno de cabeça,
e se isto for oferecido a uma imagem,
então a seu tempo ele chegará a ver
incontáveis Budas.
E se ele mesmo alcançar a via
insuperável
e espalhar a salvação por incontáveis
multidões,
ele entrará no nirvana não residual
tal como um fogo se extingue quando
se esgota o combustível.
Se pessoas com mentes confusas e
distraídas
entrarem em torres votivas
e uma vez exclamarem, “Homenagem aos
Budas!”
então terão alcançado a via de Buda.
Se dos Budas passados,
quando ainda estavam no mundo ou uma
vez extintos,
eles ouvirem nem que seja o nome da
Lei,
então todos terão alcançado a via de
Buda.
Os Honrados Pelo Mundo do futuro,
cujo número será incalculável,
esses Tathagatas
também empregarão meios hábeis para
ensinar a Lei,
e todos estes Tathagatas,
através de incontáveis meios hábeis
salvarão e trarão alívio aos seres
viventes,
de modo a que estes entrem na
sabedoria de Buda
que é livre de imperfeições.
Se houver quem ouça a Lei,
então nem um deixará de atingir a
Iluminação.
O voto original dos Budas
foi de que a via de Buda, por eles
mesmos praticada,
seja partilhada universalmente entre
os seres viventes
de modo a que também eles possam
alcançá-la da mesma forma.
Os Budas de eras futuras,
ainda que ensinem centenas, milhares,
milhões,
incontáveis doutrinas,
na verdade fazem-no em prol do
veículo único.
Os Budas, mais honrados de entre os
humanos,
sabem que os fenómenos não têm
natureza constante e permanente,
que a semente da Iluminação brota da
causalidade,
e por essa razão eles ensinam o
veículo único.
Mas que estes fenómenos são parte de
uma Lei perpétua
e as características do mundo são
sempre manifestas -
isto eles ficaram a conhecer no lugar
da iluminação
e como líderes e mestres eles
utilizam meios hábeis.
Os Budas actuais das dez direcções,
a quem os seres celestiais e humanos
fazem oferendas,
que em número são como as areias do
Ganges,
apareceram no mundo
de modo a trazer a paz e o conforto
aos seres viventes,
e também eles ensinam a Lei desta
forma.
Compreendem a verdade original da
extinção tranquila
e por isso usam o poder dos meios
hábeis
e embora indiquem vários caminhos
diferentes,
na verdade fazem-no em prol do
veículo de Buda.
Eles entendem as acções dos seres
viventes,
os pensamentos que jazem no fundo das
suas mentes,
as acções cometidas no passado,
os desejos, a natureza, o poder dos
seus esforços,
se as suas capacidades são apuradas
ou fracas,
e assim empregam várias causas e
condições,
metáforas, parábolas e outras palavras
e frases,
adoptando quaisquer meios hábeis que
sejam adequados ao seu ensinamento.
Agora também sou assim;
por forma a trazer paz e conforto aos
seres viventes
emprego várias doutrinas diferentes
para disseminar a via de Buda.
Através do poder da minha sabedoria
sei a natureza e os desejos dos seres
viventes
e com meios hábeis exponho estas
doutrinas,
fazendo com que todos os seres
viventes alcancem contentamento e alegria.
Shariputra, deves compreender
que vejo as coisas através do olho de
Buda,
vejo os seres viventes nos seis
reinos,
quão pobres e angustiados são, sem
mérito ou sabedoria,
como entram na perigosa estrada do
nascimento e da morte,
os seus sofrimentos continuando sem
cessar,
quão profundamente apegados estão aos
cinco desejos,
como um iaque enamorado da sua cauda,
cegando-se com a ganância e a
presunção,
a sua visão deteriorada até nada
conseguirem ver.
Eles não procuram o Buda, com o seu
grande poder,
ou a Lei que pode pôr fim aos seus
sofrimentos,
mas embrenham-se em noções erróneas,
esperando libertar-se do sofrimento
com mais sofrimento.
Pelo bem destes seres viventes gero
uma mente de grande compaixão.
Quando no início ocupei o lugar da
iluminação,
pelo espaço de três vezes sete dias
ponderei este assunto,
fitando a árvore aí existente e
andando à sua volta.
A sabedoria que obtive, pensei,
é subtil, maravilhosa e suprema,
mas os seres viventes estão embotados
pela ignorância,
dependentes do prazer e cegos pela
estupidez.
Com pessoas como estas,
que posso dizer, como posso
salvá-las?
Nessa ocasião os reis Brama,
em conjunto com o rei celestial
Shakra,
os Quatro Reis Celestiais que guardam
o mundo
e o rei celestial Grande Liberdade,
na companhia de outros seres
celestiais
e das suas centenas de seguidores,
juntaram reverentemente as palmas das
mãos e prosternaram-se,
rogando-me que fizesse girar a roda
da Lei.
De imediato pensei para comigo
que se meramente louvasse o veículo
de Buda,
os seres viventes, atolados no seu
sofrimento,
seriam incapazes de acreditar nesta
Lei.
Assim, por rejeitarem a Lei e não
crerem nela,
cairiam nos três maus caminhos.
Seria melhor que não ensinasse a Lei
mas antes entrasse rapidamente no
nirvana.
Então os meus pensamentos viraram-se
para os Budas do passado
e para o poder dos meios hábeis por
eles empregues,
e pensei que a via que tinha então
alcançado
devia igualmente ser ensinada como
três veículos.
Quando assim pensei,
todos os Budas das dez direcções me
apareceram
e com sons Brahma confortaram-me e
instruíram-me.
“Muito bem, Shakyamuni!” disseram
eles.
“Supremo líder e mestre,
alcançaste a Lei insuperável.
Mas seguindo o exemplo de todos os
outros Budas,
empregarás o poder dos meios hábeis.
Nós também obtivemos a mais
maravilhosa, a suprema Lei,
mas em prol dos seres viventes
fazemos distinções e ensinamos os
três veículos.
Pessoas de pequena sabedoria
deleitam-se numa pequena Lei,
incapazes de acreditar que eles
mesmos se podem tornar Budas.
Por isso empregamos meios hábeis,
fazendo distinções e expondo vários
objectivos,
Mas ainda que ensinemos os três veículos,
fazemo-lo por forma a instruir os
bodhisattvas.”
Shariputra, deves entender isto,
quando ouvi estes santos leões
e a sua profunda, pura, subtil,
maravilhosa voz,
rejubilei e a chorar disse “
Homenagem aos Budas!”
Então pensei para comigo,
vim a este impuro e malévolo mundo
e de acordo com o que estes Budas
ensinaram,
devo agir segundo o seu exemplo.
Após ter tido estes pensamentos
segui de imediato para Varanasi.
As marcas da extinção tranquila de
todos os fenómenos
não podem ser expressas por palavras,
por isso usei o poder dos meios
hábeis
para ensinar os cinco ascetas.
A isto chamei “girar a roda da Lei”,
também utilizei os sons “nirvana”,
“arhat”, “Dharma” e “Sangha” -
vários termos para indicar
distinções.
“Desde há infinitos kalpas no passado
tenho elogiado e ensinado a Lei
do nirvana,
pondo fim ao longo sofrimento do
nascimento e da morte.”
Assim costumo ensinar.
Shariputra, deves saber isto,
quando olhei para os filhos de Buda,
vi incalculáveis milhares, dezenas de
milhar, milhões
que decidiram seguir a via de Buda,
todos com uma mente respeitosa e
reverente,
todos vindo ao encontro do lugar do
Buda,
pessoas que no passado ouviram outros
Budas
e ouviram a Lei ensinada segundo
meios hábeis.
De imediato pensei
que a razão do aparecimento do Tathagata
é ele poder expor a sabedoria de
Buda.
Agora é precisamente o momento para
isso.
Shariputra, deves compreender
que pessoas de fracas capacidades e
pequena sabedoria,
apegadas às aparências, orgulhosas e
arrogantes,
são incapazes de acreditar nesta Lei.
Agora , alegre e destemido,
ponho de lado francamente os meios
hábeis,
e exponho unicamente a Via
insuperável.
Quando os bodhisattvas ouvirem esta
Lei,
serão libertados de todas os
emaranhados da dúvida.
As doze centenas de Arhats,
também eles atingirão a Iluminação.
Seguindo o modelo que os Budas
dos três tempos
empregam para expor a Lei,
farei agora da mesma forma,
ensinando a Lei que é isenta de
distinções.
Os tempos em que os Budas aparecem no
mundo
são muito espaçados entre si
e difíceis de encontrar.
Mesmo quando aparecem no mundo
é-lhes difícil expor a Lei.
Através de incalculáveis, inumeráveis
kalpas
é raro esta Lei ser ouvida
e alguém capaz de a ouvir é
igualmente raro.
É como a flor da udumbara
que deleita o mundo, adorada por
todos,
olhada como rara por seres celestiais
e humanos,
e que aparece apenas uma vez em
muitas eras.
Se uma pessoa ouve esta Lei,
se deleita com ela e a louva,
mesmo que profira apenas uma palavra,
faz com isso oferendas a todos os
Budas dos três tempos.
Mas uma pessoa assim é rara de
encontrar,
mais do que a flor da udumbara.
Não deveis ter dúvidas,
sendo o rei das doutrinas,
faço esta proclamação a toda a grande
assembleia.
Emprego apenas a via do veículo único
para converter e instruir os
bodhisattvas,
não tenho discípulos ouvintes.
Tu, Shariputra,
e todos os ouvintes e bodhisattvas,
devem compreender que esta
maravilhosa Lei
é o segredo essencial dos Budas.
Neste mundo maligno das cinco
impurezas
esses que apenas se apegam aos
desejos
deleitando-se com eles,
seres viventes como esses,
no final nunca procurarão a via de
Buda.
Quando pessoas malévolas de eras
futuras
ouvirem o Buda expor o veículo único,
ficarão confusas, sem o acreditar ou
aceitar,
rejeitarão a Lei e cairão nos maus
caminhos.
Mas quando existirem pessoas modestas
e puras,
determinadas a procurar a via de
Buda,
então, para o bem deles,
devo louvar a via do veículo único.
Shariputra, deves entender isto,
assim é a Lei dos Budas.
Empregando dez mil, um milhão de
meios hábeis,
eles ensinam a Lei de acordo com o que
é apropriado.
Os que não são versados neste assunto
não podem compreender inteiramente.
Mas tu e os outros já sabem
como os Budas, os mestres do mundo,
empregam meios hábeis
de acordo com o que é apropriado.
Não tereis mais dúvidas ou
perplexidades
mas, com as mentes plenas de alegria,
sabereis que vós mesmos haveis de
atingir o estado de Buda.
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