sábado, 22 de setembro de 2012

A MEDITAÇÃO BUDISTA (continuação)


Um segundo comentário sobre o modo budista de meditação

Diz-se que uma diferença fundamental entre a meditação budista e outros métodos de meditação é o fato de se dirigir a ver as coisas como realmente são, enquanto que outras maneiras de meditar levam apenas à calma, ao relaxamento ou à concentração temporária ou no máximo à visão de outras realidades (mas ainda o mesmo tipo de visão relativa que temos agora). Não sei até que ponto isto é totalmente verdadeiro hoje, mas no tempo do Buda foi uma grande diferença. Antes de se tornar o Buda, Siddhatta foi discípulo de dois dos principais mestres da índia e tendo atingido a mesma realização daqueles, os mesmos não tinham nada mais além para ensinar. Siddhatta queixava-se que experimentava a paz suprema quando estava meditando, mas quando acabava, voltava a esse mundo e ainda havia sofrimento e ignorância. A sabedoria daquele estado superior não fazia muita diferença nesse mundo e ele não tinha encontrado o que saiu a procura, o fim do sofrimento humano e o caminho que conduziria a este fim.

Então até atingir o despertar Siddhatta não estava satisfeito e aquelas formas de meditação, embora o levassem a estados sublimes, não representavam o fim do sofrimento e da ignorância, nem para ele e nem para outros seres.

A meditação budista, Samatta-Vipassana, se distingue das demais por essa segunda característica. A primeira, Samatta, calma, tranquilidade, êxtase, relaxamento, satisfação, etc. é um estado que o meditante precisa alcançar para mais facilmente chegar ao segundo, Vipassana, que se traduz comumente como insight, ou seja, a compreensão clara da realidade é a experiência direta da mesma. Podemos ilustrar as duas fases como um lago onde constantemente são jogadas pedras e se formam ondulações, mexendo e turvando a água, misturando-a com o lodo do fundo. A primeira etapa, Samatta, é acalmar a água, não lançar pedras e esperar a água clarear; a segunda, Vipassana, é o insight, quando o lago acalma e a terra assenta podemos então ver com clareza o que não podíamos ver antes.

Alguns dizem que antes de Buda a meditação era apenas Samatta. Em sua busca incessante Siddhata descobriu um tipo de meditação eficaz, acessível aos vários tipos humanos, que parte daqui, desse mundo, daquilo em que estamos mergulhados, para a compreensão da realidade completa por trás dessa experiência; parte da compreensão da realidade mais imediata manifesta como nosso corpo, mente, sensações e fenômenos, para as realidades mais profundas do universo. O Buda ensina esse caminho que parte do conhecido para o desconhecido, do aparentemente particular para o universal. Não é uma revelação, ou inspiração de um deus ou deuses ou espíritos, mas um ver com os próprios olhos, um convite, o “venha e veja”; não é uma verdade revelada de cima pra baixo, mas ao contrário o praticante vai penetrando e comprovando por si mesmo, um método, um meio.

O que isso nos diz de concreto é que hoje temos um sistema de meditação detalhado, testado por milhares de anos por praticantes e que vem sendo comprovado como por inúmeras pessoas que colhem dos seus benefícios, conseguem vários insights cada vez mais profundos da realidade que se acumularão e lhes serão úteis por toda vida e ao longo da jornada. Qualquer um que esteja disposto a experimentar, a treinar e a dedicar-se a praticar experimentará transformações. Algumas logo, outras, mais profundas, com mais tempo de prática; e muitos insights ao longo do caminho sobre muitos aspectos. É também uma mudança de visão que se dá pelo mudar o modo de ver e como resultado dessa mudança, também uma mudança do modo de viver. Por outro lado o modo de viver apontado pelo Buda como o melhor deve também ser experimentado para que, sendo ele vivenciado, seja comprovada sua eficácia como melhor modo de viver e como aquele que elimina os obstáculos no caminho da luz.

É comum também ouvir-se que nesse sistema de meditação Buda ensinou quarenta tipos de meditação, ou oitenta maneiras de meditação que se adequarão aos tipos diferentes de mentalidade. De fato existem muitas maneiras de meditar no budismo, mas o importante é entender que há a pratica formal, sentado ou andando ou deitado ou em pé e a prática no dia a dia, de momento a momento, o máximo que conseguirmos de atenção plena sobre si mesmo e sobre os fenômenos, estar presente momento a momento. Uma fortalece a outra, a prática diária abre a visão do praticante e se isso acontecer com certa intensidade, logo a meditação deixa de ser um exercício e passa a ser um processo gratificante de iluminação gradual.

Assim logo no inicio poderão ser observados alguns resultados já no sentido de comprovar, ver por si mesmo e quiçá de transformação interior, que se aprofundarão e se multiplicarão ao longo da trajetória levando à segurança, à confiança e ao crescimento espiritual. Esta é seguramente uma característica diferencial do budismo, seu caráter inquiridor, comprobatório, de ver por si. Como dizia Buda quando perguntavam sobre certos temas que para as outras religiões eram artigos de fé: “venha e veja”.

Antonio F. Gonzaga

Digha Nikaya 22 - Mahasatipatthana Sutta

Os Fundamentos da Atenção Plena (continuação)

Este sutta foi condensado a partir da tradução completa do Digha Nikaya; Os suttas foram traduzidos do Pali para o inglês por Thanissaro Bhikkhu, Maurice Walsh, Bhikkhu Boddhi, Narada Thera e T. W. Rhys Davis; a tradução do inglês é de Michael Beisert e pode ser encontrada no www.acessoaoinsight.net .

Para distribuição gratuita como um presente do Dhamma
( 4. Os Sete Fatores da Iluminação )
42. “Novamente, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais (4) como objetos mentais referentes aos sete fatores da iluminação.[29] E como um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais referentes aos sete fatores da iluminação? Aqui, estando presente nele o fator da iluminação da (4.1) atenção plena, um bhikkhu compreende: ‘O fator da iluminação da atenção plena está em mim’; ou se o fator da iluminação da atenção plena não estiver presente nele, ele compreende: ‘O fator da iluminação da atenção plena não está em mim’; e ele também compreende (a) como estimular o fator da iluminação da atenção plena que não está estimulado e (b) como o fator da iluminação da atenção plena que está estimulado alcança a sua plenitude através do desenvolvimento.
“[Da mesma forma] Estando presente nele o fator da iluminação da (4.2) investigação dos estados[30] (...) Estando presente nele o fator da iluminação da (4.3) energia (...) Estando presente nele o fator da iluminação do (4.4) êxtase (...) Estando presente nele o fator da iluminação da (4.5) tranqüilidade (...) Estando presente nele o fator da iluminação da (4.6) concentração (...) Estando presente nele o fator da iluminação da (4.7) equanimidade (...).[31]
43. “Dessa forma ele permanece contemplando (...) E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. (...)
( 5. As Quatro Nobres Verdades )
44. “Novamente, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais em relação às quatro nobres verdades. E como um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais em relação às quatro nobres verdades? Aqui um bhikkhu compreende como na verdade é: (1) ‘Isto é sofrimento’; (...) (2) ‘Isto é a origem do sofrimento’; (...) (3) ‘Esta é a cessação do sofrimento’; (...) (4) ‘Este é o caminho que leva à cessação do sofrimento.’[32]
45. “E o que, amigos, é (1) a nobre verdade do sofrimento? O nascimento é sofrimento; o envelhecimento é sofrimento; a morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; não obter o que se deseja é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento.  
“E o que, amigos, é nascimento? O nascimento dos seres nas várias classes de seres, o próximo nascimento, o estabelecimento [num ventre], a geração, a manifestação dos agregados, a obtenção das bases para contato – a isto se denomina nascimento.
“E o que, amigos, é o envelhecimento? O envelhecimento dos seres nas várias categorias de seres, a sua idade avançada, os dentes quebradiços, os cabelos grisalhos, a pele enrugada, o declínio da vida, o enfraquecimento das faculdades – a isto se denomina envelhecimento.
“E o que, amigos, é a morte? O falecimento de seres nas várias categorias de seres, a sua morte, a dissolução, o desaparecimento, o morrer, a finalização do tempo, a dissolução dos agregados, o corpo deitado – a isto de denomina morte.
“E o que, amigos, é a tristeza? A tristeza, entristecimento, sofrimento, tristeza interior, arrependimento interior, de alguém que sofreu alguma desgraça ou que está afetado por alguma situação dolorosa – a isto se denomina tristeza.
“E o que, amigos, é a lamentação? O pranto e o lamento, chorar e lamentar, o choro e a lamentação de alguém que sofreu alguma desgraça ou que está afetado por alguma situação dolorosa – a isto se denomina lamentação.
“E o que, amigos, é a dor? Dor no corpo, desconforto corporal, a sensação dolorosa e desconfortável que surge do contato corporal – a isto se denomina dor.
“E o que, amigos, é a angústia? Dor mental, desconforto mental, a sensação dolorosa e desconfortável que surge do contato mental – a isto se denomina angústia.
“E o que, amigos, é o desespero? A confusão e o desespero, a tribulação e a desesperação de alguém que sofreu alguma desgraça ou que está afetado por alguma situação dolorosa – a isto se denomina desespero.
“E o que, amigos, é ‘não obter o que se deseja é sofrimento’? Para os seres sujeitos ao nascimento surge o desejo: ‘Ah, que nós não estivéssemos sujeitos ao nascimento! Que o nascimento não viesse para nós!’ Mas isto não pode ser obtido pelo desejo e não obter o que se deseja é sofrimento. [O mesmo] para os seres sujeitos ao envelhecimento (...) sujeitos à enfermidade (...) à morte (...) à tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero, surge o desejo: ‘Ah, que nós não estejamos sujeitos à tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero! Que a tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero não surjam para nós!’ Mas isto não pode ser obtido pelo desejo e não obter o que se deseja é sofrimento.
“E o que, amigos são os cinco agregados influenciados pelo apego que, em resumo, são sofrimento? Eles são: o agregado da forma material influenciado pelo apego, o agregado da sensação influenciado pelo apego, o agregado da percepção influenciado pelo apego, o agregado das formações influenciado pelo apego e o agregado da consciência influenciado pelo apego. Esses são os cinco agregados influenciados pelo apego que, em resumo, são sofrimento. A isto se denomina a nobre verdade do sofrimento.
46. “E o que, amigos, é (2) a nobre verdade da origem do sofrimento? É o desejo, que induz à renovação dos seres, que é acompanhado de prazer e cobiça e que sente prazer nisto e naquilo; isto é, (a) o desejo por prazeres sensuais, (b) o desejo por ser/existir e (c) o desejo por não ser/existir. [33]
“E onde surge e se estabelece esse desejo? Qualquer coisa no mundo que seja cativante e tentadora, nisso surge e se estabelece o desejo.
“E o que no mundo é cativante e tentador? O olho no mundo é cativante e tentador. O ouvido (...) O nariz (...) A língua (...) O corpo (...) A mente no mundo é cativante e tentadora, nisso surge e se estabelece o desejo. Formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo são cativantes e tentadores, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Consciência no olho, consciência no ouvido, consciência no nariz, consciência na língua, consciência no corpo, consciência na mente no mundo é cativante e tentadora,  nisso surge e se estabelece o desejo.
“Contato no olho, contato no ouvido, contato no nariz, contato na língua, contato no corpo, contato na mente no mundo é cativante e tentador, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Sensação tendo como condição o contato no olho, contato no ouvido, contato no nariz, contato na língua, contato no corpo, contato na mente no mundo é cativante e tentadora,  nisso surge e se estabelece o desejo.
“Percepção de formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentadora, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Intenção por formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentadora, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Desejo por formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Pensamento aplicado [34] às formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Pensamento sustentado [35] nas formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador, nisso surge e se estabelece o desejo. A isto se denomina a nobre verdade da origem do sofrimento.
47. “E o que, amigos, é (3) a nobre verdade da cessação do sofrimento? É o desaparecimento e a cessação sem deixar vestígios, é abrir mão, abandonar, soltar e rejeitar esse mesmo desejo. E como ocorre o abandono desse desejo, como ocorre a sua cessação?
“Qualquer coisa no mundo que seja cativante e tentadora, nisso ocorre a cessação. E o que  no mundo é cativante e tentador. O ouvido... O nariz... A língua... O corpo... A mente no mundo é cativante e tentadora, nisso surge e se estabelece o desejo. Formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo são cativantes e tentadores,  nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Consciência no olho, consciência no ouvido, consciência no nariz, consciência na língua, consciência no corpo, consciência na mente no mundo é cativante e tentadora,  nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Contato no olho, contato no ouvido, contato no nariz, contato na língua, contato no corpo, contato na mente no mundo é cativante e tentador, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Sensação tendo como condição o contato no olho, contato no ouvido, contato no nariz, contato na língua, contato no corpo, do contato na mente no mundo é cativante e tentadora, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Percepção de formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentadora, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Intenção por formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Desejo por formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Pensamento aplicado às formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Pensamento sustentado nas formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação. A isto se denomina a nobre verdade da cessação do sofrimento.
48. “E o que, amigos, é (4) a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento? É justamente este Nobre Caminho Óctuplo; isto é, entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta e concentração correta.[36]
“E o que, amigos, é (1) entendimento correto? (a) Entendimento do sofrimento, (b) entendimento da origem do sofrimento, (c) entendimento da cessação do sofrimento e (d) entendimento do caminho que conduz à cessação do sofrimento – a isto se denomina entendimento correto.
“E o que, amigos, é (2) pensamento correto? O (a) pensamento da renúncia, o (b) pensamento da não má vontade e o (c) pensamento da não crueldade – a isto se denomina pensamento correto.
 “E o que, amigos, é (3) linguagem correta? (a) Abster-se da linguagem mentirosa, (b) abster-se da linguagem maliciosa, (c) abster-se da linguagem grosseira e (d) abster-se de linguagem frívola – a isto se denomina linguagem correta.
“E o que, amigos, é (4) ação correta? (a) Abster-se de matar seres vivos, (b) abster-se de tomar o que não seja dado e (c) abster-se de conduta imprópria com relação aos prazeres sensuais – a isto se denomina ação correta.
 “E o que, amigos, é (5) modo de vida correto? Aqui um nobre discípulo, tendo abandonado o modo de vida incorreto*, ganha o seu pão através do modo de vida correto – a isto se denomina modo de vida correto.
 “E o que, amigos, é (6) esforço correto? Aqui um bhikkhu (a) gera desejo para que não surjam estados ruins e prejudiciais que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. Ele [do mesmo modo] (b) gera desejo de abandonar estados ruins e prejudiciais que já surgiram (...); (c) gera desejo para que surjam estados benéficos que ainda não surgiram (...); (d) gera desejo para a continuidade, o não desaparecimento, o fortalecimento, o incremento e a realização através do desenvolvimento de estados benéficos que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. A isto se denomina esforço correto.
“E o que amigos, é (7) atenção plena correta? Aqui um bhikkhu (a) permanece contemplando o corpo como um corpo, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele (b) permanece contemplando as sensações como sensações, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele (c) permanece contemplando a mente como mente, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele (d) permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. A isto se denomina atenção plena correta.
“E o que, amigos, é (8) concentração correta? Aqui, afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis, um bhikkhu (a) entra e permanece no primeiro jhana**, que é acompanhado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. (b) Silenciando o pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece no segundo jhana, que é acompanhado pela autoconfiança e unicidade da mente sem o pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos da concentração. (c) Com o desaparecer do êxtase, um bhikkhu permanece com a equanimidade, plenamente atento e plenamente consciente, ainda sentindo felicidade no corpo, ele entra e permanece no terceiro jhana, acerca do qual os nobres declaram: ‘Possui uma estada feliz aquele que é equânime e plenamente atento.’ (d) Com o abandono da felicidade e do sofrimento, e com o anterior desaparecimento da alegria e tristeza, um bhikkhu entra e permanece no quarto jhana, que possui nem felicidade, nem sofrimento e a atenção plena purificada devido à equanimidade. A isto se denomina concentração correta.
“A isto se denomina a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento.
(Insight)
49. “Dessa forma ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais internamente ou ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais externamente, ou ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais tanto interna como externamente. Ou então, ele permanece contemplando fenômenos que surgem nos objetos mentais, ou ele permanece contemplando fenômenos que desaparecem nos objetos mentais, ou ele permanece contemplando tanto os fenômenos que surgem como os fenômenos que desaparecem nos objetos mentais. Ou então, a atenção plena ‘de que existem os objetos mentais ’ se estabelece somente na medida necessária para promover o conhecimento e a atenção. E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais em relação às Quatro Nobres Verdades.
( Conclusão )
50. “Bhikkhus, qualquer um que desenvolver esses quatro fundamentos da atenção plena dessa maneira durante sete anos, um de dois resultados pode ser esperado: ou o conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’[37] se ainda houver algum resíduo de apego.
“Sem falar em sete anos, bhikkhus. Qualquer um que desenvolver esses quatro fundamentos da atenção plena dessa maneira durante seis anos... cinco anos... quatro anos... três anos... dois anos... um ano, um de dois resultados pode ser esperado: ou o conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’ se ainda houver algum resíduo de apego.
“Sem falar em um ano, bhikkhus. Qualquer um que desenvolver esses quatro fundamentos da atenção plena dessa maneira durante sete meses... seis meses... cinco meses... quatro meses... três meses... dois meses... um mês... meio mês, um de dois resultados pode ser esperado: ou o conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’ se ainda houver algum resíduo de apego.
“Sem falar em meio mês, bhikkhus. Qualquer um que desenvolver esses quatro fundamentos da atenção plena dessa maneira durante sete dias, um de dois resultados pode ser esperado: ou o conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’ se ainda houver algum resíduo de apego.
51. “Assim, foi em referência a isto que foi dito: ‘Bhikkhus, este é o caminho direto para a purificação dos seres, para superar a tristeza e lamentação, para o desaparecimento da dor e angústia, para alcançar o caminho verdadeiro, para a realização de Nibbana - isto é, os quatro fundamentos da atenção plena’”
Isto foi o que o Abençoado disse. Os bhikkhus ficaram satisfeitos e contentes com as palavras do Abençoado.
Notas:
[ 29 ] A maneira pela qual os sete fatores da iluminação se desdobram numa seqüência progressiva é explicada no MN 118.29-40. Para uma discussão mais detalhada veja Piyadassi Thera, The Seven Factors of Enlightenment.
[ 30 ] ‘Investigação dos Estados’, (dhammavicaya), significa o escrutínio por meio da atenção plena dos fenômenos físicos e mentais que se apresentam ao meditador.
[ 31 ] Os comentários explicam em detalhe as condições que conduzem à maturação dos fatores da iluminação. Veja The Way of Mindfulness pag. 134-149.
[ 32 ] A partir deste ponto o DN 22 faz uma análise detalhada das Quatro Nobres Verdades que não consta do MN 10. No entanto, o detalhamento da Nobre Verdade do sofrimento também pode ser encontrado no MN 141.
[ 33 ] O detalhamento da Nobre Verdade da origem do sofrimento, (verso 47), bem como da Nobre verdade da cessação do sofrimento, (verso 48), não constam do MN 141.
[34] Vitakka.
[35] Vicara.
[36] Igual ao MN 141.
[37] O conhecimento supremo, añña, é o conhecimento do arahant sobre a libertação final. Não retorno, (anagamita), é o estado de não retorno daquele que renasce num plano superior, onde ele atinge Nibbãna sem jamais retornar para o plano humano.
* N. O.: os meios de vida incorretos são listados normalmente como de quatro ou cinco tipos: 1. matança, tortura e comércio de seres vivos incluindo obviamente de seres humanos também; 2. negociar armamentos; 3. negociar venenos ou drogas; 4. roubo (que inclui outros meios de vida desonestos como fraude, estelionato, enganar as pessoas, etc. pode-se encontrar também notas de tradutores que incluem a agiotagem e advogar falsamente nessa lista). Quando há cinco é que se subdivide o 1 em comércio de carnes e comercio de seres vivos resultando em um a mais, mas também pode ser encontrada mais facilmente essa subdivisão como dois pontos diferentes e a ausência do número 4.
** N.O.: mais conhecido no ocidente pelo termo sânscrito dyana.

domingo, 16 de setembro de 2012

A MEDITAÇÃO BUDISTA


Um comentário sobre o modo budista de meditação

Um dos principais objetivos da meditação budista é o treinamento da atenção plena e da presença mental momento a momento que nos capacitará a ver as coisas como realmente são. Não se trata de obter o “êxtase inefável” ou a visita a “dimensões superiores” embora isso possa acontecer como “efeito colateral”, não devendo, entretanto, o meditante buscar nem se apegar a isso, porém aproveitá-lo no sentido do conhecimento da realidade (mesmo que de “outras” realidades), da mente e de si mesmo. Nem é tampouco o objetivo da meditação ficar calmo e passivo achando tudo maravilhoso e vendo um mundo cor de rosa, muito pelo contrário, a meditação vai mostrar a dura realidade da vida neste mundo, caracterizada pela inevitabilidade da insatisfatoriedade e do sofrimento, insubstancialidade e transitoriedade, mas também o meio de libertar-se dessas condições; mostrar que viemos num mundo de sonhos, apegados na maioria das vezes a coisas e sentimentos vãos; ainda como se nunca fossemos sofrer, adoecer, envelhecer e morrer deixando tudo isso para trás.
Essa visão nos desencanta da ilusão desse mundo e mostra que temos que fazer algo concreto para mudar nossa situação de sonhadores inconsequentes. Assim vamos deixando de buscar ardentemente coisas transitórias e passamos a buscar mais e mais o imperecível, o incondicionado.
Além do budismo não ser uma religião proselitista, não é uma crença que se pode aceitar e estar tudo resolvido, mas uma prática para todo instante da vida que exige esforço e estudo, talvez por isso se espalhe tão devagar. Entretanto os resultados dessa prática são tão claros e definitivos que hoje o budismo é praticado por cerca de um quarto da população do planeta. Realmente não é uma prática fácil ou para qualquer um, penso até que são muito poucos os que têm a força, a determinação, a disposição e a disciplina que a vivência budista exige, mas todos podem com o estudo e com o treinamento obter gradativamente algum proveito nesse sentido.
Há quem pense que o meditante está sempre num estado de paz e tranquilidade, mas nem sempre é assim... O ocidente costuma associar a meditação com passividade ou no mínimo como uma atividade maçante, e isso ocorre devido à ignorância do que se faz na meditação. Na verdade o meditante budista, em geral, tem muita atividade, muito o que fazer durante uma sessão de meditação. Contando só os procedimentos poderíamos ter uma idéia do quanto de atividade física e mental envolve a meditação budista. O sutta a seguir dá exatamente essa idéia ao descrever o que devemos fazer e como devemos proceder com cada parte do que iremos observar; também dá uma idéia do porque da meditação budista ser aprendida por partes, começando com um procedimento mais simples e básico ao qual se vai com o tempo de prática acrescentando mais elementos.
Neste sutta estão presentes os principais métodos de meditação ensinados pelo Buda. Os suttas foram escritos originalmente em pali e Buda provavelmente não falou tudo exatamente com essas palavras nem dessa maneira, esta é uma tradução e no pali existem muitas palavras que não existem nos idiomas ocidentais por isso a leitura das notas não deve ser de forma alguma deixada de lado, pois elas vão trazer explicação de termos em pali entre os quais alguns não têm correspondente em nossa língua, além de esclarecimentos fundamentais da doutrina budista.
Os textos budistas têm uma estética própria da cultura da época na índia e da própria sangha dos bhikkhus. Essa maneira é caracterizada especialmente por muitas repetições de frases e de partes das frases, ou fórmulas, ou sentenças que servem de esqueleto onde se encaixam algumas palavras variáveis. Um dos motivos disso foi para facilitar a memorização por parte dos praticantes. Nada melhor para entender a meditação budista do que os suttas, as palavras do Buda.
Nesse resumo foram suprimidas muitas dessas repetições que tornariam o texto mais longo, mas algumas foram deixadas para não prejudicar o sentido, nem perder o foco, a estética nem o contexto da sentença. Nele também existem seções que já estão resumidas originalmente, e que são temas extremamente essenciais no budismo e extensamente explorados em outros suttas, temas como os cinco agregados, os cinco obstáculos, as seis bases, os sete fatores da iluminação e as quatro nobres verdades.
Aqui estudaremos este sutta em duas partes: a primeira parte trata dos quatro fundamentos da atenção plena em seus detalhes e subfatores; a segunda parte trata dos sete fatores da iluminação e das quatro nobres verdades. Desejo que o conhecimento do Damma possa ser absorvido da melhor forma e proporcione os melhores benefícios possíveis ao leitor e penso que não há nada mais preciso e acertado que as palavras do próprio Buda para cumprir esse papel, ninguém mais capacitado para explicar o Damma do Buda que o próprio Buda. Que esse privilégio já que foi relativamente de poucos, dadas as dificuldades do passado e hoje se torna mais e mais ao alcance, possa ser devidamente apreciado levando a inspiração necessária a todos.
Antonio F. Gonzaga

Digha Nikaya 22 Mahasatipatthana Sutta

Os Fundamentos da Atenção Plena

Este sutta foi condensado a partir da tradução completa do Digha Nikaya; Os suttas foram traduzidos do Pali para o inglês por Thanissaro Bhikkhu, Maurice Walsh, Bhikkhu Boddhi, Narada Thera e T. W. Rhys Davis; a tradução do inglês é de Michael Beisert e pode ser encontrada no www.acessoaoinsight.net .

Para distribuição gratuita como um presente do Dhamma

1. Assim ouvi.[1] Certa ocasião, estava o Abençoado entre os Kurus numa cidade denominada Kammasadhamma.[2] Lá ele se dirigiu aos monges desta forma: “Bhikkhus.” – “Venerável Senhor,” eles responderam. O Abençoado disse o seguinte:
2. “Bhikkhus, este é o caminho direto[3] para a purificação dos seres, para superar a tristeza e a lamentação, para o desaparecimento da dor e da angústia, [3a] para alcançar o caminho verdadeiro, para a realização de Nibbana – isto é, os quatro fundamentos da atenção plena.[4]
3. “Quais são os quatro? Aqui, bhikkhus, um bhikkhu[5] permanece contemplando o corpo como um corpo, (a) ardente, (b) plenamente consciente e (c) com atenção plena, (d) tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.[6] Ele permanece [do mesmo modo] contemplando as sensações como sensações, (...) ele permanece contemplando a mente como mente, (...) ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais (...).[7]
( Contemplação do Corpo )
( 1. Atenção Plena na Respiração )
4. “E como, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo? Aqui um bhikkhu, dirigindo-se à floresta ou à sombra de uma árvore ou a um local isolado; senta-se com as pernas cruzadas, mantém o corpo ereto e estabelecendo a plena atenção à sua frente, [7a] ele inspira com atenção plena justa, ele expira com atenção plena justa.[7b] Inspirando longo, ele compreende : ‘Eu inspiro longo’; ou expirando longo, ele compreende: ‘Eu expiro longo.’ Inspirando curto, ele compreende: ‘Eu inspiro curto’; ou expirando curto, ele compreende: ‘Eu expiro curto.’[8] Ele treina dessa forma: (a)‘Eu inspiro experienciando todo o corpo [da respiração]’; (...) ‘Eu expiro experienciando todo o corpo [da respiração].’[9] (...) (b)‘Eu inspiro tranqüilizando a formação do corpo [da respiração]’ (...) ‘ Eu expiro tranqüilizando a formação do corpo [da respiração].’[10] Da mesma forma como um torneiro habilidoso ou seu aprendiz, quando faz uma volta longa, compreende: ‘Eu faço uma volta longa’; ou, quando faz uma volta curta, compreende (...) ele treina dessa forma: ‘Eu devo expirar tranqüilizando a formação do corpo.’
(Insight)
5. “Dessa forma ele permanece contemplando o corpo como um corpo internamente, ou (...) externamente, ou (...) tanto interna como externamente.[11] Ou então, ele permanece contemplando fenômenos que surgem no corpo, ou (...) fenômenos que desaparecem no corpo, ou (...) ambos (...). [12] Ou então, a atenção plena de que ‘existe um corpo’ se estabelece somente na medida necessária para o conhecimento e para a atenção.[13] E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo.
( 2. As Quatro Posturas )
6. “Novamente, bhikkhus, quando caminhando, um bhikkhu compreende: ‘Eu estou caminhando’; quando em pé, ele compreende: ‘Eu estou em pé’; quando sentado, ele compreende: ‘Eu estou sentado’; quando deitado, ele compreende: ‘Eu estou deitado’; ou ele compreende a postura do corpo conforme for o caso.[14]
7. “Dessa forma ele permanece contemplando o corpo como um corpo internamente, externamente, tanto interna como externamente (...) E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu se estabelece contemplando o corpo como um corpo.
( Plena Consciência [das ações] )
8. “Novamente, bhikkhus, um bhikkhu age com plena consciência ao ir para a frente e retornar;[15] (...) ao olhar para frente e desviar o olhar; (...) ao dobrar e estender os membros; (...) ao carregar o manto externo, o manto superior, a tigela; (...) ao comer, beber, mastigar e saborear; (...) ao urinar e defecar; age com plena consciência ao caminhar, ficar em pé, sentar, dormir, acordar, falar e permanecer em silêncio.
9. (...) “E ele se estabelece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu se estabelece contemplando o corpo como um corpo.
( 4. Impurezas – As Partes do Corpo )
10. “Novamente, bhikkhus, um bhikkhu examina esse mesmo corpo para cima, a partir da sola dos pés e para baixo, a partir do topo da cabeça, limitado pela pele e repleto de muitos tipos de impurezas, portanto: ‘Neste corpo existem cabelos, pêlos do corpo, unhas, dentes, pele, carne, tendões, ossos, tutano, rins, coração, fígado, diafragma, baço, pulmões, intestino grosso, intestino delgado, conteúdo do estômago, fezes, bílis, fleuma, pus, sangue, suor, gordura, lágrimas, saliva, muco, líquido sinovial e urina.’[16] Como se houvesse um saco com uma abertura em uma extremidade cheio de vários tipos de grãos, como arroz sequilho, arroz vermelho, feijões, ervilhas, milhete e arroz branco, e um homem com vista boa o abrisse e examinasse: ‘Isto é arroz sequilho, arroz vermelho, feijões, ervilhas, milhete e arroz branco’; da mesma forma, um bhikkhu examina esse mesmo corpo (...).
11. “Dessa maneira, ele permanece contemplando o corpo como um corpo internamente, externamente, tanto interna como externamente (...) E ele se estabelece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu se estabelece contemplando o corpo como um corpo.
( 5. Elementos )
12. “Novamente, bhikkhus, um bhikkhu examina esse mesmo corpo que, não importando a sua posição ou postura, consiste de elementos da seguinte forma: ‘Neste corpo há o elemento terra, o elemento água, o elemento fogo, e o elemento ar.’[17] Do mesmo modo, como se um açougueiro habilidoso ou seu aprendiz tivesse matado uma vaca e estivesse sentado numa encruzilhada com a vaca em pedaços; assim também um bhikkhu examina esse mesmo corpo (...).
13. “Dessa forma ele permanece contemplando (...) E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu se estabelece contemplando o corpo como um corpo.
( 6 – 14 As Nove Contemplações do Cemitério )
14. “Novamente, bhikkhus, (1) como se ele visse um cadáver jogado em um cemitério,[17a] um, dois, ou três dias depois de morto, inchado, lívido e esvaindo matéria, um bhikkhu compara seu corpo com ele: ‘Este corpo também tem a mesma natureza, se tornará igual, não está isento desse destino.’[18]
15. “Dessa forma ele permanece contemplando o corpo (...) E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu se estabelece contemplando o corpo como um corpo.
16. “Novamente, (2) como se ele visse um cadáver jogado num cemitério, sendo devorado por corvos, gaviões, abutres, cães, chacais ou vários tipos de vermes, um bhikkhu compara seu mesmo corpo com ele: ‘Este corpo também tem a mesma natureza, se tornará igual, não está isento desse destino.’
17. (...) “Assim também é como um bhikkhu se estabelece contemplando o corpo como um corpo.
18-24. “Novamente, bhikkhus, (3) como se ele visse um cadáver jogado num cemitério, um esqueleto com carne e sangue, que se mantém unido por tendões (...) (4) um esqueleto descarnado lambuzado de sangue, que se mantém unido por tendões (...) (5) um esqueleto descarnado e sem sangue, que se mantém unido por tendões (...) (6) ossos desconectados espalhados em todas as direções – aqui um osso da mão, ali um osso do pé, aqui um osso da perna, ali um osso da coxa, aqui um osso da bacia, ali um osso da coluna vertebral, aqui uma costela, ali um osso do peito, aqui um osso do braço, ali um osso do ombro, aqui um osso do pescoço, ali um osso da mandíbula, aqui um dente, ali um crânio - um Bhikkhu compara seu corpo com ele, portanto: ‘Este corpo também tem a mesma natureza, se tornará igual, não está isento desse destino.’[19]
25. (...) “Assim também é como um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo.
26-30. “Novamente, bhikkhus, (7) como se ele visse um cadáver jogado num cemitério, os ossos brancos desbotados, a cor de conchas (...) (8) ossos amontoados, com mais de um ano (...) (9) ossos apodrecidos e esfarelados convertidos em pó, um bhikkhu compara seu corpo com ele, portanto: ‘ Este corpo também tem a mesma natureza, se tornará igual, não está isento desse destino.’
(Insight)
31. (...) “E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um Bhikkhu se estabelece contemplando o corpo no corpo.
( Contemplação das Sensações [três tipos de sensações e duas categorias])
32. “E como, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando sensações como sensações?[20] Aqui, sentindo uma (1) sensação prazerosa, um bhikkhu compreende: ‘Eu sinto uma sensação prazerosa’[20a]; quando sente uma (2) sensação dolorosa, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação dolorosa’[20b]; quando sente uma (3) sensação nem prazerosa, nem dolorosa, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação nem prazerosa, nem dolorosa’.[20c] Quando sente uma (1.a) sensação prazerosa mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação prazerosa mundana’; quando sente uma (1.b) sensação prazerosa não mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação prazerosa não mundana’; quando sente uma (2.a) sensação dolorosa mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação dolorosa mundana’; quando sente uma (2.b) sensação dolorosa não mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação dolorosa não mundana’; quando sente uma sensação (3.a) nem prazerosa, nem dolorosa mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação nem prazerosa, nem dolorosa mundana’; quando sente uma (3.) sensação nem prazerosa, nem dolorosa não mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação nem prazerosa, nem dolorosa não mundana’
(Insight)
33. “(...) E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um bhikkhu permanece contemplando sensações como sensações.
(Contemplação da Mente [oito estados de mente de duas maneiras])
34. “E como, bhikkhus, um bhikkhu se estabelece contemplando a mente como mente?[22] Aqui um bhikkhu compreende a (1.a) mente afetada pelo desejo como mente afetada pelo desejo e a (1.b) mente não afetada pelo desejo como mente não afetada pelo desejo. Ele compreende a (2.a) mente afetada pela raiva como mente afetada pela raiva e a (2.b) mente não afetada pela raiva como mente não afetada pela raiva. Ele compreende a (3.a) mente afetada pela delusão como mente afetada pela delusão e a (3.b) mente não afetada pela delusão como mente não afetada pela delusão. Ele compreende a (4.a) mente contraída como mente contraída e a (4.b) mente distraída como mente distraída. Ele compreende a (5.a) mente transcendente como mente transcendente e a (5.b) mente não transcendente como mente não transcendente. Ele compreende a mente superável como (6.a) mente superável e a (6.b) mente não superável como mente não superável. Ele compreende a (7.a) mente concentrada como mente concentrada e a (7.b) mente não concentrada como mente não concentrada. Ele compreende a (8.a) mente libertada como mente libertada e a (8.b) mente não libertada como mente não libertada.[23]
(Insight)
35. “Dessa forma ele permanece contemplando a mente como mente internamente ou (...) como mente externamente, ou ele permanece contemplando a mente como mente tanto interna como externamente. Ou então, ele permanece contemplando fenômenos que surgem na mente, ou (...) que desaparecem na mente, ou ele permanece contemplando tanto os fenômenos que surgem como os fenômenos que desaparecem na mente.[24] Ou então, a atenção plena ‘de que existe a mente’ se estabelece somente na medida necessária para promover o conhecimento e a atenção. E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um bhikkhu permanece contemplando a mente como mente.
( Contemplação dos Objetos Mentais )
( 1. Os Cinco Obstáculos )
36. “E como, bhikkhus, um bhikkhu se estabelece contemplando os objetos mentais como objetos mentais? [25] Aqui um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais (1) como objetos mentais referentes aos cinco obstáculos.[26] (...) havendo nele (1.1) desejo sensual, um bhikkhu compreende: ‘Existe em mim desejo sensual’; ou não havendo nele desejo sensual, ele compreende: ‘Não existe em mim desejo sensual’; e ele também compreende (a) como se despertam os desejos sensuais que ainda não despertaram e (b) como acontece o abandono de desejos sensuais despertos e (c) como acontece para que desejos sensuais abandonados não despertem no futuro.[26a]
“[Da mesma forma (a, b e c) ele procede] (1.2) Havendo nele má vontade (...) (1.3) havendo nele preguiça e torpor (...) (1.4) havendo nele inquietação e ansiedade (...) (1.5) havendo nele dúvida (...).
(Insight)
37. “Dessa forma ele permanece contemplando (...). E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais.
( 2. Os Cinco Agregados )
38. “Novamente, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais (2) como objetos mentais referentes aos cinco agregados influenciados pelo apego.[27] E como um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais referentes aos cinco agregados influenciados pelo apego? Aqui um bhikkhu compreende: ‘Assim é a (2.1) forma material, assim é a sua origem, assim é a sua cessação; assim é a (2.2) sensação, assim é a sua origem, assim é a sua cessação; assim é a (2.3) percepção, assim é a sua origem, assim é a sua cessação; assim são as (2.4) formações, assim é a sua origem, assim é a sua cessação; assim é a (2.5) consciência, assim é a sua origem, assim é a sua cessação.’
39. “Dessa forma ele permanece contemplando (...) E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. (...)
( 3. As Seis Bases )
40. “Novamente, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais (3) como objetos mentais referentes às seis bases internas e externas.[28] E como um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais referentes às seis bases internas e externas? Aqui um bhikkhu compreende o (3.1) olho, ele compreende as formas e ele compreende o grilhão que surge na dependência de ambos; ele também compreende (a) como surge o grilhão que ainda não surgiu, (b) como se abandona o grilhão que já surgiu e (c) como o grilhão abandonado não surgirá no futuro.
“(3.2) [Da mesma forma] Ele compreende o (3.2) ouvido, ele compreende os sons e ele compreende o grilhão (...) (3.3) o nariz (...) os aromas (...) (3.4) a língua (...) os sabores (...) (3.5) o corpo (...) os tangíveis (...) (3.6) a mente (...) os objetos mentais (...).
41. “Dessa forma ele permanece contemplando (...) E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. (...)
Notas:
[ 1 ] Este é um dos suttas mais importantes no Cânone em Pali, contendo a explicação mais completa do caminho mais direto para alcançar o objetivo Budista. Um sutta praticamente idêntico é encontrado no MN 10, que no entanto apresenta uma análise mais resumida das Quatro Nobres Verdades. [Retorna]
[ 2 ] Alguns estudiosos afirmam que essa cidade se localizava nas proximidades de Deli. [Retorna]
[ 3 ] O texto em Pali diz ekayano ayam bhikkhave maggo, praticamente todos tradutores entendem que esta é uma declaração que sustenta que satipatthana é um caminho único. Dessa forma ele o Venerável Soma diz: ‘’Este é o único caminho (only way), Bhikhus,’’ e o Venerável Nyanaponika: ‘’Este é o único caminho (sole way), Bhikkhus’’. O Bhikkhu Nãnamoli no entanto destaca que ekayana magga no MN 12.37-42 tem o significado contextual preciso de “ um caminho que leva a uma única direção”, assim, ele também utilizou essa interpretação neste trecho. A expressão utilizada aqui, “o caminho direto”, tem como objetivo preservar o mesmo significado utilizando uma expressão mais resumida. MA explica ekayana magga como um só caminho, não como um caminho dividido; como um caminho que cada um deve trilhar, sem um companheiro; e como um caminho que leva a um objetivo somente, Nibbana. Embora o Cânone ou os Comentários não suportem esta opinião, pode ser sustentado que satipatthana é denominado ekayana magga, o caminho direto, para distinguí-lo da prática meditativa que passa pelos jhanas ou brahmaviharas. Embora estes últimos possam levar a Nibbana, não é o que necessariamente ocorre, podendo resultar em desvios do objetivo, enquanto que satipatthana conduz invariavelmente ao objetivo final. [Retorna]
[3a] Domanassa, que também pode ser interpretado como tristeza, desprazer; uma sensação de dor mental. [Retorna]
[ 4 ] A palavra satipatthana é um termo composto. A primeira parte, sati, originalmente significava ‘memória’, porém nos textos Buddhistas em Pali o significado mais freqüente é a qualidade da atenção dirigida ao momento presente - daí o termo ‘atenção plena’. A segunda parte é explicada de duas maneiras: ou como uma abreviação de upatthana, significando “preparando” ou “estabelecendo” (a atenção plena ); ou como patthana, significando “domínio” ou “fundamento” (novamente da atenção plena). Dessa forma ele os quatro satipatthanas podem ser entendidos ou como as quatro formas de estabelecer a atenção plena, ou como os quatro domínios da atenção plena, o que será elaborado em mais detalhe no restante do sutta. A primeira interpretação parece ser a derivação etimológica mais correta (confirmado pelo Sanskrito sm tyupasthana), porém os Comentaristas em Pali, embora aceitando ambas as interpretações, tiveram uma predileção pela última. [Retorna]
[ 5 ] MA define que neste contexto, “bhikkhu” é um termo que indica a pessoa que se dedica com  seriedade à prática dos ensinamentos: “Quem quer que empreenda esta prática…está incluído sob o termo ‘bhikkhu’”. [Retorna]
[ 6 ] A repetição na frase “contemplando o corpo como um corpo” ( kaye kayanupassi ), de acordo com MA, tem o propósito de determinar com precisão o objeto de contemplação e isolá-lo de outros com os quais possa ser confundido. Assim, na prática, o corpo deve ser observado como corpo e não as sensações, idéias ou sentimentos ligados ao corpo. A frase também significa que o corpo deve ser contemplado simplesmente como um corpo e não como um homem, uma mulher, um eu, ou um ser humano. As mesmas considerações se aplicam às demais repetições no caso dos outros três fundamentos da atenção plena. MA diz que “cobiça e desprazer” significam o desejo sensual e a má vontade que são os principais obstáculos, descritos mais abaixo no sutta, que precisam ser superados para que a prática seja bem sucedida.  [Retorna]
[ 7 ] A estrutura deste sutta é relativamente simples. Em seguida ao preâmbulo, o corpo do discurso se divide em quatro partes seguindo os quatro fundamentos da atenção plena:
                                 I.            Contemplação do corpo, que compreende catorze exercícios: atenção plena na respiração; contemplação das quatro posturas; plena consciência; reflexão acerca das impurezas do corpo; reflexão acerca dos elementos; e nove contemplações do "cemitério" - refletindo sobre corpos em diferentes estados de decomposição.
                                II.            Contemplação das sensações, considerado como um exercício.
                              III.            Contemplação da mente, também um exercício.
                              IV.            Contemplação dos objetos mentais, que possui cinco subdivisões - os cinco obstáculos; os cinco agregados; as seis bases dos sentidos; os sete fatores de iluminação; e as Quatro Nobres Verdades.
Dessa forma ele o sutta expõe no total vinte um exercícios de contemplação. Cada exercício por sua vez possui dois aspectos: o exercício básico, explicado primeiro, e uma seção complementar à respeito do insight (que é essencialmente a mesma para todos os exercícios), que indica como a contemplação deve ser desenvolvida para aprofundar o entendimento do fenômeno que está sendo investigado. Finalmente, o sutta conclui com um comentário do próprio Buddha em que ele assegura a eficácia do método declarando que o fruto colhido da prática será o estado de arahant ou de não retorno. [Retorna]
[7a] Isto é, na respiração à sua frente. [Retorna]
[ 8 ] A prática da atenção plena na respiração, (anapanasati), não envolve um esforço deliberado para controlar a respiração, como no hatha yoga, mas um esforço sustentado de manter a atenção na respiração enquanto ela se move para dentro e para fora, no seu ritmo natural. A atenção plena é dirigida às narinas ou ao lábio superior, aonde o impacto da respiração é sentido de maneira mais distinta; a extensão da respiração é compreendida porém não conscientemente controlada. O desenvolvimento completo deste método de meditação está exposto no MN 118. Para uma coletânea dos textos acerca deste assunto, veja Bhikkhu Nãnamoli - Mindfulness of Breathing. Veja também Visuddhimagga VIII, 145-244. [Retorna]
[ 9 ] MA: a frase “vivenciando todo o corpo [da respiração]”, (sabba-kãyapatisamvedi), siginifica que o meditador está consciente de cada inspiração e expiração subdivididas em suas três fases de começo, meio e fim. [Retorna]
[ 10 ] A “formação do corpo”, (kayasankhara), é definido no MN 44.13 como a inspiração e a expiração em si. Portanto, como explicado no MA, com o desenvolvimento adequado desta prática, a respiração do meditador se tornará cada vez mais calma, tranqüila e pacífica. [Retorna]
[ 11 ] MA: “Internamente”: contemplando a respiração no seu próprio corpo. “Externamente”: contemplando a respiração que ocorre no corpo de outra pessoa. “Internamente e externamente”: contemplando a respiração no seu próprio corpo e no corpo de outra pessoa alternadamente, sem interrupção da atenção. Uma explicação similar se aplica ao refrão que segue a cada uma das demais seções, exceto que na contemplação das sensações, mente e objetos mentais a contemplação externa, excetuando aqueles que possuem poderes supra-humanos, terá de ser inferida. [Retorna]
[ 12 ] MA: Os “fenômenos que surgem”, (samudayadhamma), são as condições pelas quais surgiu o corpo - isto é, ignorância, desejo, kamma e alimento - juntamente com o fato concreto do surgimento a cada momento de fenômenos materiais no corpo. No caso da atenção plena na respiração, um fator adicional de surgimento mencionado nos comentários é o aparelho fisiológico da respiração. Os “fenômenos que desaparecem”, (vayadhamma),  são a cessação das condições pelas quais surgiu o corpo e os demais fenômenos materiais no corpo. [Retorna]
[ 13 ] MA: Com o propósito de um conhecimento, (ñana), e atenção cada vez mais amplos e profundos. A palavra corpo, (kaya), ocorre com frequência neste sutta e deve ser interpretada de acordo com o seu contexto. Neste caso trata-se da seção da respiração. Portanto, a palavra corpo neste caso significa corpo da respiração. [Retorna]
[ 14 ] O entendimento das posturas do corpo, mencionado neste exercício, não se refere ao nosso conhecimento ordinário das atividades do corpo, mas à atenção minuciosa, constante e cuidadosa do corpo em qualquer posição, combinado com um exame analítico com a intenção de dissipar a delusão de um eu como o agente do movimento corporal. [Retorna]
[ 15 ] Sampajanna, traduzido como plena consciência ou clara compreensão. Os comentários analisam quatro tipos: (1) plena consciência do propósito, discernir um propósito benéfico na ação intencionada; (2) plena consciência da adequação dos meios utilizados, discernir que os meios utilizados para alcançar os objetivos são adequados; (3) plena consciência  do domínio, não abandonar o objeto da meditação durante a rotina diária; (4) plena consciência como não delusão, discernir que as próprias ações são processos condicionados desprovidos de um eu substancial. Veja The Way of Mindfulness, pág. 60-100; The Heart of Buddhist Meditation, pág.46-55; The Four Foundations of Mindfulness pág.50-59. [Retorna]
[ 16 ] Em obras em Pali posteriores o cérebro é adicionado a essa lista para formar as trinta e duas partes. Os detalhes dessa prática meditativa são explicados no Visuddhimagga VIII, 42-114. [Retorna]
[ 17 ] Esses quatro elementos são explicados na tradição Budista como os atributos primários da matéria - solidez, coesão, calor e distensão. A explicação detalhada é encontrada no Visuddhimagga XI, 27-117. [Retorna]
[17a] Cemitério neste caso se refere a um local onde os cadáveres são descartados, sem que sejam enterrados ou cremados. [Retorna]
[ 18 ] A frase “como se”, (seyyathapi), sugere que esta meditação e as demais a seguir, não necessitam tomar por base um corpo no estado de decomposição descrito mas, que podem ser realizadas como um exercício da imaginação. “Este corpo” se refere logicamente ao corpo do próprio meditador. [Retorna]
[ 19 ] Cada um dos quatro tipos de corpos mencionados aqui e os três tipos abaixo, podem ser tomados como uma meditação separada e independente; ou todo o conjunto pode ser usado progressivamente para imprimir na mente a idéia da impermanência e insubstancialidade do corpo. [Retorna]
[ 20 ] Sensações, (vedana), significam a qualidade emocional das experiências,  físicas e mentais, quer sejam prazerosas, dolorosas ou nem prazerosas nem dolorosas. Exemplos de sensações “mundanas” e “não mundanas” são encontrados no MN 137.9-15 sob o tópico dos seis tipos de alegria, tristeza e equanimidade baseados respectivamente na vida leiga e na vida santa. [Retorna]
[20a] Sukham vedanam: pode ser corporal ou mental. [Retorna]
[20b] Dukkham vedanam: também pode ser corporal ou mental. [Retorna]
[20c] Adukkhamasukham vedanam: apenas mental. [Retorna]
[20d] O meditador infere, ou sabe por meio da telepatia, as sensações dos outros. [Retorna]
[ 21 ] Os fenômenos que surgem e desaparecem nas sensações são os mesmos do corpo, (veja nota 12), exceto que o alimento é substituído pelo contato já que contato é a condição necessária para as sensações ( veja MN 9.42 ). [Retorna]
[ 22 ] A mente, (citta), como objeto de contemplação refere-se ao estado e nível geral da consciência. Já que a consciência propriamente dita, em sua natureza, é o simples conhecimento ou cognição de um objeto,  a qualidade de um estado mental é determinada pelos fatores mentais associados como desejo, raiva e delusão ou os seus opostos como mencionado no sutta. [Retorna]
[ 23 ] Os pares de exemplos de citta mencionados nesta passagem contrastam estados mentais benéficos e prejudiciais ou desenvolvidos e não desenvolvidos. Todavia uma exceção é o par “contraída” e “distraída”, em que ambos são prejudiciais, o primeiro devido à preguiça e ao torpor e o último devido à inquietação e ansiedade. MA explica que “mente transcendente” e “mente não superável” refere-se à mente no estado meditativo dos jhanas e das realizações ou jhanas imateriais; “mente não transcendente” e "mente superável” como a mente relativa à esfera da mente sensorial; “mente libertada” deve ser entendida como a mente que está parcialmente ou temporariamente livre das impurezas respectivamente através do insight ou dos jhanas. Já que a prática de satipatthana se refere à fase preliminar do caminho que tem por objetivo os caminhos supramundanos da libertação, esta última categoria não deve ser entendida como a mente libertada através do atingimento dos caminhos supramundanos. [Retorna]
[ 24 ] Os fenômenos que surgem e desaparecem na mente são os mesmos do corpo (nota 12) exceto que o alimento é substituído por mentalidade-materialidade, já que esta é a condição necessária para a consciência ( veja DN 15.22). [Retorna]
[ 25 ] A palavra aqui interpretada como “objetos mentais” é a polimorfa dhamma. Neste contexto dhamma pode ser entendido como todos os fenômenos classificados sob as categorias do Dhamma, os ensinamentos do Buddha acerca da realidade. Esta contemplação atinge o seu clímax com a compreensão completa do ensinamento que é o coração do Dhamma - as Quatro Nobres Verdades. [Retorna]
[ 26 ] Os cinco obstáculos, (pancanivarana), são o pricipal impedimento interno para o desenvolvimento da concentração e do insight. O desejo sensual surge ao dar atenção sem sabedoria a objetos atraentes e é abandonado pela meditação acerca das impurezas (como no verso10 e no verso 14-30); a má-vontade surge ao dar atenção sem sabedoria a um objeto que causa aversão, e  é abandonada com a meditação do amor-bondade; preguiça e torpor surgem através da submissão ao tédio e à preguiça, e são abandonados com o despertar da energia; inquietação e ansiedade surgem ao dar atenção sem sabedoria a pensamentos perturbadores, e são abandonados com a atenção com sabedoria para a tranqüilidade; a dúvida surge ao dar atenção sem sabedoria a assuntos suspeitos e é abandonada através do estudo, investigação e inquérito. Os obstáculos só serão totalmente erradicados com os caminhos supramundanos. Para um tratamento completo veja The Way of Mindfulness, pag. 119-130; Nyanaponika Thera, The Five Mental Hindrances; The Four foundations of Mindfulness pág. 96-111 e também MN 27.18 e MN 39.13-14. [Retorna]
[26a] DA identifica seis métodos para eliminar a o desejo sensual: (1) refletir sobre um objeto repulsivo (asubha); (2) desenvolver os jhanas visto que estes suprimem os obstáculos entre os quais está o desejo sensual; (3) Guardar as portas dos sentidos; (4) moderação ao comer; (5) o apoio de amigos admiráveis; (6) conversação apropriada. [Retorna]
[ 27 ] Os cinco agregados influenciados pelo apego, (panc’upadanakkhandha), são os cinco grupos de fatores que compõem a identidade de um indivíduo. Os agregados são analisados e explicados em relação à sua origem e desaparecimento no MN 109.9. [Retorna]
[ 28 ] As bases internas são, como foi mostrado, as seis faculdades sensoriais; as bases externas são os seus respectivos objetos. A cadeia que surge entre cada um dos pares pode ser entendida como atração, (desejo), aversão, (raiva) e delusão subjacente. [Retorna]