quarta-feira, 27 de agosto de 2014

RELAXAR NAQUILO QUE OCORRE (RESUMO PRÁTICO)


            Quando estamos iniciando ou quando estamos num dia difícil de meditar esse tipo de meditação ajuda muito. O ideal é praticarmos todos os dias num horário determinado, se estamos determinados a treinar e progredir em nossa prática podemos ter dois ou três horários por dia ou se não for possível um horário determinado manter num horário mais flexível uma, duas ou três sessões de meditação por dia é um excelente começo.

            No início os períodos podem ser curtos, podendo ser de até 5 minutos. Porém o melhor é começar com dois ou três períodos diários de 10 ou 15 minutos. Existe uma pesquisa que mostra que o progresso na prática e o conforto chegam mais rápido quando se começa assim e vai gradativamente aos poucos aumentando o tempo, como um minuto por dia ou cinco por semana.

            É bom também que em um desses períodos o tempo seja maior, tentar 20 ou 30 minutos por exemplo. Se isso não for possível só, com um grupo de meditadores ou num centro budista ou com um amigo com certeza será mais reforçador. Aqueles que já têm prática podem também tentar num horário chegar a 45 minutos ou mesmo uma hora, pelo menos uma vez por semana. Nesse resumo temos uma dica sobre a postura e um maior conforto. Acrescento apenas que para os ocidentais pode ser difícil deixar a coluna reta numa superfície plana e como a coluna ereta é um aspecto importante da meditação sentada podemos adotar uma almofada que fique alta com cerca de 10 ou 20 cm depois que sentamos nela com os pés no chão. E uma leve inclinação para frente ajuda a equilibrar a posição.

 

 

Meditação segundo Chögyam Trungpa Rinpoche

 

1.apenas abrir a mente e relaxar. Quando distraídos pelos pensamentos, simplesmente deixar que eles se dissolvessem e voltar para o estado mental aberto e relaxado.

 

2. voltar muito levemente sua atenção para a expiração, à simples expiração normal, sem qualquer manipulação, a atenção suave, com um toque de leveza, cerca de 25% da atenção voltada para a respiração, de modo que ainda [seja] possível ter consciência do ambiente, sem considerá-lo como uma interferência ou obstáculo à meditação.  relaxar mais integralmente em nosso ambiente, apreciar o mundo mais integralmente em nosso ambiente, apreciar o mundo que nos cerca e a verdade simples que acontece a todos os momentos.

a expiração — impalpável e fluida, sempre em mutação, que não pode ser agarrada e que, mesmo assim, ocorre continuamente - é objeto da meditação . Quando inspiramos, é como se estivéssemos em uma pausa ou hiato. Não há nada especial a fazer, a não ser esperar pela próxima expiração.

estar aberto e relaxar, sem adicionar nada nem conceituar, voltando sempre à mente tal como ela simplesmente é — clara, lúcida e fresca.

 

3. colocar em nossos pensamentos o rótulo "pensando". dizer a nós mesmos "pensando" e, sem fazer disso algo muito importante, simplesmente voltar à expiração. Os pensamentos cruzam nossa mente o tempo todo e, quando sentamos, estamos dando a todos eles muito espaço para que surjam. Como nuvens em um céu amplo ou ondas em um vasto mar, estamos dando a todos os nossos pensamentos espaço para que apareçam. Quando um deles atrai nossa atenção e nos arrebata, quer seja agradável ou desagradável, devemos rotulá-lo "pensando", com toda a abertura e bondade que pudermos reunir, e deixar que ele se dissolva no amplo céu. Não há problema se as nuvens e ondas imediatamente retornam. Simplesmente reconhecemos sua existência mais uma vez, com amizade incondicional, rotulamos "pensando" e deixamos que elas se dissolvam continuamente. surge uma surpresa bem desagradável. Tudo bem. Quem seja assim. Não devemos rejeitar esse aspecto, mas compassivamente reconhece-lo como "pensando" e deixar que ela vá. Então — opa! — aparece uma surpresa muito agradável. Tudo bem. Que seja assim. Mais uma vez, não devemos nos apegar a esse aspecto, mas compassivamente reconhece-lo como "pensando" e deixar que ele vá.

o objetivo não é tentar livrar-se dos pensamentos, mas ver sua verdadeira natureza. Ficaremos dando voltas inúteis com nossos pensamentos se acreditarmos em sua solidez. Na verdade, eles são como imagens de sonho. São como uma ilusão — não são tão sólidos assim. são apenas pensamentos.


4. sobre postura, aplicar esforço durante a meditação nunca é uma boa idéia. não há problema em nos movimentarmos quando sentimos dores nas pernas ou nas costas. Entretanto, trabalhando com a postura correta, é possível estar bem mais relaxado e acomodado no próprio corpo por meio de ajustes muito sutis. Os movimentos amplos trazem conforto por cerca de cinco ou dez minutos e, em seguida, precisamos nos mover outra vez. os seis pontos da boa postura para conseguir realmente nos acomodar são:

  1. onde sentar: Quer você esteja sentado em uma almofada colocada no chão ou em uma cadeira, o assento deve ser plano, sem inclinação para a esquerda ou para a direita, para frente ou para trás.
  2. pernas: As pernas devem estar confortavelmente cruzadas à frente — ou, se estiver sentado em uma cadeira, os pés devem estar bem apoiados no chão e os joelhos afastados alguns centímetros.
  3. tronco: O tronco (da cabeça até o assento) deve estar ereto, com a parte posterior firme e a parte anterior aberta. Se estiver em uma cadeira, é melhor não se encostar Se você começar a encurvar, simplesmente sente ereto outra vez.
  4. mãos: As mãos ficam abertas, com as palmas para baixo, repousadas sobre as coxas.
  5. olhos: Os olhos permanecem abertos, indicando uma atitude de estar desperto e relaxado em tudo que acontece. O olhar dirige-se ligeiramente para baixo, para um ponto localizado aproximadamente dois metros à frente.
  6. boca: A boca fica levemente entreaberta, de modo que o maxilar relaxe, permitindo que o ar circule livremente pela boca e pelo nariz. A ponta da língua pode estar apoiada no céu da boca.

 Sempre que sentamos para meditar, podemos percorrer esses seis pontos e, quando nos sentirmos distraídos durante a meditação, podemos trazer nossa atenção de volta para o corpo e repassá-los. Então, com a sensação de estar recomeçando, voltamos mais uma vez à expiração.

Encontramos um tempo todos os dias e sentamos em nossa própria companhia. Voltamos à respiração continuamente, atravessamos o tédio, a irritação, o medo e o bem-estar. Essa perseverança e repetição — quando contêm honestidade, leveza, humor e bondade — são a própria recompensa.

 

Extraído do texto Relaxe Naquilo que Ocorre

(Chödrön, Pema. Quando tudo se desfaz: instruções para tempos difíceis.
Traduzido por Helenice Gouvêa. Rio de Janeiro: Gryphus, 1999. Pág. 137-147. Para adquirir o livro, clique aqui.)

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