domingo, 25 de agosto de 2013

Compreendendo o Pensamento Correto


 

Seguindo com o nobre caminho óctuplo o segundo elemento é o pensamento correto, samma sankappo, também às vezes traduzido como reta compreensão. Em qualquer sentido se refere à postura correta, coerente com o dhamma, no modo de pensar, ou de encarar ou de compreender os fenômenos, a saber, cultivando o pensamento de generosidade, amorosidade e compaixão.

Na definição apresentada pela tradução do SN XLV.8 aparece esse pensamento em sua forma negativa, isto é, pensamento de renúncia, de não-crueldade e de não-má-vontade. O que é o pensamento de renúncia no budismo? Ao que o budista renuncia em sua forma de pensar? Nesse caso ele renuncia o que for oposto da generosidade, ele renuncia à cobiça, ele não alimenta pensamentos cobiçosos e sim os abandona.

Entenda-se por cobiça muito amplamente abrangendo inveja, ânsia, desejo ardente, ambição, ganância, mesquinhez, avareza, enfim, ele renuncia a um dos principais grilhões que o mantem prisioneiro ao sofrimento e às visões errôneas, ao lado da aversão e da ignorância. Cobiça nesse caso é o significado da palavra lobha, traduzida geralmente como cobiça ou paixão, mas seu significado mais exato seria uma sede ou ânsia insaciável, sem fim; é sinônimo de tanha, que literalmente significa sede.

Ainda sobre renúncia se costuma dizer também que o budista renuncia as ações prejudiciais do corpo da fala e da mente, mas isso convém mais a outro tópico mais a frente, em outro elemento do caminho óctuplo.

O pensamento correto se refere ainda a estar livre da má vontade, cultivando a boa vontade que pode ser desenvolvida através da amorosidade, da alegria altruísta e da equanimidade, que são três dos quatro brahmaviharas (moradas divinas) que são antídotos adequados para a hostilidade dos outros e para as tendências à raiva, ódio, irritação, aversão na própria mente.

As quatro moradas divinas são as supracitadas amorosidade (metta), que é o desejo de bem estar e felicidade para com o outro; compaixão (karuna), que é o desejo de livrar o outro do sofrimento; alegria altruísta (mudita), que é regozijo com as virtudes, alegrias e êxitos do outro; e equanimidade (upekkha), a atitude de imparcialidade desapegada com relação aos seres (não é apatia ou indiferença, mas uma atitude que alé de conter as anteriores é justa). A compaixão é o próximo elemento a que compõe o pensamento correto, é o pensamento que afasta a crueldade, é o pensamento de não crueldade. Podemos considerar a compaixão como um antidoto ao pensamento da incorreto da crueldade.

Além disso as quatro moradas divinas fazer parte do conjunto dos dez parami (também paramita) que são as dez perfeição de caráter. Um grupo de qualidades desenvolvidas, a saber, generosidade (dana), virtude (sila), renúncia (nekkhamma), sabedoria (pañña), energia (viriya), paciência (khanti), honestidade (sacca), determinação (adhitthana), amor bondade (metta), e equanimidade (upekkha). Essa discussão convem mais a outro tópico mais adiante.

Os pensamentos opostos do pensamento correto, se prestarmos atenção, ocupam boa parte de nossos pensamentos no dia a dia, nos tiram a atenção, tiram nossa energia, nossa alegira e nos estressam, obstruindo nossa visão e nossas capacidades. O pensamento correto, quando bem aplicado,é o remédio que vai corrigindo gradativamente todos esses problemasenos conduzindo gradualmente aos próximos elementos do nobre caminho óctuplo, fala correta e ação correta. Quando cada vez mais podemos ver que a palavra “correta” tem também o significado de precisa.

 

Pensamento Correto

Samma Sankappo

Pensamento Correto é o segundo dos oito elementos que compõem o Nobre Caminho Óctuplo e pertence ao grupo da sabedoria

 





 

Definição

"E o que é pensamento correto? O pensamento [1] da renúncia, [2] de estar livre da má vontade e [3] de estar livre da crueldade. A isto se chama pensamento correto."






Cultivando pensamentos hábeis

" E como alguém se torna puro de três formas pela ação mental? [1] É o caso em que alguém não é cobiçoso. Ele não cobiça as posses dos outros, pensando, 'Ah, que aquilo que pertence aos outros seja meu!' [2] A sua mente não possui má vontade e as suas intenções estão isentas de raiva: 'Que esses seres possam estar livres da inimizade, aflição e ansiedade! Que eles vivam felizes!’ [3] Ele tem entendimento correto e não vê as coisas de forma distorcida: ‘Existe aquilo que é dado e o que é oferecido e o que é sacrificado; existe fruto e resultado de boas e más ações; existe este mundo e o outro mundo; existe a mãe e o pai; existem seres que renascem espontaneamente; existem no mundo brâmanes e contemplativos bons e virtuosos que, após terem conhecido e compreendido diretamente por eles mesmos, proclamam este mundo e o próximo.’






A sua relação com os outros elementos do caminho

" E como é que o entendimento correto vem primeiro? A pessoa compreende pensamento incorreto como pensamento incorreto e pensamento correto como pensamento correto. E o que é pensamento incorreto? [1] O pensamento de sensualidade, [2] o pensamento de má vontade, [3] o pensamento de crueldade: isso é pensamento incorreto...

"A pessoa [1] faz o esforço para abandonar o pensamento incorreto e [2] penetrar no pensamento correto: Esse é o esforço correto da pessoa. A pessoa [1] com atenção plena abandona o pensamento incorreto e [2] penetra e permanece no pensamento correto: Essa é a atenção plena correta da pessoa. Dessa forma essas três qualidades - entendimento correto, pensamento correto e atenção plena correta – giram em torno do entendimento correto."






Dividindo o pensamento em duas categorias

“Bhikkhus, antes da minha iluminação, quando eu ainda era apenas um Bodisatva não iluminado, eu pensei: ‘E se eu dividisse os meus pensamentos em duas categorias.’ Então coloquei de um lado os pensamentos de desejo sensual, pensamentos de má vontade e pensamentos de crueldade; e coloquei do outro lado os pensamentos de renúncia, pensamentos de não má vontade e pensamentos de não crueldade.

“Enquanto assim permanecia, diligente, ardente e decidido, um pensamento de desejo sensual surgiu em mim. Eu compreendi desta forma: ‘Este pensamento de desejo sensual surgiu em mim. Isso conduz à minha própria aflição, à aflição dos outros e à aflição de ambos; isso obstrui a sabedoria, causa dificuldades, e afasta de Nibbana.’ Ao pensar: ‘Isto conduz à minha própria aflição,’ aquilo arrefeceu em mim; ao pensar: ‘Isto conduz à aflição dos outros,’ aquilo arrefeceu em mim; ao pensar: ‘Isto conduz à aflição de ambos,’ aquilo arrefeceu em mim; ao pensar: ‘Isso obstrui a visão, causa dificuldades, e afasta de Nibbana,’ aquilo arrefeceu em mim. Sempre que um desejo sensual surgia em mim, eu o abandonava, o removia, o eliminava.

“Enquanto assim permanecia, diligente, ardente e decidido, um pensamento de má vontade surgiu em mim…um pensamento de crueldade surgiu em mim. Eu compreendi desta forma: ‘Este pensamento de crueldade surgiu em mim. Isso conduz à minha própria aflição, à aflição dos outros e à aflição de ambos; isso obstrui a sabedoria, causa dificuldades, e afasta de Nibbana.’ Ao pensar: ‘Isto conduz à minha própria aflição,’ aquilo arrefeceu em mim; ao pensar: ‘Isto conduz à aflição dos outros,’ aquilo arrefeceu em mim; ao pensar: ‘Isto conduz à aflição de ambos,’ aquilo arrefeceu em mim; ao pensar: ‘Isso obstrui a visão, causa dificuldades, e afasta de Nibbana,’ aquilo arrefeceu em mim. Sempre que um pensamento de crueldade surgia em mim, eu o abandonava, o removia, o eliminava.

Bhikkhus, qualquer coisa na qual um bhikkhu pense e pondere com freqüência, essa passará a ser a tendência da sua mente. Se ele pensar e ponderar com frequência pensamentos de desejo sensual, ele terá abandonado o pensamento da renúncia para cultivar o pensamento do desejo sensual, e então a sua mente irá tender para os pensamentos desejo sensual. Se ele pensar e ponderar com frequência pensamentos de má vontade…pensamentos de crueldade, ele terá abandonado o pensamento da não crueldade para cultivar o pensamento da crueldade, e então a sua mente irá tender para os pensamentos de crueldade.

-- MN 19





Refletindo sobre as ações que praticamos

“Rahula, [I] quando você [1] quiser praticar uma ação com o corpo, você deveria refletir a respeito: [a] 'Esta ação corporal que quero praticar - conduzirá à minha própria aflição, à aflição de outros, ou ambos? [b] É uma ação corporal sem habilidade, com consequências dolorosas, resultados dolorosos?' Se, refletindo, você sabe que conduzirá à sua própria aflição, à aflição de outros, ou ambos; será uma ação sem habilidade com consequências dolorosas, resultados dolorosos, então qualquer ação corporal desse tipo é totalmente inadequada. Porém se refletindo, você sabe que [c] não causará a própria aflição, a de outros, ou de ambos, e que [d] será uma ação habilidosa com felizes consequências, felizes resultados, então qualquer ação corporal desse tipo é adequada.

"Também, Rahula, [2] enquanto você estiver praticando uma ação com o corpo, você deveria refletir a seu respeito: 'Esta ação corporal que estou praticando - conduzirá à minha própria aflição, à aflição de outros, ou ambos? É uma ação corporal sem habilidade, com consequências dolorosas, resultados dolorosos?' Se, refletindo, você sabe que conduzirá à sua própria aflição, à aflição de outros, ou ambos...você deveria desistir dela. Porém se refletindo você sabe que não é...você pode continuar com a ação corporal.

“Também, Rahula, [3] tendo praticado uma ação corporal, você deveria refletir a respeito ... se, refletindo, você sabe que conduziu à sua própria aflição, à aflição de outros, ou ambos; foi uma ação sem habilidade com consequências dolorosas, resultados dolorosos, então você deveria confessá-la, revelá-la, abri-la para o Mestre ou um sábio companheiro na vida santa. Tendo confessado...você deve exercer contenção no futuro.Porém se refletindo você sabe que não conduziu à aflição...foi um ação corporal habilidosa com conseqüências felizes, resultados felizes, então você deveria se sentir mentalmente renovado e contente, treinando dia e noite nos estados benéficos.

...[da mesma forma para ações [II] verbais e [III] mentais]...

" Portanto, Rahula, você deve treinar dessa forma: 'Eu purificarei minhas [I] ações corporais, [II] ações verbais e [III] ações mentais através da repetida reflexão."

-- MN 61





Amor bondade

"Aqui, bhikkhus, uma certa pessoa permanece com o coração [a] pleno de amor bondade permeando o primeiro quadrante com a mente imbuída de amor bondade, da mesma forma o segundo, da mesma forma o terceiro, da mesma forma o quarto; assim acima, abaixo, em volta e em todos os lugares, para todos bem como para si mesma, ela permanece permeando o mundo todo com a mente imbuída de amor bondade, abundante, transcendente, imensurável, [b] sem hostilidade e [c] sem má vontade."






Para si mesmo, para os outros

De duas pessoas que praticam o Dhamma de acordo com o Dhamma, tendo noção do Dhamma, tendo noção do significado – uma pratica tanto para o seu benefício como o benefício dos outros, e outra pratica para o seu próprio benefício porém não para o benefício dos outros - aquela que pratica para o seu próprio benefício porém não para o benefício dos outros deve ser criticada por isso, aquela que pratica tanto para o seu benefício como para o benefício dos outros deve ser elogiada por isso.”






 

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